A interação observada entre os dias após a concepção e a paridade destaca a complexidade da resposta das vacas à gestação e lactação subsequentes. Vacas primíparas e multíparas podem apresentar diferentes perfis de produção de leite e exigir abordagens de manejo distintas para otimizar a persistência na lactação.
Recentemente publicado no Journal of Dairy Science (Chen et al., 2024), um estudo sobre a associação entre dias após a concepção (DPC) e a persistência na lactação de bovinos leiteiros revelou insights cruciais para a gestão eficaz da reprodução e produção de leite. A pesquisa, baseada em dados de produção de leite de 23.908 vacas de 87 rebanhos na Holanda e na Bélgica de 2005 a 2022, destacou a complexidade de determinar o momento ideal de inseminação para cada vaca, considerando o impacto da gestação na produção de leite.
O estudo demonstrou que a persistência na lactação diminui durante a gestação, apresentando uma queda mais pronunciada em vacas multíparas em comparação com vacas primíparas. Além disso, observou-se que uma concepção mais tardia, resultando em mais dias em lactação no momento da concepção, está associada a uma maior persistência na lactação.
A persistência na lactação, definida como a capacidade da vaca de manter um declínio gradual na produção de leite após o pico de produção, desempenha um papel crucial na determinação do momento ótimo de inseminação. Atrasar a inseminação para vacas com alta persistência pode resultar em benefícios econômicos significativos, incluindo redução nos custos de alimentação, menor incidência de doenças metabólicas pós-parto e redução nas despesas veterinárias.
O estudo fornece uma base sólida para uma melhor compreensão de como os dias após a concepção e os dias em lactação no momento da concepção influenciam a persistência na lactação, capacitando os produtores de leite a tomarem decisões mais informadas sobre o manejo da reprodução em seus rebanhos. Essa pesquisa tem implicações importantes para a otimização da produção de leite e a saúde reprodutiva do rebanho, contribuindo para o avanço contínuo da indústria de laticínios.
Dados Disponíveis
Para este estudo, foram obtidos dados da produção diária de leite e informações sobre as vacas entre os anos de 2005 e 2022. Inicialmente, o conjunto de dados continha 95.529.301 registros de visitas ao robô de ordenha para 44.540 vacas (principalmente raça holandesa) Todos os registros incluíam informações gerais sobre as vacas (por exemplo, data de nascimento, data do parto, idade em dias e paridade) e produção de leite. O número de vacas lactantes por rebanho por ano variou entre 71 (percentil 5) e 320 (percentil 95), com uma média de 174 vacas (DP = 77, mediana = 163).
Variáveis
A variável resposta foi a persistência na lactação, definida como a porcentagem da produção de leite no 60º dia em comparação com a produção de leite no pico de lactação. O pico de lactação foi definido como o dia em que a produção de leite diária foi a mais alta e ocorreu entre os dias 5 e 100 em lactação.
A variável explicativa principal foi DPC, que foi definida como a diferença entre a data da concepção e a data do parto. A DPC foi categorizada em classes de 10 dias, exceto para o intervalo entre 20 e 50 DPC, que foi categorizado em classes de 5 dias. Uma variável adicional foi calculada, chamada de dias em lactação no momento da concepção (DLC), que foi definida como a diferença entre a data da concepção e o dia do parto. A DLC também foi categorizada em classes de 10 dias.
Resultados
Os resultados da análise revelaram uma relação negativa entre os dias após a concepção (DPC) e a persistência na lactação em bovinos leiteiros. Especificamente, constatou-se que uma concepção mais tardia está associada a uma maior persistência na lactação. Esse achado sugere que vacas que concebem mais tarde tendem a manter níveis mais elevados de produção de leite por um período prolongado após o pico de lactação, em comparação com aquelas que concebem mais cedo durante o período de lactação.
Além disso, a análise mostrou uma interação significativa entre os dias após a concepção (DPC) e a paridade das vacas. Isso indica que o efeito dos dias após a concepção na persistência na lactação varia de acordo com a paridade das vacas. Em outras palavras, o impacto dos DPC na produção de leite após o pico de lactação é modulado pela história reprodutiva das vacas, o que pode ser atribuído a diferenças nas respostas fisiológicas e metabólicas entre vacas primíparas e multíparas.
Figura 1. Visualização da interação entre os dias após a concepção (DPC) e o grupo de paridade em A) decaimento (*10³) com base em médias marginais estimadas do modelo; B) persistência com base na transformação direta (0.693/decaimento) do decaimento em A). Dados de 46.985 lactações (15.328 para vacas primíparas; 31.657 para vacas multíparas), 23.908 vacas e 87 rebanhos localizados em toda a Holanda e Bélgica de 2005 a 2022.
Figura 2. Visualização da curva de lactação dos dias pós-concepção × grupo de paridade incluídos no modelo. O decaimento foi baseado nas médias marginais estimadas do modelo. Outras características da curva de lactação (magnitude, tempo para alcançar o pico de produção e offset) foram definidas com base na média populacional por grupo de paridade. Os grupos de concepção são determinados com base no primeiro quartil, mediana e terceiro quartil dos valores de DIMc (78, 114 e 164). A linha vertical representa os dias em lactação na concepção. Cada curva de lactação é visualizada para 240 dias após a concepção. Dados de 46.985 lactações (15.328 para vacas primíparas; 31.657 para vacas multíparas), 23.908 vacas e 87 rebanhos localizados em toda a Holanda e Bélgica de 2005 a 2022.
Discussão
A associação entre os dias após a concepção e a persistência na lactação destaca a importância do manejo da reprodução na produção de leite e na saúde do rebanho leiteiro. A compreensão dos fatores que influenciam a persistência na lactação é essencial para otimizar a eficiência produtiva e econômica das fazendas leiteiras.
A descoberta de que uma concepção mais tardia está relacionada a uma maior persistência na lactação tem implicações práticas significativas para os produtores de leite. Atrasar a inseminação de vacas com alta persistência pode resultar em benefícios econômicos, como redução nos custos de alimentação, menor incidência de doenças metabólicas pós-parto e maior rentabilidade do rebanho.
A interação observada entre os dias após a concepção e a paridade destaca a complexidade da resposta das vacas à gestação e lactação subsequentes. Vacas primíparas e multíparas podem apresentar diferentes perfis de produção de leite e exigir abordagens de manejo distintas para otimizar a persistência na lactação.
É importante ressaltar que este estudo fornece insights preliminares sobre a associação entre os dias após a concepção e a persistência na lactação. Futuras pesquisas são necessárias para elucidar os mecanismos fisiológicos subjacentes a essa relação e desenvolver estratégias de manejo específicas para melhorar a persistência na lactação e a saúde reprodutiva do rebanho leiteiro.
Conclusão
Este estudo destaca a importância dos dias após a concepção na persistência na lactação de bovinos leiteiros. Os resultados fornecem insights valiosos para a gestão eficaz da reprodução e produção de leite, permitindo aos produtores de leite tomarem decisões informadas sobre o momento ideal de inseminação. Futuras pesquisas podem explorar ainda mais os mecanismos subjacentes dessa associação e desenvolver estratégias de manejo específicas para otimizar a persistência na lactação e a saúde reprodutiva do rebanho.
Por TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA, divulgado pelo Milk Point
Referências
Chen, Y., Steeneveld, W., Frankena, K., Leemans, I., Aardema, H., Vos, P. L. A. M., Nielen, M., & Hostens, M. (2024). Association between days post conception and lactation persistency in dairy cattle. Journal of Dairy Science, 0(0). https://doi.org/10.3168/jds.2023-24282
Gussmann, M., Denwood, M., Kirkeby, C., Farre, M., & Halasa, T. (2019). Associations between udder health and culling in dairy cows. Preventive Veterinary Medicine, 171. https://doi.org/10.1016/j.prevetmed.2019.104751
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