Conab quer baixar preço do arroz ao produtor, dizem entidades após divulgação de dados

A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul) e a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) emitiram nota conjunta no dia seguinte, apontando inconsistências nos números divulgados e acusando a Conab de usar os dados para pressionar o preço do arroz para baixo.

A divulgação do levantamento da safra 2024/25 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na última terça-feira (14), gerou críticas contundentes de entidades que representam os produtores de arroz no Rio Grande do Sul. A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul) e a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) emitiram nota conjunta no dia seguinte, apontando inconsistências nos números divulgados e acusando a Conab de usar os dados para pressionar o preço do cereal para baixo.

Segundo o levantamento da Conab, a área plantada de arroz no Rio Grande do Sul deve atingir 988 mil hectares, o que representa um crescimento de 6,4% em relação ao que foi projetado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que estima 927,8 mil hectares. Essa discrepância de 60 mil hectares é vista pelas entidades como um erro significativo, capaz de impactar tanto o mercado quanto a rentabilidade dos produtores.

De acordo com o presidente da Federarroz, Alexandre Velho, essa diferença pode significar uma produção adicional de 500 mil toneladas de arroz, o que afeta diretamente a formação dos preços no mercado. Ele criticou a Conab por desconsiderar dados já consolidados pelo Irga:
“Acredito que a Conab está usando o arroz de forma política na tentativa de baixar os preços do cereal, ou seja, está agindo de forma populista.”

Impactos econômicos e preço do arroz

As entidades também destacaram que a superestimativa da produção pela Conab não é novidade e tem causado problemas recorrentes ao setor. Em 2024, segundo a nota, o governo federal chegou a considerar a importação de arroz no valor de R$ 7,2 bilhões, com o objetivo de oferecer o produto a preços tabelados. As entidades refutaram essa iniciativa, afirmando que não houve desabastecimento no mercado interno em nenhum momento.

A nota da Federarroz e da Farsul tranquiliza os consumidores ao garantir que o Brasil produzirá mais arroz do que o necessário para atender ao consumo interno, obrigando o país a exportar o excedente. Contudo, elas alertam para os danos ao produtor: “Embora pareça que esses números são apenas técnicos, erros como esse podem custar bilhões de reais ao país, afetando tanto os produtores quanto a competitividade do arroz brasileiro no mercado internacional.”

As entidades afirmam que o governo, por meio da Conab, divulgou dados “equivocados” sobre a produção de arroz, inflando os números para 8.255,2 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul e 11.985,8 milhões de toneladas no Brasil. Essa superestimativa, segundo elas, teria o objetivo de influenciar os preços do cereal, trazendo potenciais prejuízos aos produtores, produtores, varejistas e, principalmente, aos consumidores.

“Comunicamos que, conforme dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) – órgão que realiza levantamentos de campo há décadas, ao contrário da Conab –, a área plantada de fato aumentou em relação a 2024, mas apenas 2,69%, e não os 9,7% divulgados erroneamente. Apesar de parecer um detalhe, esse erro pode gerar prejuízos bilionários ao país”, enfatizou.

Resposta da Conab

A Conab respondeu às acusações por meio de uma nota oficial. A autarquia defendeu a metodologia utilizada em seus levantamentos e ressaltou que há quase 50 anos realiza estudos agrícolas para subsidiar políticas públicas.

Segundo a nota, os números divulgados refletem a expectativa da produção com base no mês anterior à publicação do relatório, e novos levantamentos estão programados para os próximos meses, inclusive com o uso de tecnologias mais avançadas. A Conab informou que ampliou suas parcerias técnicas e firmou um acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para realizar o mapeamento da área cultivada no estado por meio de imagens de satélite.

“Com essa nova abordagem objetiva, poderemos dirimir quaisquer dúvidas relativas à área plantada de arroz, oferecendo informações mais confiáveis e detalhadas.”

A disputa por credibilidade

A principal crítica das entidades está na falta de alinhamento entre os números divulgados pela Conab e os dados do Irga, que realiza levantamentos diretamente no campo. Segundo Alexandre Velho, as estimativas do Irga já haviam sido ajustadas com base em condições adversas enfrentadas pelos produtores, como eventos climáticos que reduziram a área efetivamente semeada. Ele reforça que o órgão regional tem maior proximidade com a realidade dos produtores e, por isso, mais credibilidade.

“O Irga não trabalha com números especulativos. Ele ajusta as estimativas de acordo com a realidade vivida pelos produtores no campo, e a diferença em relação à Conab não pode ser ignorada.”

O futuro do arroz no Brasil

Com a continuidade desse embate, a preocupação das entidades é que ações governamentais baseadas em estimativas equivocadas prejudiquem a cadeia produtiva do arroz no Brasil. A superprodução artificialmente projetada pela Conab pode desestabilizar o mercado, pressionando ainda mais os preços pagos ao produtor, que já enfrentam margens reduzidas.

O setor agropecuário agora aguarda os próximos levantamentos e espera maior alinhamento entre as projeções da Conab e do Irga. Encontrar um consenso será fundamental para garantir a estabilidade da cadeia produtiva e a competitividade do arroz brasileiro no mercado interno e externo.

Resumo da controvérsia

  • A Conab estima uma área plantada de arroz no RS superior à do Irga, com uma diferença de 60 mil hectares.
  • Federarroz e Farsul afirmam que os dados estão superestimados e têm o objetivo de pressionar os preços para baixo.
  • A Conab rebate as acusações, destacando o uso de novas tecnologias, como imagens de satélite, para aprimorar seus levantamentos.
  • Entidades garantem que não há risco de desabastecimento no mercado interno, mas alertam para os impactos econômicos aos produtores.

Esse embate evidencia a necessidade de dados precisos e de políticas públicas alinhadas à realidade do campo, evitando prejuízos econômicos e sociais para a cadeia produtiva do arroz.

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