Brasil trabalha há anos para ampliar a cartela de clientes e justiça seja feita, o trabalho diplomático do Ministério da Agricultura tem se mostrado cada vez mais eficiente
Por Luciano Vacari* –– Os portos chineses se fecharam para a carne bovina brasileira. Após a suspeita de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), o chamado mal da Vaca Louca, imediatamente as exportações foram suspensas para o país asiático, como está previsto no protocolo. O problema é que, mesmo depois de confirmado que se trata de um caso atípico e, portanto, sem riscos à saúde humana, o comércio não foi restabelecido, as câmaras frigoríficas estão abarrotadas e pastos e confinamentos cheios.
Há cerca de três anos, a China ganhou importante participação no comércio internacional da nossa carne. A peste suína, na época, devastou o plantel asiático e consequentemente limitou a oferta da principal proteína consumida no país. Em substituição, a carne bovina brasileira entrou no mercado para matar o apetite chinês e o bifinho brasileiro caiu no gosto dos novos clientes.
Bom para eles, melhor para o Brasil. Em 2019, a receita proveniente das exportações de carne bovina para China somou US$ 2,68 bilhões, sem considerar Hong Kong. Um ano depois a movimentação saltou para US$ 4,03 bilhões e em 2021, de janeiro a agosto, a receita foi de US$ 3,12 bilhões, maior que a do ano todo em 2019. Atualmente, o mercado chinês consome cerca de 60% de toda carne brasileira exportada.
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Conquistar esse mercado não foi fácil. O Brasil trabalha há anos para ampliar a cartela de clientes e justiça seja feita, o trabalho diplomático do Ministério da Agricultura tem se mostrado cada vez mais eficiente. A política internacional tem sido prioridade dentro da pasta já há algum tempo e foi isso que nos garantiu acumular mais de 100 países parceiros. Fora, claro, a qualidade da nossa produção.
Mas e agora, o que fazer diante deste embargo?
Não é a primeira vez que o país passa por isso. Há alguns anos a Venezuela era um dos principais clientes da carne brasileira e com a crise do petróleo perderam renda e as exportações caíram sensivelmente. O mesmo aconteceu coma Rússia, que fechou as portas para nossas carnes após suspeita de uso de ractopamina, um aditivo utilizado para acelerar o ganho de peso nos animais.
Sempre quando episódios como esses acontecem, surgem suspeitas sobre o uso de argumentos técnicos para protecionismo econômico, numa tentativa dos governos estimularem o consumo da produção interna. Certeza sobre isso nunca teremos, mas com certeza podemos tirar importantes lições.
A diversificação de mercado é de suma importância para qualquer tipo de negócio, internacional então nem se fala. Questões sanitárias, políticas, econômicas, diplomáticas, tudo isso pode afetar as relações comerciais e estar preparado para alocar a produção para outros mercados é essencial.
O Brasil produz carne com excelência e tem potencial para atender os nichos mais exigentes. A nossa carne pode ser commodity, mas também pode ser premium, é preciso estar atento para adequar o pacote conforme a preferência do cliente. O que não podemos é colocar todos os ovos num cesto só. Lugar de carne é prato!
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria.