Como otimizar o uso da forragem na criação de bezerras leiteiras

A introdução de forragem na alimentação de bezerras leiteiras exige atenção criteriosa, não se trata apenas de adicionar fibra à dieta, mas de incorporar um elemento essencial para o desenvolvimento ruminal e para a construção de um futuro produtivo promissor

O início da vida de uma bezerra leiteira é um período decisivo para o sucesso da criação. Muito além do colostro e do leite, é o que acontece nas primeiras semanas que define como o rúmen irá se desenvolver e, com ele, a capacidade da novilha crescer de forma saudável, eficiente e produtiva.

Entre os pontos mais relevantes desse manejo nutricional está a introdução da forragem, um passo que, quando realizado no momento e na forma adequados, acelera a maturação ruminal e prepara a bezerra para desafios futuros — do desaleitamento ao desempenho reprodutivo.

Rúmen: de órgão inativo a centro da digestão

Logo após o nascimento, o rúmen ainda é subdesenvolvido, tanto em tamanho quanto em função. Nesta fase inicial, o leite é direcionado diretamente ao abomaso, enquanto o rúmen representa menos de um quarto da capacidade gástrica total. Para que esse compartimento se torne funcional, é necessário mais do que o tempo: é preciso estímulo.

E é aqui que a forragem entra em cena como um dos principais gatilhos para esse desenvolvimento. Ao promover a fermentação de carboidratos complexos, ela ativa a microbiota ruminal e estimula a formação de ácidos graxos voláteis (AGVs), como propionato e butirato — elementos-chave para o crescimento das papilas ruminais.

  • Propionato: essencial para a síntese de glicose no fígado.
  • Butirato: promove o desenvolvimento celular do epitélio ruminal.

Quando e como oferecer forragem?

Como otimizar o uso da forragem na criação de bezerras leiteiras
Foto: Divulgação

A introdução da forragem não deve ser feita de forma aleatória. O ideal é que ela ocorra de maneira gradual, acompanhando o início do consumo de concentrado. Tipos de forragens com boa palatabilidade, teor adequado de fibra e fácil fermentação, como o feno de gramíneas finas e de leguminosas, são mais bem aproveitados pelas bezerras nessa fase.

É fundamental encontrar o equilíbrio entre fibra e concentrado para garantir estímulo digestivo sem comprometer a ingestão de energia. O excesso de forragem pode reduzir o consumo total e atrasar o crescimento; já a ausência compromete a maturação do rúmen e gera distúrbios futuros.

Impactos zootécnicos de uma introdução bem planejada

Diversos estudos e observações de campo confirmam os benefícios diretos do uso estratégico da forragem na dieta das bezerras:

  • Aceleração do desenvolvimento ruminal: com aumento da motilidade gástrica e da atividade microbiana.
  • Melhoria no ganho de peso diário: bezerras bem nutridas ganham massa mais rapidamente.
  • Redução de distúrbios digestivos: como timpanismo, acidose e outros transtornos frequentes em dietas exclusivamente concentradas.

Vantagens fisiológicas e comportamentais

O papel da forragem vai além da nutrição. Seu fornecimento também desencadeia respostas fisiológicas que refletem diretamente na saúde e no bem-estar das bezerras:

  • Estabilidade do pH ruminal: a mastigação estimula a salivação, que contribui com bicarbonato natural, evitando acidose.
  • Melhora da motilidade ruminal: o movimento de mistura e esvaziamento gástrico é favorecido, otimizando a fermentação.
  • Saciedade e comportamento adequado: animais que ruminam mais tendem a apresentar menos comportamentos compulsivos, como sucção cruzada.

Preparação para o desaleitamento e desempenho a longo prazo

Ao preparar a bezerra para o consumo de dietas sólidas, a forragem facilita a transição alimentar durante o desaleitamento, reduzindo o estresse nutricional e garantindo a continuidade do crescimento. Essa adaptação precoce à fibra também influencia na idade à primeira cobertura, no desempenho reprodutivo e na produtividade futura da matriz.

Como otimizar o uso da forragem na criação de bezerras leiteiras
Foto: Divulgação

Como e quando oferecer forragem às bezerras: guia prático para uma introdução eficiente

A introdução de forragem na alimentação de bezerras leiteiras exige atenção criteriosa. Não se trata apenas de adicionar fibra à dieta, mas de incorporar um elemento essencial para o desenvolvimento ruminal e para a construção de um futuro produtivo promissor.

Mas nem toda forragem é apropriada para animais em fase inicial de vida. A escolha correta depende de uma combinação entre qualidade nutricional, segurança higiênico-sanitária e digestibilidade. E tão importante quanto o tipo é o momento certo para inseri-la no manejo alimentar.

Escolhendo a forragem ideal: critérios fundamentais

Ao selecionar a forragem para bezerras, alguns atributos são indispensáveis:

  • Boa digestibilidade: permite que os nutrientes sejam aproveitados com eficiência, sem sobrecarregar o rúmen em desenvolvimento.
  • Textura adequada: forragens macias facilitam a mastigação e não oferecem risco de lesões na mucosa bucal ou na parede ruminal.
  • Ausência de contaminações: material limpo, livre de fungos, corpos estranhos ou sinais de fermentação indesejada é indispensável para prevenir distúrbios digestivos e intoxicações.

Quando começar a ofertar forragem?

A cronologia da introdução é um fator-chave no sucesso dessa estratégia nutricional. Veja como escalonar esse processo de forma segura e eficaz:

  • A partir da segunda semana de vida: pequenas quantidades de feno macio e seco, como alfafa de boa qualidade, podem ser oferecidas para despertar o instinto de mastigação e incentivar a colonização microbiana no rúmen.
  • Entre a sexta e a oitava semana: quando o consumo de concentrado atinge em média 1 kg/dia, é possível aumentar gradualmente a oferta de forragem, sem comprometer a ingestão energética.
  • Após o desaleitamento: é o momento de ampliar a diversidade forrageira, introduzindo opções mais estruturadas, como silagem de milho, sempre de maneira progressiva para evitar sobrecargas ruminais.

Como fornecer forragem de forma eficiente: seis pontos-chave

Para que o uso da forragem gere resultados positivos, sua administração precisa seguir diretrizes técnicas que considerem tanto o ambiente quanto a fisiologia do animal.

  1. Invista na qualidade do material oferecido Feno com mofo, cheiro azedo ou presença de partículas grandes deve ser descartado. Um bom material é visualmente atrativo, possui cheiro agradável e apresenta textura uniforme.
  2. Estimule o consumo, mas não imponha O fornecimento deve ser ad libitum — ou seja, disponível à vontade. O objetivo é que a bezerra desenvolva o comportamento de ruminação por conta própria, respeitando seu ritmo fisiológico.
  3. Mantenha o equilíbrio entre energia e fibra Fibra em excesso pode diminuir a ingestão de concentrado, principal fonte energética da dieta nessa fase. O segredo é complementar, e não competir: a forragem deve entrar como coadjuvante, não protagonista.
  4. Água sempre acessível A presença de água fresca e limpa desde os primeiros dias de vida é essencial para a digestão dos alimentos e para o funcionamento adequado do rúmen. Mesmo em regime de aleitamento, o acesso irrestrito à água deve ser garantido.
  5. Acompanhe de perto o consumo Monitorar diariamente como a bezerra interage com a dieta é crucial. Mudanças no comportamento alimentar, rejeições ou excessos podem sinalizar a necessidade de ajustes no manejo.
  6. Ofereça condições adequadas de cocho e ambiente Bezerras criadas em grupo devem ter espaço suficiente para evitar disputas por alimento. O cocho precisa ser limpo, acessível e bem posicionado, evitando contaminações por fezes ou umidade.

Por que a forragem na criação de bezerros deve fazer parte do manejo nutricional desde cedo?

A inclusão bem planejada da forragem não apenas acelera o desenvolvimento do rúmen, como também melhora os índices de desempenho zootécnico das bezerras. Entre os principais benefícios, estão:

  • Redução de problemas digestivos;
  • Aumento do ganho de peso médio diário;
  • Melhor conversão alimentar;
  • Maior preparo para a transição à dieta sólida;
  • Antecipação da idade ao primeiro parto;
  • Resultados produtivos e reprodutivos superiores na fase adulta.

A aplicação dessas boas práticas exige conhecimento técnico, dedicação e acompanhamento constante. Mas o retorno compensa: bezerras bem nutridas se tornam vacas mais saudáveis, produtivas e economicamente vantajosas.

Escrito por Compre Rural

VEJA MAIS:

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM