Como o TCI pode auxiliar na avaliação de vacas recém-paridas?

Índice de Vacas em Transição utiliza informações já coletadas corriqueiramente na fazenda e não representa custo adicional ou mão-de-obra extra

Desenvolvido na Universidade de Wisconsin-Madison, EUA, pelo pesquisador Dr. Ken Nordlund, o Transition Cow Index® (TCI®) ou Índice de Vacas em Transição, avalia de maneira direta o manejo empregado durante o período de transição, comparando a produção de leite no primeiro controle leiteiro mensal após o parto com a produção de leite esperada, baseada na lactação anterior.

Período de transição

O período de transição, definido como três semanas antes do parto até três semanas após o parto, é considerado o período mais desafiador do ciclo produtivo de uma vaca leiteira. Isso se deve ao aumento das exigências nutricionais para a produção de leite e de colostro, diminuição do consumo de matéria seca, parto e fatores de manejo, como mudanças frequentes entre lotes.

Um período de transição malsucedido pode resultar em descartes involuntários causados por enfermidades no início da lactação. Após o parto, ocorre uma grande mobilização do organismo para atender as exigências crescentes de energia, glicose, aminoácidos e cálcio das vacas recém-paridas. Sabe-se que 30 a 50% das vacas leiteiras que parem sofrerão alguma desordem ou enfermidade infeciosa ou metabólica durante o período de transição, sendo esta apresentada de maneira clínica ou subclínica. Entre as doenças metabólicas subclínicas destacam-se a hipocalcemia e a hipercetonemia (ou cetose) subclínicas.

Durante o periparto, os animais tipicamente entram em um estado de balanço energético negativo (BEN), diminuem o consumo de MS e ocorre resistência à insulina. Esse quadro leva à lipólise e consequente perda de peso, além de depressão da imunidade. Todas estas doenças e ocorrências causadas pelo período de transição inadequado estão inter-relacionadas. Um exemplo disso é a hipocalcemia subclínica, em que a concentração de cálcio total é inferior a 8,0 mg/dL, e é considerada a “porta de entrada” para as demais enfermidades, além de impactar na eficiência reprodutiva do rebanho.

Todos os eventos metabólicos ocorridos durante o período de transição podem influenciar na saúde dos animais até 60-90 dias após o parto, o que pode afetar o desempenho produtivo e reprodutivo durante toda a lactação. 

Ferramentas de avaliação do período de transição

Um período de transição malsucedido acarretará em perdas econômicas significativas. Para evitar os prejuízos, se faz necessária a utilização de ferramentas de monitoramento que irão auxiliar a detectar e avaliar problemas de forma rápida e efetiva.

Inúmeras ferramentas foram criadas para medir o sucesso do período de transição em rebanhos leiteiros nos últimos 20-25 anos. Mesmo em rebanhos tecnificados, a avaliação do desempenho dos animais no período de transição se resume a um monitoramento das taxas de doenças e do crescimento (ou arranque) da produção de leite no início da lactação. Um alto percentual de vacas descartadas nos primeiros 60 dias após o parto também é indicativo de falhas no período periparto.

O Transition Cow Index® ou Índice de Vacas em Transição visa facilitar a vida dos produtores de leite, pois utiliza informações já coletadas corriqueiramente na fazenda e não representa custo adicional ou mão-de-obra extra. O índice, que permite avaliar a qualidade do período de transição tanto de vacas como de rebanhos, utiliza vários fatores para predizer ou estimar a produção de leite no primeiro controle leiteiro após o parto.

Transition Cow Index®

A necessidade de um método que previsse de maneira objetiva e precisa o desempenho de uma vaca leiteira no início da lactação, baseando-se em medidas do seu próprio desempenho passado e estado atual, fez com que a ferramenta do Transition Cow Index® fosse desenvolvida.

Descrito como a diferença entre a produção de leite real e a produção de leite prevista, os fatores utilizados para calcular a produção esperada no primeiro controle leiteiro incluem: produção de leite em 305 dias na lactação anterior, dias em leite (DEL) no primeiro teste (limitado ao intervalo de 5 a 45 DEL), DEL na lactação anterior, mês do parto, contagem de células somáticas (CCS) no último teste da lactação anterior, dias secos, frequência de ordenha na lactação atual e na lactação anterior e paridade (ou número de partos).

O resultado do TCI pode ser negativo ou positivo; quando negativo, indica que o animal produziu menos que o esperado, deixando de atingir seu potencial produtivo, considerando que cada animal é o seu próprio controle. Quando positivo, significa que o animal produziu além da expectativa, superando seu próprio potencial produtivo. Um TCI com valor zero significa que o animal produziu exatamente o que era previsto ou estimado.

Para entendermos melhor vamos exemplificar com três diferentes cenários. E para isso vamos imaginar uma boa vaca Holandesa, em sua segunda lactação, que produziu 40,0 kg de leite em seu primeiro controle leiteiro pós-parto.

1º cenário: a vaca apresentou um TCI positivo no valor de +5,0 kg/d. Isso indica que o período de transição para essa vaca foi bem sucedido e a produção foi 5 kg/d de leite superior ao esperado. Ou seja, com base nos dados dessa vaca esperava-se que ela produzisse 35 kg/d de leite no primeiro controle leiteiro da lactação, mas sua produção foi de 40 kg/d. É um sinal verde para as medidas que vêm sendo adotadas na propriedade, e indica que a vaca recebeu o suporte necessário no periparto para ser produtiva e saudável nessa fase.

2º cenário: o TCI é neutro, valor próximo a zero, indicando que a vaca produziu exatamente a quantidade de leite que era esperada. Nesse caso, a vaca não enfrentou problemas que foram suficientes para prejudicá-la, mas também não foi impulsionada para ser mais produtiva. Isso pode ser um sinal de alerta para a propriedade, indicando que a qualidade das medidas adotadas pode estar diminuindo, ou então que ainda há melhorias a serem implementadas.

3º cenário: O valor do TCI é negativo, por exemplo, -5,0 kg/d. Isso mostra que o período de transição desse animal não foi satisfatório, e que a produção de leite foi aquém do esperado. Nesse exemplo, a previsão era que essa vaca produzisse 45 kg/d de leite no primeiro controle leiteiro e não 40 kg/d. Nesse caso deve-se acender um sinal vermelho para o produtor, pois algo de errado aconteceu. Um resultado negativo pode ser consequência de falhas de manejo no pré e pós-parto, e também pode indicar vacas doentes, falhas no manejo e na nutrição, estresse calórico, sobrepopulação, ausência de dieta acidogênica no pré-parto, etc.

Recentemente, foi desenvolvido no Paraná o TCI nacional, resultado de uma parceria das Associações Paranaense e Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH e ABCBRH) e o Grupo do Leite da UFPR. Foram utilizados 130.943 primeiros controles mensais após o parto de 602 rebanhos paranaenses no desenvolvimento desta ferramenta. Dados reais de 4 grandes fazendas do Paraná foram utilizados para validar a equação desenvolvida. Produtores paranaenses em controle leiteiro oficial já recebem há um ano relatórios mensais com os resultados de TCI das suas vacas recém-paridas.

O TCI é uma ferramenta simples e que pode ser implementada na avaliação de rebanhos sem custos adicionais aos produtores, já que utiliza informações coletadas no controle leiteiro mensal das propriedades. E a sua utilização contribui para a evolução dos rebanhos leiteiros, auxiliando no diagnóstico do período de transição e indicando quais são os caminhos a serem tomados pelo produtor.

Fonte: Milk Point

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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