Veja o que fazer para amenizar os efeitos negativos do ambiente quente na produção leiteira. Confira no artigo abaixo!
*Por Oglênia Pereira Ramos e Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento
A seleção genética para alta produção leiteira parece ter como obstáculo a boa fertilidade dos animais, isso porque as vacas estão altamente produtivas, mas com os índices reprodutivos prejudicados. Tudo isso somado ao agravamento e as consequências do aquecimento global que deixa os dias mais quentes, parece ser um desafio que se torna cada vez maior. Estima-se que uma perda econômica anual de 900 milhões de dólares aconteça devido ao estresse por calor nas indústrias de laticínios dos Estados Unidos devido à redução da produção leiteira e da piora no desempenho reprodutivo e também por aumento nos descartes.
As respostas ao calor das vacas leiteiras dependem de sua intensidade e duração. As respostas agudas liberam catecolaminas e glicocorticoides, geram alterações metabólicas, entre outros. As respostas crônicas sinalizam a homeostase (processo para manutenção do equilíbrio corpóreo) e formam um novo estado fisiológico. As vacas perdem calor predominantemente por mecanismos físicos, são eles condução, convecção, radiação e evaporação.
Quando a temperatura ambiente está abaixo da temperatura corporal é formado um favorecimento térmico que permite a troca de calor do corpo para o meio ambiente. Quando a temperatura ambiente atinge ou excede a temperatura do corpo a dissipação de calor por condução, convecção e radiação não são suficientes para manter a temperatura normal e assim ela responde com alterações fisiológicas, comportamentais e metabólicas adicionais.
Sobre a evaporação ela é uma forma de perder calor e que durante períodos quentes, o suor e a respiração ofegantes são importantes mecanismos que auxiliam na manutenção da homeotermia. Também o sistema cardiovascular é um importante mecanismo de termorregulação, redistribuindo o fluxo sanguíneo, aumentando débito cardíaco e frequência cardíaca e também aumentando volume sanguíneo.
O comportamento das vacas também altera com as altas temperaturas como redução do tempo deitada, aumento do tempo em pé, redução do tempo de ruminação e aumento da ingestão de água. Vacas de alta produção tem como resposta inicial a redução no consumo alimentar.
E na reprodução? Como o estresse térmico pode afetar as vacas? Vários processos reprodutivos podem ser interrompidos direta ou indiretamente, gerando uma baixa taxa de concepção por alteração no eixo hipotálamo-hipófise-ovário. E os efeitos negativos gerados pelo estresse por calor podem ser duradouros, sendo necessários de dois a três ciclos estrais para a recuperação.
- CerealCred: nova solução de crédito para associados da Acebra em parceria com a Farmtech
- Prestes a realizar o maior leilão da história do Quarto de Milha, Monte Sião Haras adquire totalidade da égua mais cara do Brasil
- Região do Cerrado Mineiro avança no mercado global com leilão virtual
- Mudanças climáticas redesenham a agricultura brasileira
- Valorizada em R$ 20 milhões, Monte Sião Haras adquire Dinastia Apollo Roxo
O hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH) exercem funções essenciais para o crescimento do folículo, ovulação e desenvolvimento do corpo lúteo (CL). Com o estresse térmico presente, verifica-se um aumento nos hormônios do estresse, como o cortisol e desequilíbrio na secreção dos hormônios LH e FSH afetando a função ovariana do animal, gerando baixa foliculogênese e baixa competência oocitária, que é a capacidade do oócito de ser fecundado, se desenvolver e induzir uma gestação.
Por exemplo, a baixa secreção de LH gera prejuízos na ovulação, na maturação dos oócitos e na formação de um CL funcional. Já o aumento da secreção de FSH favorece o desenvolvimento dos folículos em número e isso pode estar associado às ovulações duplas e aos partos gemelares. Também há relação do estresse térmico com o estro, diminuindo sua duração e intensidade, devido à baixa produção do hormônio estradiol e isto também pode estar associado ao desenvolvimento de cistos ovarianos.
Os oócitos também são sensíveis a altas temperaturas. Aqueles que foram coletados durante o verão tiveram uma capacidade de desenvolvimento reduzida em relação aos coletados no inverno. A função lútea também é prejudicada por estresse térmico, pois as alterações na função lútea juntamente com a redução na concentração de progesterona durante o verão diminuem as chances de sobrevivência do embrião e aumentam as perdas embrionárias precoces. Além disso, os embriões pré-implantados em início de desenvolvimento são extremamente sensíveis ao estresse térmico. Todas essas alterações são citadas na figura 1.
O que fazer para amenizar esses efeitos negativos do ambiente quente sobre os índices reprodutivos? No verão, o uso de antioxidantes próximo ao parto é uma estratégia para melhoria do desempenho reprodutivo na lactação subsequente. Outras formas de diminuir os impactos do estresse por calor é utilizar métodos de resfriamento, fornecer sombra para evitar a radiação solar direta no animal, alimentos frescos, sombra nos comedouros e bebedouros, sistemas de ventilação, resfriamento evaporativo e tratamentos hormonais para preservar o bom funcionamento do corpo lúteo (considerando que a vaca é mantida em boas condições de temperatura corporal, nutrição e sanidade).
Utilizar sêmen refrigerado, inseminar nos meses com temperaturas mais próximas do conforto térmico especialmente as novilhas, seleção de animais termo-tolerantes, utilizar transferência de embriões também são estratégias de mitigação para alívio dos efeitos prejudiciais do estresse térmico.
Figura 1 – Vários efeitos do estresse térmico na reprodução das vacas (A a F). (Fonte: Adaptado de SAMMAD et al., 2020)
*Autores
- Oglênia Pereira Ramos – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, FAMEV-UFU
- Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento – Professora titular de Biometeorologia Animal na Universidade Federal de Uberlândia, FAMEV – UFU