Como o caroço de algodão reduz os custos na produção de vacas

Entre as diversas alternativas disponíveis no mercado para reduzir os custos na fazenda, destaca-se um subproduto, o caroço de algodão, que surge como uma opção viável como complemento alimentar para os animais; entenda

Cerca de 40% a 60% do custo total na produção de leite é direcionada à alimentação do rebanho. Diante desse cenário, os produtores estão constantemente em busca de opções mais econômicas capazes de aprimorar tanto as características qualitativas quanto quantitativas do leite. Entre as diversas alternativas disponíveis no mercado, destaca-se um subproduto proveniente da indústria têxtil, o caroço de algodão, que surge como uma opção viável como complemento alimentar para os animais

O caroço de algodão, um subproduto vital da produção de algodão, está disponível comercialmente em diversas formas, incluindo bruto (linter + casca + amêndoa), torta de algodão e farelo. Seu papel preponderante na alimentação de bovinos leiteiros é notável, proporcionando uma composição única de proteínas, energia e fibras em comparação com alternativas alimentares convencionais. Entenda mais sobre nesse artigo!

Na prática alimentar, o caroço de algodão é incorporado à dieta de vacas leiteiras para fornecer uma combinação equilibrada de fibra, energia e proteína. Além disso, é empregado como substituto eficaz de fontes convencionais de proteína bruta. A proteína presente no núcleo da semente de algodão, envolta pela casca e associada aos lipídeos, apresenta uma liberação retardada no rúmen, ampliando seus benefícios nutricionais.

Segundo estudos de Rogers, é recomendado limitar a inclusão do caroço de algodão inteiro a não mais que 0,5% do peso corporal ou 20% da dieta total para bovinos adultos, o equivalente a aproximadamente 4% de gordura na ração total. Essa orientação fundamenta-se em pesquisa conduzida por Moore et al. (1986), que destacaram a importância de manter essa quantidade como limite máximo de gordura para evitar impactos adversos na função ruminal em dietas baseadas em forragem. O consumo excessivo de gordura no rúmen pode afetar o desempenho animal e levar a níveis elevados de gossipol.

Foto: Divulgação

O que é Gossipol

Apesar das inúmeras qualidades do caroço de algodão, é importante destacar a presença de um fator anti-nutricional, o gossipol. O teor de gossipol livre (GL) pode variar de 0,5 a 1,0% na matéria seca, dependendo do cultivar.

O gossipol, um composto polifenólico de coloração amarela, é predominantemente encontrado nas glândulas pigmentares do algodoeiro, apresentando-se nas formas livre e ligada. Quando a semente de algodão está intacta, o gossipol é primariamente na forma livre, mas durante o processamento, ele se associa a proteínas, possivelmente ligando-se ao grupo épsilon-amino da lisina.

Em quantidades reduzidas, o GL não apresenta problemas significativos; no entanto, seu consumo em grandes quantidades ou por períodos prolongados pode resultar em lesões cardíacas e hepáticas em animais jovens.

O gossipol exerce um efeito anticoncepcional em animais reprodutores, levando alguns pesquisadores a desaconselhar a inclusão de derivados de algodão nas dietas de reprodutores machos. Estudos indicam que reprodutores que ingeriram níveis de GL de 0,1% na matéria seca durante dois meses apresentaram azoospermia (ausência de espermatozoide no sêmen) ou alterações na morfologia dos espermatozoides.

É relevante notar que muitos dos problemas associados ao gossipol podem ser atenuados quando a dieta é enriquecida com cálcio, uma vez que este mineral tem a capacidade de neutralizar o efeito do gossipol.

caroço de algodão
Foto: Divulgação

Valor nutricional

Uma investigação foi conduzida, envolvendo vacas em lactação, para avaliar o valor nutricional de diferentes fontes, como semente de algodão herbáceo, semente de algodão Pima quebrado e torta de algodão Pima extrusada, como substitutos do farelo de soja. Os resultados indicaram que a alimentação com maiores quantidades de óleo de semente de algodão resultou em um aumento significativo no teor de gordura do leite e no rendimento.

A composição proteica do leite foi impactada pelos diferentes tratamentos aplicados. Os pesquisadores observaram que as concentrações totais de gossipol, tanto os isômeros (+) quanto (-) do gossipol, eram mais elevadas no plasma sanguíneo quando a dieta incluía semente de algodão Pima quebrado, e menores na presença de torta de algodão Pima extrusada, em comparação com dietas correspondentes contendo semente de algodão herbáceo. Esses resultados indicam que o processo de extrusão contribuiu para a redução da absorção de gossipol.

No decorrer do experimento, a produção de leite e seus componentes em dietas suplementadas com semente de algodão herbáceo, semente de algodão Pima quebrado ou torta de algodão Pima extrusada foi equivalente àquela observada em dietas contendo proteína bruta do farelo de soja.

A proteína presente no caroço de algodão é digerida de forma gradual pelo animal, permanecendo no rúmen por um período prolongado. Essa característica é vantajosa para a sincronização da liberação de amônia e da cadeia de carbono, contribuindo para a eficiência do processo digestivo.

Composição

  • 92% de matéria seca;
  • 23% de proteína bruta;
  • 20% de extrato etéreo;
  • 44% de fibra em detergente neutro;
  • 4,80% de cinzas;
  • 0,21% de cálcio;
  • 0,64% de fósforo.

Como fornecer

Quanto ao fornecimento, o caroço de algodão, rico em óleo, requer uma abordagem cuidadosa. De acordo com Hopkins e colaboradores, é recomendável incluir entre 2-4 kg de matéria seca (MS) de caroço de algodão na dieta diária de vacas, considerando o elevado teor de gordura, que varia de 18 a 20% da MS. É aconselhável limitar a oferta de óleo proveniente de fontes vegetais a não mais que 700 g/vaca/dia, uma vez que o excesso pode desencadear intoxicação na microbiota ruminal, reduzindo a digestibilidade da fibra e da energia da dieta, além de causar diarréia no animal.

A introdução do caroço de algodão na dieta deve ocorrer de forma gradual, permitindo a adaptação tanto do animal quanto da microbiota ruminal. Fornecê-lo inteiro é crucial para estimular a ruminação, possibilitando a liberação lenta do óleo à medida que a ruminação acontece. Esse método minimiza os danos à microbiota intestinal, conferindo ao caroço destaque em comparação a outras fontes de óleo.

Para garantir o bom funcionamento do rúmen e a saúde do animal, a presença de fibras na dieta é fundamental. Recomenda-se um mínimo de fibra na alimentação de vacas em lactação para evitar a redução no teor de gordura do leite, especialmente em vacas de alta produção que demandam elevados níveis de concentrados para atender a todas as necessidades.

Armazenagem

Para garantir a qualidade de um caroço de algodão de primeira, é essencial que ele apresente firmeza, limpeza, aroma característico e coloração que varie entre branco e cinza claro. Após a colheita, é crucial armazená-lo em local seco e fresco, pois o excesso de umidade pode resultar no escurecimento do caroço, comprometendo sua qualidade. Além disso, a umidade excessiva pode reduzir a digestibilidade e levar à rancificação da gordura na semente.

Na propriedade, é indispensável adotar precauções, como manter os sacos em locais com boa ventilação e ausentes de umidade, além de protegê-los da exposição direta à luz solar. Este cuidado no armazenamento é vital para preservar as propriedades do caroço de algodão.

caroço de algodão
Foto: Divulgação

O caroço de algodão destaca-se como uma excelente opção alimentar, oferecendo índices notáveis de gordura, proteína e fibras. Devido ao seu custo competitivo, ele é amplamente utilizado em propriedades leiteiras, proporcionando resultados significativos na produtividade e desempenho dos animais. Contudo, é fundamental exercer cautela ao incorporar o caroço de algodão na dieta, evitando excessos que possam acarretar problemas para as vacas e a qualidade do leite.

Assim, a atenção dedicada à estocagem do alimento é crucial para preservar a qualidade do caroço de algodão, assegurando que ele permaneça como uma valiosa fonte nutricional.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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