É necessário observar que vários fatores podem afetar a eficiência alimentar dentro de um rebanho leiteiro. As vacas são diferentes uma das outras.
Entende-se como eficiência alimentar a relação entre a quantidade de leite produzida (kg leite), por unidade de alimento consumido (Kg de matéria seca ingerida). Monitorar a eficiência alimentar dos rebanhos leiteiros é particularmente importante, uma vez que os custos com alimentação correspondem a 40 até 60% dos custos totais da produção de leite.
É necessário observar que vários fatores podem afetar a eficiência alimentar dentro de um rebanho leiteiro, uma vez que as vacas não apresentam a mesma eficiência alimentar ao longo da sua vida produtiva e mesmo durante a lactação.
Vacas de primeira cria são menos eficientes que vacas adultas, uma vez que devem destinar parte dos nutrientes ingeridos para crescimento e ganho de peso. Vacas no início de lactação são mais eficientes em converter alimento em leite quando comparadas às em estágio mais avançado de lactação, sobretudo aquelas em final de gestação que necessitam direcionar parte dos nutrientes ingeridos ao crescimento do feto.
Para melhorar a eficiência alimentar de um rebanho é necessário buscar formas de se aumentar a digestibilidade total das dietas fornecidas aos animais, de forma que maior proporção dos nutrientes contidos nos alimentos seja aproveitada para produção de leite e menos sejam perdidos na urina, fezes, produção de gases e calor pelo animal.
Técnicos e produtores de leite se deparam com o seguinte dilema: para se atingir maiores produções de leite, as vacas devem necessariamente comer mais alimentos, de modo que produção e ingestão de matéria seca correm paralelamente na maioria das vezes. Por sua vez, digestibilidade e consumo não caminham juntos. Normalmente, quanto maior a ingestão de alimentos, mais rápida é a passagem destes pelo trato gastrointestinal e menor tende ser o tempo disponível para que ocorra digestão. Verifica-se, portanto, que aumentar a eficiência alimentar não é um trabalho tão simples.
Um dos métodos mais eficientes de aumentar a eficiência alimentar em rebanhos leiteiros é fornecer dietas aos animais que garantam máxima fermentação ruminal. Dietas bem equilibradas, contendo fontes e teores adequados de energia, proteína, com taxas de degradabilidade ruminal adequadas, teroes de fibra que garantam estabilidade do pH ruminal são pontos críticos para maximizar a taxa de crescimento das bactérias ruminais e aumentar a extensão e velocidade com que os alimentos sejam degradados por estes microrganismos.
O fornecimento de dieta total tende a reduzir problemas de alterações súbitas no pH ruminal e favorecer um ambiente mais favorável as bactérias ruminais, melhorando a digestibilidade da dieta. Porém, em sistemas a pasto, tal modalidade de alimentação é inviável, de modo que atenção especial deve ser dada com relação a quantidade de alimentos concentrados fornecidos por trato, evitando-se quantidades superiores a 2,5 kg de concentrado/trato. Obter forragem de mais alta qualidade também é importante porque diminuirá a quantidade de alimento concentrado a ser utilizado.
Outro ponto importante para otimizar a eficiência alimentar é evitar expor os animais à condições de estresse. Animais sob estresse térmico demandam mais energia para regular a temperatura corporal, reduzindo a energia que poderia ser utilizada para produção de leite.
Reduzida frequência de alimentação, pouca oferta de espaço de cocho, competição de animais de tamanho diferentes nos lotes, excesso de lama, são todas situações de estresse que devem prejudicar a eficiência alimentar. Dietas mal formuladas ou com concentrações inadequadas de minerais também podem expor as vacas à determinados distúrbios metabólicos que concorrem para reduzir a eficiência alimentar, como cetoses, acidoses, laminites, hipocalcemia, retenções de placenta entre outros.
Há uma gama de aditivos alimentares que podem ser usados para promover aumento da eficiência alimentar que serão abordados em outra resposta a seguir.
No que se baseia um sistema de alimentação eficaz?
Um sistema alimentar é eficaz quando permite adequado desempenho animal (atendimento das exigências nutricionais das diversas categorias do rebanho) e produção de leite com custos competitivos. Conforme já mencionado, a alimentação é o principal item no custo de produção do leite. Ouso dizer que não é possível se produzir leite sem um sistema de alimentação eficaz, simplesmente porque as contas não fecharão no final do ano.
O primeiro passo para obtenção de sistemas alimentares eficazes é compreender que a alimentação é apenas um dos componentes do sistema de produção e deve ser planejada em função de características dos recursos físicos de cada propriedade e dos recursos animais que se pretende explorar. Mais importante que definir se o sistema alimentar será confinamento total, semi-confinamento ou baseado em pastagens, é necessário o produtor planejar o sistema como um todo. Insisto nisso porque é um erro recorrente que tenho observado como consultor.
O produtor deve planejar quais recursos forrageiros permitirão suprir a demanda de forragem para o rebanho todo ao longo do ano e ser eficiente em produzir toda forragem com qualidade e máximo rendimento por área, barateando o custo de produção. Existe uma ampla gama de combinações de recursos forrageiros que podem ser usados de forma isolada ou combinada numa fazenda, porém dependendo dos recursos físicos existentes (condições de clima, solo e infraestrutura de máquina s e instalações da propriedade), algumas combinações são mais eficientes que outras.
Quando não se observa esse princípio, fatalmente há elevação dos custos de produção com forragem, falta de forragem ou necessidade de se corrigir tais problemas com uso excessivo de alimentos concentrados, que irá onerar ainda mais o custo de alimentação.
O segundo passo para se obter um sistema alimentar eficaz é utilizar tanto os alimentos volumosos quanto os concentrados com critério. Num rebanho leiteiro existem diferentes categorias animais e cada uma delas tem requerimentos nutricionais diferentes. Vacas em pico de lactação apresentam exigências nutricionais muito mais elevadas que vacas no final de lactação ou vacas secas. Desta forma, dividir o rebanho em lotes de acordo com suas exigências e alimentá-los de forma criteriosa de acordo com sua produção e necessidades nutricionais é outro ponto chave para redução de custos.
O terceiro passo e também muito importante é utilizar formulações de alimentos concentrados bem formulados e que tenham o menor custo possível. Os alimentos concentrados correspondem de 30 até 40% dos custos totais da atividade. Dessa forma, comprar de forma eficiente as matérias-primas para as formulações concentradas também deve ser uma constante preocupação. Produtores com maior escala de produção têm mais vantagens porque ao comprar volumes maiores, conseguem negociar preços melhores e baratear o custo com frete.
Mas pequenos produtores também podem fazer pool de compras, dividindo o volume entre eles. Outra forma de baratear custos é formar estoques para entressafra de grãos e utilizar subprodutos e/ou fontes alternativas para substituir matérias-primas quando há elevação dos preços. Deve se atentar também para o aspecto relacionado às facilidades do sistema alimentar, pois sistemas mal planejados demandarão mais mão de obra para serem operados e este é o item pode representar até 20% dos custos totais da atividade.
Quais tecnologias (novas, preferencialmente) empregadas na alimentação da vaca leiteira auxiliam no desafio do produtor de leite em fazer o gado comer mais e melhor, para a produção aumentar, com o máximo possível de redução dos custos?
Não existem fórmulas mágicas e o produtor não deve acreditar em produtos ou tecnologias milagrosas. Não existe o melhor capim, o melhor híbrido de milho, um suplemento mineral mágico. O produtor deve acreditar primeiro em trabalho sério, árduo, constante e adotar uma postura mais empresarial. Devem buscar tecnologias testadas e difundidas por órgãos, instituições de pesquisas e empresas sérias e idôneas.
Com relação específica à alimentação de vacas leiteiras, existem algumas tecnologias já difundidas e bastante testadas que tem mostrado resultados bastante satisfatórios.Dentre as possibilidades que técnicos e produtores podem utilizar, acredito que três merecem destaque: processamento dos alimentos, uso de subprodutos e uso de determinados aditivos.
O processamento de alimentos pode alterar sobremaneira a digestibilidade de certos componentes da dieta. Algumas formas de processamento de grãos, como a floculação ou ensilagem do grão úmido podem resultar num aumento da digestilidade do amido tanto no rúmen quanto no intestino, aumentando a eficiência alimentar e o teor de sólidos no leite. O mesmo é válido para alimentos volumosos. Silagens que sofrem algum tipo de processamento tendem a apresentar maior digestibilidade, pois os grãos de milho são cortados e ficam mais expostos ao ataque enzimático. A cana-de-açúcar quando tratada com cal virgem também tende a apresentar maior digestibilidade da fração fibrosa, enquanto a retirada das folhas e bainhas secas da cana antes do seu processamento também promove melhoria na digestibilidade.
Dentre os subprodutos, as pesquisas recentes tem demonstrado que a polpa cítrica, farelo de glúten de milho, resíduo de cervejarias, farelo de amendoim, farelo de girassol, caroço de algodão, casca de soja, entre outros podem substituir em parte as fontes tradicionais de energia (milho) e proteína (farelo de soja) na alimentação de bovinos leiteiros, permitido redução de custos sem redução do desempenho animal.
Com relação aos aditivos alimentares e hormônios, há uma grande gama de sustâncias que vem sendo pesquisadas nas últimas décadas visando proporcionar melhorias na alimentação de vacas leiteiras.
Vale a pena ressaltar alguns grupos de substâncias para as quais já há comprovação científica sobre sua eficácia como:
BST– somatotropina bovina: hormônio que atua na partição de nutrientes, aumentando a produção e persistência de lactação,
Ionóforos (monensina e lasolacida): que atuam no ambiente ruminal melhorando a fermentação ruminal, aumentando a produção de leite e ganho de peso, ajudando a reduzir cetoses, e também atuando como coccidesotáticos em bezerros.
Tamponantes (bicarbonato de sódio, óxido de magnésio), que atuam na manutenção do pH ruminal, evitando acidoses, morte de bactérias celulolíticas e auxiliando na manutenção do teor de gordura do leite.
Sais aniônicos (complexos de minerais ricos em Cloretos) que ajudam a prevenir hipocalcemia em vacas recém paridas.
Inoculantes: (complexo de leveduras e bactérias) que atuam na fermentação dos alimentos ensilados, promovendo mais rápida estabilização da fermentação, redução da temperatura, perdas de matéria seca e melhora da digestibilidade.
Leveduras: (cepas de leveduras específicas) que auxiliam e estimulam as bactérias celulolíticas, melhoram o ambiente ruminal e auxiliam na utilização de ácido láctico.
Vários desses aditivos já tem sido disponibilizados atualmente em núcleos e suplementos minerais-vitamínicos, facilitando o uso por parte dos produtores.
Há ainda uma ampla gama de aditivos que vem sendo testada, mas ainda em fase experimental que poderão permitir novos ganhos em eficiência alimentar, redução de distúrbios metabólicos, maior imunidade, entre outras funções. Como exemplos poderia citar o uso de enzimas fibrolíticas (aumento da digestibilidade da fração fibrosa dos alimentos) e complexos de amilase (aumento da digestibilidade do amido), niacina (coenzima que age no metabolismo energético e promete reduzir os casos de cetose), biotina (que age na prevenção de problemas de cascos e melhora a eficiência alimentar) e alguns tipos de probióticos.
Quais aspectos relacionados à nutrição influenciam a qualidade do leite?
A nutrição da vaca em lactação assume papel bastante importante com relação à qualidade do leite. A qualidade do leite compreende basicamente dois aspectos: um relacionado à contaminação microbiana e saúde da glândula mamária; e outro aspecto relacionado aos componentes da fração sólida do leite: (teores de gordura, lactose, proteína e minerais do leite). Isso ganha especial atenção, atualmente, porque várias indústrias lácteas têm implantado sistemas de pagamento por qualidade.
A contaminação microbiana está mais associada à higienização dos tetos, procedimentos de limpeza dos equipamentos de ordenha e com resfriamento do leite. Com relação a saúde da glândula mamária, a nutrição desempenha um papel importante. As vacas em lactação e em pré-parto são frequentemente expostas à processos de infecção e inflamação da glândula mamária, denominados mastite.
O leite de vacas com mastite é inadequado ao consumo humano, apresenta alterações na sua qualidade principalmente com relação às proteínas e minerais, tem menor rendimento industrial e maior carga microbiana. Vacas bem nutridas apresentam um aparato de defesa (sistema imunológico) mais forte, alerta e em melhores condições de combater essas infecções.
Atenção especial deve ser dada aos níveis de Se, Zn, Cu, Vit E e Vit A nas dietas das vacas leiteiras, pois esses minerais e vitaminas tem importantes funções tanto no aparato enzimático envolvido no sistema imunológico, como na integridade das membranas celulares da pele do teto e tecido mamário.
Com relação aos componentes da fração sólida do leite, a nutrição tem um papel ainda mais destacado. Muitos dos precursores dos componentes sólidos do leite tem sua origem em nutrientes provenientes direta ou indiretamente da dieta da vaca em lactação.
Em função da extensa e intensa modificação que os alimentos sofrem no rúmen e o complexo mecanismo de síntese do leite não há, no entanto, uma resposta direta das alterações pontuais na dieta sobre a composição do leite. Isso significa que não adianta aumentar o teor de proteína da dieta esperando um aumento proporcional no teor de proteína do leite, por exemplo. No entanto, as pesquisas no campo da nutrição de bovinos leiteiros avançaram muito nos últimos 20 anos e já é possível compreender muito mais sobre esse complexo assunto. Acredita-se que a nutrição é responsável por até 50% das alterações nos teores de gordura e proteína.
O assunto é bastante vasto, mas apenas para citar alguns exemplos, alterações na relação volumoso:concentrado podem provocar grandes alterações no teor de gordura do leite. Dietas com maiores teores de fibra tendem a proporcionar aumentos no teor de gordura do leite, ao passo que dietas muito ricas em grãos podem levar a redução do teor de gordura do leite.
A suplementação de vacas leiteiras com gorduras pode reduzir o teor de proteína do leite. Por outro lado, dietas com adequado conteúdo de carboidratos fermentáveis no rúmen podem promover aumento no fluxo de proteína microbiana para o duodeno com efeitos positivos no aumento da produção e no teor de proteína do leite. Também alterações quanto às fontes e quantidade de proteína da dieta podem promover alterações na produção e teor de proteína no leite.
As variações no teor de lactose (açúcar do leite) são de magnitude muito menor, devido ao seu papel preponderante como agente regulador osmótico do leite. No entanto, dietas mal formuladas com inadequados teores de energia e proteína podem causar reduções no fluxo de precursores de lactose para as células do tecido mamário, ocasionando menor produção de leite e ligeiras reduções na concentração de lactose. Reduções nas concentrações de lactose também estão associadas à ocorrência de mastite.
Fonte: STK EMPREEND. AGROPEC. LTDA