A utilização das pastagens para criação de bovinos sempre foi utilizada e tem ganhado força pelo menor custo que essa apresenta. Entretanto, a gestão e planejamento são importantes para garantir o lucro!
Dando sequência à série de artigos sobre produção animal em pasto nesta edição trataremos do tema “manejando o pastejo”.
1. Definindo termos
Há uma confusão entre os termos manejo da pastagem e manejo do pastejo, mas estes não são sinônimos. O manejo da pastagem é um conjunto de ações nos fatores solo (seu preparo, sua correção e adubação, sua irrigação …), planta (manejo do pastejo, melhoramento genético de plantas forrageiras, consorciação de pastagens, controles de pragas, doenças e de plantas invasoras …), animal (manejo do pastejo, suplementação e sanidade animal …) e meio ambiente (fontes de água, sombreamento, integração pastagem-lavoura-floresta ..), que visam o bem-estar e a produtividade da comunidade de plantas e do meio ambiente, enquanto o manejo do pastejo consiste no monitoramento e condução do processo de colheita da forragem produzida, pelos animais em pastejo (Da SILVA, 2009), ou seja, o manejo do pastejo é um dos componentes do manejo de uma pastagem. Esta seqüência de artigos compreende o tema manejo da pastagem, mas este artigo tratará do tema o manejo do pastejo.
2. Avanços da pesquisa nacional na área de manejo do pastejo:
Nas últimas duas décadas a pesquisa nacional na área da ciência de pastagem tem avançado consideravelmente em razão de: adoção de protocolos e procedimentos experimentais que foram validados pela pesquisa internacional em pastagens temperadas, desde as décadas de 50 e 80; concentrou-se a pesquisa com animais em pastejo em vez da condução de experimentos em canteiros e casa de vegetação, onde a planta é submetida a cortes, como fora no passado; o foco da pesquisa passou a concentrar-se na busca da eficiência do processo de pastejo buscando elevado aproveitamento da forragem produzida aumentando a eficiência de colheita, colher forragem de alta qualidade e transformar a forragem colhida em produto animal (leite ou carne); os resultados daquelas pesquisas revelaram padrões dinâmicos de acúmulo de forragem, muito semelhantes àquele descrito originalmente para forrageiras temperadas, variando apenas o valor absoluto das taxas dos processos observados (crescimento, senescência1 e acúmulo de forragem), além de um padrão semelhante de resposta dos animais em pastejo; outro avanço significativo tem sido no conhecimento do comportamento de animais em pastejo e o ambiente pastoril (escala espacial de pastejo); tornou-se evidente que o método de pastoreio2,3 (lotação continua ou lotação alternada ou lotação rotacionada4) constitui apenas uma ferramenta do manejo do processo de pastoreio, mas o determinante do processo produtivo, de fato, é a quantidade de forragem ofertada e a estrutura de sua apresentação ao animal; o uso de metas de pasto (altura) são ferramentas poderosas para o controle do processo de pastejo (determinantes dos períodos de ocupação e de descanso dos piquetes, etc.); hoje já se tem parâmetros de metas de pasto para a maioria das gramíneas forrageiras exploradas em pastagens no Brasil.
3.Respostas de plantas forrageiras e de animais a diferentes condições do pasto:
As respostas de plantas e animais podem ser compreendidas e um ponto de equilíbrio ótimo entre ambos pode ser encontrado se práticas ou estratégias de manejo fossem planejadas e idealizadas tomando por base como plantas e animais respondem a variações em estrutura dos pastos, verdadeiro elo e ponto de convergência dos processos envolvidos na produção animal em pastagens (SILVA; NASCIMENTO JÚNIOR, 2007).
3.1. Respostas de plantas forrageiras:
a) Em pastoreio de lotação continua com taxas de lotação variáveis5: em pastos baixos, a produção liquida de forragem é baixa devido à baixa produção de folhas, enquanto que em pastos de altura média, a produção torna-se relativamente constante e próxima do máximo, em uma faixa de diferentes alturas. Em pastos altos, a produção liquida é diminuída devido à alta taxa de morte de folhas.
b) Em pastoreio de lotação rotacionada: O conceito de índice de área foliar crítico (IAF crítico), condição na qual 95% da luz solar incidente é interceptada pelo relvado, originalmente descrito e aplicado com sucesso em plantas de clima temperado, se mostrou efetivo e válido também para gramíneas tropicais. Devido à dificuldade em se adotar a mensuração da interceptação luminosa como critério de manejo do pastejo em condições de campo (depende de instrumentação sofisticada), se usou a altura do relvado (altura do pasto) que se revelou como sendo um parâmetro consistente para substituir a interceptação luminosa independente da época do ano, altura de resíduo e estádio fisiológico da planta forrageira.
3.2. Respostas de animais:
A forma como o animal reage às variações estruturais do pasto compõe o que se conhece por comportamento ingestivo em pastejo (CARVALHO et al., 2009). A estrutura do pasto é, ao mesmo tempo, causa e conseqüência do processo de pastejo. Neste contexto, manejar o pasto é uma arte, que pode ser vista pela criação de ambientes ideais ao processo de pastejo.
a) Em pastoreio de lotação continua com taxas de lotação variáveis: as respostas de animais em pastejo em termos de consumo de forragem e desempenho animal estão correlacionadas com variações em estrutura de relvado6, sendo que, de forma geral o consumo e o desempenho aumentam com aumentos em altura do relvado, a massa de forragem, o resíduo pós-pastejo ou a oferta de forragem (SILVA; CORSI, 2003). O aumento, contudo, tende a um limite especifico para espécie e categoria animal.
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b) Em pastoreio de lotação rotacionada: os pastejos iniciados com 95% de interceptação de luz (IAF critico) pelo relvado resultam em forragem com valores mais elevados de proteína bruta e digestibilidade, consequência de uma maior proporção de folhas e menores proporções de caules e material morto na massa de forragem em pré-pastejo. O maior valor nutritivo traz respostas significativas no desempenho animal (ganho em peso ou produção de leite), quando os animais entram nos piquetes no momento adequado, ou seja, com altura adequada do pasto comparado com o manejo convencional adotado pela maioria dos produtores, com base em dias fixos de descanso e de ocupação.
4. E o futuro da pesquisa na área de manejo do pastejo:
ainda existem lacunas no sentido de definir estas metas de pasto para importantes plantas forrageiras, tais como Andropogon gayanus (em pastejo de lotação rotacionada); B. decumbens (em pastejo de lotação rotacionada); B. brizantha cv. MG 4 e Piatã; B. humidicola e B. dictyoneura; B. ruziziensis (em pastejo de lotação continua e rotacionada); capim-buffel (em pastejo de lotação continua e rotacionada); capim-tifton 85 (em lotação rotacionada), apenas para relacionar algumas. Outra lacuna é a falta de informação sobre metas de pasto em pastagem consorciada (gramíneas e leguminosas);
Esperam-se avanços consideráveis nos próximos 10 anos, com a adoção e aplicação dos conceitos de pecuária de precisão em trabalhos de pesquisa com animais em pastejo, a saber: uso do controle remoto, de cochos e aguadas; informações sobre a posição dos animais obtidos com GPS; balanças automáticas instaladas em locais estratégicos dentro dos piquetes para registro da identidade, peso e temperatura e separação de animais para tratamento ou para comercialização; uso de cercas virtuais baseadas em tecnologias de GPS e Wifi; pedômetros e “transponders” para avaliar o estado sanitário e a ocorrência de cio nos animais e registradores de movimentos mandibulares.
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Na próxima edição, na parte 2 deste artigo serão apresentados os ganhos em produção de forragem e em desempenho animal em pastagens submetidas ao manejo do pastejo em diferentes condições do pasto.
1 Senescência: envelhecimento
2 Método de pastoreio: é apenas o procedimento ou técnica de manejo do pastoreio, idealizado para atingir objetivos específicos. Referente à estratégia de desfolha e colheita de forragem pelos animais.
3 Pastoreio: refere-se à ação antrópica (do homem) de condução do processo de pastejo (CARVALHO et al. 2009b).
4 Lotação continua: um lote de animais pastejando um piquete; Lotação alternada: um lote de animais pastejando dois piquetes alternadamente; Lotação rotacionada: um ou dois lotes de animais pastejando no mínimo três piquetes.
5 Taxa de lotação variável: usa-se a técnica do “put and take” (põe e retira animais do piquete) para manter a condição de pasto desejada.
6 Estrutura do relvado ou do pasto: É a forma como a forragem é apresentada ao animal (SILVA, 2009), e pode ser caracterizada pelas variáveis massa de forragem, altura, densidade dos horizontes, cobertura de solo, relação folha:colmo, distribuição espacial (CARVALHO et al. 2009b). A estrutura do pasto afeta a profundidade e a área do bocado, afetando o consumo de forragem (SILVA, 2009).
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Fonte: Scot Consultoria