Quando o rebanho leiteiro fica infestado por carrapatos, a dor de cabeça do produtor é grande por conta dos prejuízos. Veja!
Os animais começam a emagrecer, diminuem a produção de leite, não têm o rendimento esperado e chegam ao extremo de morrer. O problema é grave mas as soluções podem ser mais simples do que se pensa!!!. É preciso ser certeiro na escolha do tratamento, conhecer bem o inimigo e corrigir os erros mais comuns nesse combate. Mas também é preciso saber que o controle de carrapatos em vacas de leite é uma condição instável e que demanda monitoramento constante. Isso porque, a presença de muito carrapato é ruim, mas pouco carrapato é ruim também, já que colaboram com a produção de anticorpos contra a Tristeza Parasitária Bovina.
O “ataque”
A pastagem infestada é o problema inicial. As larvas do carrapato, após a eclosão, sobem no animal e se alojam para permanecerem parasitando por aproximadamente 22 dias. Já transformadas em ninfas e depois em adultos, sugam o sangue e se acasalam. As fêmeas fecundadas abandonam o animal e põem os ovos no solo, reiniciando o ciclo.
A aplicação de carrapaticidas
Para manipular e aplicar pesticidas e medicamentos é preciso treinamento, equipamento e infraestrutura adequados. As aplicações em quantidades insuficientes e erros na diluição dos produtos são os principais motivos dessa ação não funcionar e, ainda por cima, provocar a resistência dos parasitas. Mas é preciso entender que a aplicação do carrapaticida é geralmente, a única medida que se adota para combater um inimigo tão prejudicial.
Dicas para um banho carrapaticida mais eficaz:
- Reservar um dia só para a aplicação, dando total atenção a cada atividade. Não escolher as horas de sol forte, para não intoxicar os animais, nem dias chuvosos, para evitar perdas do produto e seleção de carrapatos resistentes;
- Regular a pressão do jato, que deve ser suficiente para atingir a pele do animal;
- Aplicar a favor do vento (para proteção do aplicador) e no sentido contrário dos pêlos, atingindo-se até as regiões de mais difícil acesso, como úbere, face interna das orelhas e entre as pernas;
- Deixar o animal completamente molhado, devendo-se, para tal, utilizar de quatro a cinco litros de solução para cada bovino adulto;
- Cuidar da segurança do operador para evitar a intoxicação: trajes adequados, a aplicação a favor do vento e o impedimento do contato direto com a pele são exemplos de atitudes preventivas;
- Importante também é a leitura atenta da bula, com objetivo de, além de se ajustar a dose adequada, respeitar o período de carência para garantir a comercialização de um leite de qualidade, isento de resíduos químicos;
- Animais banhados devem sim ser levados a locais infestados de modo que atraiam larvas que serão combatidas no próximo banho, já na fase adulta. A repetição dos banhos fará a descontaminação progressiva desses locais.
Quando aplicar o carrapaticida:
Em cada região do Brasil, os ciclos de vida dos carrapatos são diferentes. No Sudeste, pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Gado de Leite resultaram na elaboração do programa de controle estratégico dos carrapatos de bovinos de leite.
Verificou-se que no Sudeste, o carrapato dos bovinos desenvolve de três a quatro gerações durante o ano e que a geração presente entre os meses de janeiro e abril é a mais fraca, por causa do calor excessivo.
Para o auxílio neste Programa de Controle Estratégico dos Carrapatos, a EMBRAPA fornece ao produtor rural de forma gratuita, o teste de sensibilidade carrapaticida. O resultado com este teste retrata a realidade da população de carrapatos de cada propriedade de maneira individual.
Com o teste de sensibilidade em mãos, o programa sugere a aplicação de uma série de cinco ou seis banhos carrapaticidas a intervalos de 21 dias ou três aplicações de produto “pour on” a intervalos de 30 dias. E o ideal é que se banhe todo o rebanho no máximo em três dias.
Durante o resto do ano basta monitorar a quantidade de carrapatos nos animais e realizar banhos quando a contagem se elevar. É recomendada também atenção especial ao mês de setembro, quando a quantidade de carrapatos tenderá a se elevar com o aumento da temperatura.
É importante ressaltar, no entanto, que, para que o programa de controle estratégico de carrapatos no rebanho leiteiro seja bem-sucedido, tem de ser utilizado o produto certo, na dose recomendada, com diluição bem feita e aplicação adequada.
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Você sabia?
Uma carga parasitária entre 20 e 30 carrapatos em um lado do corpo do animal é considerada adequada para que os bovinos desenvolvam proteção contra os agentes da tristeza parasitária. Deste modo, o carrapato, que antes era tido como um inimigo altamente prejudicial à pecuária, passa a atuar como um aliado, funcionando como um “vacinador natural” dos bovinos.
Outras formas de controle
Outras medidas de controle estão sendo pesquisadas como uma nova vacina brasileira, fungos e nematóides como controladores biológicos, além de substâncias derivadas de plantas e até à seleção genética de animais mais resistentes a parasitas.
Realizando-se as ações descritas de forma correta, é possível reduzir significativamente o número de banhos carrapaticidas, o que, além de representar considerável economia das fazendas de leite com a aquisição desses produtos, leva à redução no estresse dos animais e nos custos com mão-de-obra, minimização de resíduos no leite, elevando a qualidade e agregando valor ao produto, preservação ambiental e, principalmente, retardo no processo de resistência, garantindo maior tempo de utilização das poucas bases químicas disponíveis.
Fontes : CNPGL EMBRAPA e Revista Milkpoint Revisão: Prof. Michel Ruan dos Santos Nogueira – Médico veterinário e mestre em Ciências Veterinárias