Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (MG) desenvolveram estratégias que promovem a estabilidade de produção em cultivos de sequeiro; Veja!
Um dos grandes desafios da lavoura é a falta de chuva para as culturas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Agência Nacional de Águas (ANA), atualmente a agricultura de sequeiro (sem nenhum tipo de irrigação) ocupa mais de 90% da área agrícola do país.
Essa modalidade de plantio, que depende totalmente das chuvas e da água armazenada no solo, poderia ser mais produtiva, não fosse o déficit hídrico anual médio de 37%. Esse número representa o quanto faltou de água para o pleno desenvolvimento das culturas e foi mais expressivo no milho, que muitas vezes é plantado em regiões e períodos de maior risco climático.
Há, portanto, a necessidade de tecnologias que permitam mitigar o efeito do estresse hídrico e possibilitem o uso otimizado da água. A irrigação busca eliminar o problema da redução do volume e da instabilidade de chuvas. Porém, ainda é uma realidade distante para muitos agricultores, por elevar o custo da produção.
Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (MG) desenvolveram estratégias que promovem a estabilidade de produção em cultivos de sequeiro de milho, sorgo, milheto e pastagem, mesmo em déficit hídrico. Entre as recomendações estão:
- seleção de cultivares tolerantes ao estresse hídrico;
- utilização de bioinsumos;
- adoção de plantio direto e de Integração Lavoura-Pecuária (ILP);
- uso de irrigação subótima.
O primeiro experimento envolveu a utilização de genes de tolerância ao alumínio que, nos solos ácidos do Cerrado brasileiro, permitem o desenvolvimento radicular em camadas mais profundas, favorecendo assim a absorção de água e tornando as culturas mais tolerantes ao estresse hídrico. O uso desse gene resultou em ganhos de produtividade de 21% no milho com irrigação plena e de 48% sob estresse hídrico, na fase de enchimento de grãos.
A segunda solução aborda o uso de bioinsumos, como as rizobactérias, capazes de estimular o crescimento de raízes e, dessa forma, ampliar a capacidade da lavoura de tolerar períodos de escassez hídrica. Os cientistas testaram bactérias promotoras de crescimento isoladamente e em conjunto.
“A inoculação do milho com estirpes de Azospirillum brasilense ou coinoculação com estirpes de Azospirillum brasilense e Bacillus contribuíram para o desenvolvimento e desempenho produtivo”, explica a pesquisadora Isabel Prazeres.
A terceira solução tem como foco a adoção de plantio direto e Integração Lavoura-Pecuária (ILP), visando o uso eficiente de água. O pesquisador Ramon Alvarenga explica que a ILP tem garantido bons resultados, mesmo em anos com grandes períodos de estiagem.
“Ao recuperar a capacidade produtiva dos solos, as lavouras e pastagens tornam-se mais produtivas. É feita a correção do perfil do solo, com monitoramento da fertilidade, uso estratégico de corretivos e fertilizantes. Assim, as raízes crescem em profundidade e podem explorar melhor a água e os nutrientes. O sistema de plantio direto ajuda na infiltração e na conservação da água no solo, com a proteção feita pela palhada. Dessa forma, as plantas conseguem se manter sem perda significativa de produtividade, mesmo com ocorrência de veranico.”
A quarta estratégia abrange o desenvolvimento de recomendações para utilização de irrigação subótima, que consiste em aplicar sempre menos água do que a requerida, na produção de forragem, silagem e grãos. Nas avaliações desse tipo de irrigação, as culturas de milho, sorgo e milheto toleraram reduções nas lâminas de irrigação sem prejuízo significativo da produtividade de matéria fresca.
A técnica de irrigação deficitária ou subótima tem o objetivo de restringir a quantidade de água aplicada sem que haja perda expressiva da produtividade. O uso desse tipo de irrigação é uma alternativa para ampliar a eficiência no uso da água e garantir a produção em épocas ou locais com baixa disponibilidade hídrica.
Teixeira conta que o milheto e o sorgo toleram déficits hídricos maiores do que o milho, embora produzam menos silagem por hectare. As forrageiras da espécie Panicum maximum apresentaram respostas diferentes à irrigação durante os períodos de seca e de chuvas anuais.
Durante a seca, todas responderam com crescimento e produção, sendo que as cultivares Massai e Tamani toleram redução da irrigação sem perda significativa da produção de matéria seca. “Já durante o período de chuvas, a suplementação promove resposta em produção nas cultivares Quênia e Massai, sendo maior na cultivar Quênia,” conta o pesquisador Teixeira.
Segundo Rosângela Simeão, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, o uso da irrigação subótima vem suprir o problema do vazio forrageiro de produção durante o período de déficit hídrico.
“Em anos recentes, as mudanças climáticas têm desafiado a sustentabilidade da agropecuária. A sazonalidade na produção de forragens tropicais ocorre anualmente em função, principalmente, dos efeitos da seca. Isso reflete negativamente na eficiência dos sistemas de produção, inclusive os de carne e leite dependentes de forragens”, declara.
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Foram avaliadas cultivares usadas para a pecuária intensiva, de alta produtividade, mas que reduzem sensivelmente a produção de forragem durante o déficit hídrico anual.
“Testamos três cultivares de Panincum maximum (Tamani, Quênia e Massai) em comparação com o Cynodon (Tifton). O material que melhor respondeu à irrigação subótima foi o Quênia. Sua produtividade foi equivalente à obtida pelo Cynodon, que é a forrageira mais utilizada no sistema de produção irrigado. Isso vem suprir uma demanda econômica dos produtores brasileiros”, explica a pesquisadora.
As informações são da Embrapa.