Como amostrar e analisar as forragens

Para fins de esclarecimento existem basicamente três diferentes metodologias em que partes da parte aérea ou a parte aérea inteira da planta forrageira são coletadas:

– Metodologia ou técnica do quadrado: a massa de forragem é cortada e coletada rente ao solo dentro de uma moldura de área conhecida, com posterior desidratação de uma amostra com a finalidade de se calcular a massa de forragem, a forragem disponível, a forragem acumulada, a taxa de acúmulo de forragem entre pastejos, a capacidade de suporte da pastagem, a forragem consumida pelos animais e a eficiência de uso da forragem disponível e da forragem acumulada;

– Coleta das duas últimas lâminas foliares recém-expandidas para fins de análise de tecido da planta: permite diagnosticar o estado nutricional da planta forrageira e se os nutrientes aplicados através da correção e da adubação do solo foram absorvidos nas proporções e nas quantidades adequadas, ou seja, é uma metodologia complementar a análise de solo em um programa de manejo da fertilidade de solo;

– Coleta para fins de análise de composição química da forragem com potencial de ser consumida pelos animais. É sobre esta metodologia que este artigo tratará. Este tipo de análise é denominado por “análise bromatológica”.

Entende-se por “Bromatologia” a ciência que estuda a composição química dos alimentos ou valor nutritivo dos mesmos. A análise bromatológica dos alimentos permite conhecer a sua composição qualitativa e quantitativa; a presença de alterações, de contaminações e de fatores antinutricionais.

A amostragem é a etapa mais crítica de todo um programa de nutrição e alimentação animal, pois é a mais sujeita a erros e, por isso, deve ser criteriosa. Neste sentido, ressalta-se que, no laboratório, não se consegue minimizar ou corrigir os erros cometidos na amostragem. Assim, uma amostragem inadequada resulta em uma análise inexata e em uma interpretação e recomendação equivocadas, podendo causar graves prejuízos econômicos ao produtor.

A amostragem de forragem não é uma prática simples, deve ser rigorosamente executada e seguir instruções com embasamento científico. Qualquer que seja a precisão dos métodos de análise, ela é limitada pela qualidade das amostras. Desta forma, a análise não pode ser melhor do que a amostra.

O resultado de uma análise incorreta pode ser corrigido pela repetição, mas esse recurso não corrige erros de amostragem. Dada a sua relevância, a amostragem de forragem deve ser cuidadosamente planejada, iniciando-se com a elaboração de um plano de amostragem

A seguir o passo a passo da metodologia para a amostragem de forragem em sistemas de pastejo, seu acondicionamento e envio ao laboratório de bromatologia:

1o.) A metodologia ou a técnica de amostragem: existem basicamente três metodologias para a amostragem de forragem para análise de sua composição química em sistemas de pastejo, e apesar de nenhuma delas refletir com exatidão o quanto e o que o animal realmente consome, são as existentes. A saber:

a) Amostragem com base no pastejo simulado: não há correlação entre a coleta feita pelo homem e a coleta feita pelo animal a partir da extrusa (foto), entretanto há alta repetibilidade entre pessoas treinadas.

Foto: Animal fistulado no esôfago durante o pastejo. Detalhe da extrusa. Fonte: Professor Ricardo Andrade Reis, UNESP, Jaboticabal, SP.

b) Amostragem diretamente da extrusa animal. A extrusa é a amostra retirada da fistula do esôfago do animal. Pode ser contaminada pela saliva a qual contém ureia, e que contribuirá para aumentar a porcentagem de nitrogênio, e, portanto, de proteína bruta no resultado da análise. Neste caso a extrusa animal não é um bom indicador. Com o fósforo e o sódio ocorre o mesmo. Ou seja, para nutrientes que ciclam muito no organismo pela saliva a extrusa não é um bom indicador. Neste caso o pastejo simulado é a melhor metodologia.

Estas duas metodologias só são possíveis em instituições de ensino e de pesquisa por exigir pessoal treinado e qualificado e instrumentação especifica.

c) A amostragem acima do estrato pastejável: esta é a metodologia recomendada e que vem sendo adotada em sistemas de produção comerciais, ou seja, nas fazendas. O primeiro passo para que se tenha a garantia de que a amostra enviada ao laboratório reflita em grande parte o que o animal consome, é a padronização da altura de coleta da amostra usando a técnica do estrato pastejável. Na prática aquela padronização é alcançada pelo manejo do pastejo nas alturas alvos, como as citadas na tabela 1.

Tabela 1. Alturas alvos de manejo do pastejo de gramíneas forrageiras tropicais, subtropicais e temperadas em pastoreios de lotação alternada (dois piquetes por lote de animais) e rotacionada (no mínimo três piquetes por lote de animais) em pastagens não adubadas e em pastagens adubadas.

Fonte: AGUIAR, 2013.

Ou seja, por aquela metodologia a amostragem de forragem deve ser feita acima da altura do resíduo pós-pastejo previsto ou real.

2o.) O procedimento em campo: o número padrão de pontos de coleta deve ser de cinco pontos/ha. Como proceder: afastar-se de pontos que possam subestimar ou superestimar a composição da forragem (malhadouros, próximo às porteiras e às cercas de divisas dos piquetes, sob as árvores, próximo a cupinzeiros, formigueiros ou terraços etc.); andar em zigue-zague colhendo a amostra acima da altura do resíduo pós-pastejo e ir colocando as amostras em um saco ou em um balde limpos.

3o.) O procedimento pós-campo: misturar bem as amostras simples e retirar uma amostra composta de 500g (se na propriedade houver balança de precisão o peso da amostra pode ser muito menor). Se for possível levar a amostra ao laboratório até 24 horas após a sua coleta, a mesma poderá ser levada “in natura”, ou seja, como coletada. Se o prazo for maior que 24h a amostra deverá ser conservada a uma temperatura entre -5 a -10ºC e depois ser transportada assim, mas se não for possível a amostra deverá ser desidratada, mas não totalmente para evitar reações indesejáveis, tais como a Reação de Maillard.

4o.) O procedimento para acondicionar e enviar as amostras ao laboratório: acondicionar em saco de papel (de preferência) ou de plástico, identificando a amostra assim: a) Propriedade; b) Proprietário; c) Município; d) Data da coleta; e) Nome de quem coletou; f) Tipo de alimento: forragem colhida em pastagem; g) Local da coleta (retiro da fazenda, número ou nome do módulo de pastoreio e do piquete; h) Tipo de forrageira (espécie, variedade ou cultivar); I) Tipo de análise solicitada.

5o.) Frequência de amostragem: uma vez a coleta estando padronizada o ideal é fazer coletas mensais por pelo menos um ano até que se tenha um banco de dados consistente que possa servir como referência da composição química da forragem produzida na propriedade para fins de planejamento nos anos seguintes.

Outro aspecto importante em todo este programa é a metodologia de análise laboratorial para a análise bromatológica de alimentos. No Brasil existem basicamente três metodologias, sendo comuns laboratórios que entregam resultados mistos entre estas metodologias. A saber:

· Sistema ou Método de Weende: o Sistema de Weende ou Sistema de Análise Proximal foi criado por Henneberg em 1860, na Weende Experimental Station, Alemanha.

Neste sistema o alimento é fracionado em seis componentes: água, cinzas ou matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra bruta (FB) e extrativo não nitrogenado (ENN). Este sistema não oferece informações precisas sobre carboidratos, pois inclui no grupo da FB a celulose e lignina. Por outro lado, no grupo dos ENN, encontram-se frações de natureza diversas, como: amido, lignina, hemicelulose e carboidratos solúveis em água.

Portanto, do ponto de vista nutricional o sistema é considerado insatisfatório, devido às diferenças nas características nutricionais englobadas no ENN (hemicelulose, lignina, amido, carboidratos). Neste sistema, parte da FB pode ser computada como extrativo não nitrogenado. O sistema Weende é a base para o cálculo do conteúdo de nutrientes digestíveis totais (NDT), segundo a fórmula: NDT = PD + (EED x 2,25) + FD + ENND, onde o D significa digestível.

· Sistema ou Método de Van Soest: outros métodos surgiram para melhorar as frações obtidas pelo método Weende e, entre elas, a fibra bruta foi fracionada por Van Soest e Wine (1967) em fibra detergente neutro (FDN), fibra detergente ácido (FDA) e lignina. Este sistema, proposto para análises de plantas forrageiras, preconiza que a planta é dividida em duas porções; conteúdo celular e parede celular.

· Sistema ou Método de Cornell: durante muitos anos, a composição bromatológica dos alimentos tem sido determinada por meio do sistema de Weende, sem levar em consideração as diferentes frações de carboidratos e de proteína. Porém, outro sistema foi desenvolvido (The Cornell Net Carbohydrate and Protein System – CNCPS), o qual considera a dinâmica da fermentação ruminal e a perda potencial de nitrogênio, como amônia, na avaliação dos alimentos (SNIFFEN et al., 1992).

Na tabela 2 estão alguns exemplos de como vêm as determinações em resultados de analises bromatológicas realizadas pelas três metodologias citadas.

Tabela 2. Determinações constantes em resultados de análises bromatológicas realizadas pelos sistemas de Weende, de Van Soest e de Cornell.

1Legenda: PB: proteína bruta; EE: extrato etéreo; ENN: extrativo não nitrogenado; FB: fibra bruta; MM: matéria mineral. Muitos laboratórios determinam os macrominerais (cálcio, enxofre, fósforo, magnésio, potássio, sódio) em % e os microminerais (cobalto, cobre, ferro, manganês, zinco etc.) em mg/kg; NDT: nutrientes digestíveis totais são obtidos por calculo e não por análise; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NIDIN (ou PIDIN): nitrogênio insolúvel em detergente neutro; NIDA (ou PIDA): nitrogênio insolúvel em detergente ácido; Frações da proteína: A e B1 constituem a fração solúvel da proteína; a fração A é composta por nitrogênio não proteico (NNP); a fração B1 é a proteína verdadeira; a fração B3 é insolúvel em detergente neutro; a fração C é insolúvel em detergente ácido; a fração B2 é calculada.

Apesar da análise bromatológica ser uma tecnologia simples, relativamente barata e de importância estratégica, não é utilizada pela maioria dos produtores brasileiros, particularmente para a determinação da composição química de forragem coletada em sistemas de pastejo. Tem sido mais comum para a determinação de composição de volumosos suplementares (cana, silagens, pré-secados, fenos) e de concentrados.

Com base em resultados de análises bromatológicas de forragens é possível ao técnico nutricionista predizer o consumo daquela forragem pelos animais, a ingestão de nutrientes e consequentemente o desempenho animal (ganho em peso, produção de leite, etc.), além de diagnosticar se há ou não deficiência de nutrientes específicos.

A análise bromatológica de forragens ainda dá suporte para o técnico nutricionista formular suplementos minerais, suplementos múltiplos, suplementos concentrados e a ração total.

Suplementação de precisão é garantia de lucro

Fonte: Scot Consultoria

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