Como a pecuária brasileira deve terminar 2023

“Diante desses números, temos que a pecuária brasileira ainda deve entregar números de produção volumosos, principalmente em 2023. Mas, já existem sinais de que 2025 e 2026 poderão significar a virada para a produção e para os preços” afirma Lygia Pimentel, CEO da AgriFatto.

Buscando analisar o impacto do ciclo pecuário nos números de produção de carne bovina e abate de animais nos próximos três anos, fizemos projeções de produção, abate exportação e consumo de carne bovina no Brasil.

As estimativas mais recentes apontam para um avanço de 10% no abate de bovinos em 2023 ou 33 milhões de cabeças. Esse é o maior volume desde 2014 e a produção de carne caminha junto, crescendo 8% e chegando a 8,7 milhões de toneladas (em equivalente carcaça). É a maior produção da história, ainda como efeito da fase de baixa do ciclo pecuário que já abordei nessa coluna.

Para 2024, esperamos que a oferta de animais continue elevada e a participação das fêmeas continue acima da média histórica, o que aumenta a disponibilidade de carne bovina e dificulta a valorização real do boi gordo e da carne no próximo ano.

Mas, a partir de 2025 e se estendendo até 2027, projetamos o início da fase de retenção de fêmeas, justamente quando a produção de carne deverá voltar a cair. Com isso, estimamos que os abates em 2026 estejam próximos de 29,5 milhões de cabeças. Com isso, a produção de carne bovina em 2026 poderá variar de 7,3 milhões de toneladas a 8,7 milhões de toneladas, com nossa estimativa base sendo de 8 milhões de toneladas em 2026.

Nossa visão é que o Brasil continuará sendo líder nas exportações mundiais de carne bovina, com cerca de 2 milhões de toneladas em 2023, o segundo maior volume da história, ficando 1% apenas abaixo do recorde de 2022.

Para os próximos três anos, a expectativa é de consecutivos avanços anuais com a consolidação do mercado asiático para carne bovina brasileira e uma menor participação dos Estados Unidos, hoje o maior produtor do mundo. Portanto, esperamos 2,15 milhões de toneladas sejam embarcadas em 2026, podendo alcançar até 2,3 milhões de toneladas em um cenário mais otimista.

A demanda interna é um grande gargalo ainda para a carne bovina brasileira. A perda de poder de compra do cidadão incentiva as indústrias a priorizarem o mercado externo. No entanto, o ciclo de queda de juros no país, em conjunto com o governo mais expansionista, pode trazer um cenário de curto prazo positivo para o consumo. Com cerca de 67% da carne bovina produzida permanecendo no mercado doméstico, isso acaba sendo bem relevante para determinar o termômetro de preço da pecuária em 2023.

pecuária
Pecuária. Foto: Fazenda Maracaípe

A gente espera que o consumo doméstico atinja 6 milhões de toneladas, um avanço de 15,8% no comparativo anual. E a expectativa é de que comece a recuar a partir de 2024 e atinja 5,8 milhões de toneladas, reduzindo até 4,9 milhões de toneladas até 2026 devido ao recuo produtivo. Com isso, o consumo per capita deve alcançar cerca de 29 kg por habitantes por ano em 2023, alta anual de 15%.

Estimamos que o pico da carne bovina consumida para o habitante nos próximos quatro anos também seja alcançado em 2023, iniciando uma tendência de queda a partir de 2024, que se estende a 2027, na casa projetada de 23,7 kg por habitante.

Porém, diante desses números, temos que a pecuária brasileira ainda deve entregar números de produção volumosos, principalmente em 2023. Mas, já existem sinais de que 2025 e 2026 poderão significar a virada para a produção e para os preços. Obviamente, essas projeções têm que ser ajustadas de tempos em tempos, mas dá para ter uma ideia do que será no mercado nos próximos anos.

*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

Matéria originalmente publicada na Coluna de Lygia Pimentel da Forbes Brasil

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