Variações climáticas colocam a colheita em risco, mas é possível conciliar aumento de produtividade com resiliência climática.
Depois de ondas de calor no Canadá e na Rússia, inundações na Europa e na China, o clima extremo também chegou ao Brasil. Tivemos uma perda de 30% na produção de café por geadas intensas no ano passado. Este ano, o Paraná, estima que haverá uma perda de 8 milhões de toneladas de soja por conta da seca, o equivalente a R$16.8 bilhões em recursos. O país também enfrenta inundações na Bahia e em Minas Gerais, e por aí vai.
Nessa conjuntura, os profissionais e empresas do agronegócio que não priorizam a ação climática ou desconhecem o tamanho do problema mostram um comportamento inconsequente com o futuro de nossas próximas gerações. É urgente a adoção de práticas agrícolas para mitigar as mudanças climáticas, se quisermos ter um agro produtivo e sustentável pela frente.
Os números evidenciam isso. A agricultura é responsável por quase 30% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e também é a causa de 80% do desmatamento tropical. O aquecimento global vem provocando volatilidade climática, o que afeta a produtividade das lavouras, provocando o aumento do preço das commodities agrícolas. Mas é possível reverter esta tendência através da agricultura regenerativa, um método agrícola que cria condições climáticas mais favoráveis à produção.
Nosso mundo está mudando. A União Europeia acaba de declarar emergência climática e afirmou que a Europa deve atingir zero emissões de gases de efeito estufa até 2050. No mesmo ano, a população do planeta deve chegar a 10 bilhões de pessoas. Tal cenário aumentará a demanda global de alimentos e os países produtores precisam se preparar para produzir num contexto de extremos climáticos.
A maneira como cultivamos os alimentos tem um impacto enorme em nosso planeta e impulsiona a crise climática. A conversão de terras e os insumos externos necessários para a agricultura industrial matam ecologicamente muitas áreas agrícolas. A mecanização e os fertilizantes sintéticos – comumente usados nas lavouras – causam emissões de GEE. Este manejo intensivo para aumentar a produtividade das safras libera o carbono do solo ao invés de estoca-lo.
As pressões do mercado forçam os agricultores em todo o mundo a intensificar a agricultura e focar nos retornos de investimento de curto prazo. Por conta da necessidade de corrigir o solo, eles dependem cada vez mais de pesticidas e fertilizantes sintéticos para manter a produtividade. À medida que os custos aumentam, os ganhos diminuem e os agricultores ficam presos em dívidas, tomando empréstimos anuais para pagar insumos externos.
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No Reino Unido, 25% das famílias agrícolas vivem abaixo da linha da pobreza. Nos Estados Unidos, metade das fazendas estão endividadas. Os produtores brasileiros também estão frustrados, uma vez que a agricultura convencional não é mais capaz de fornecer um meio sustentável de vida.
Mas a agricultura regenerativa pode mudar esta trajetória. O método melhora a produtividade agrícola ao aumentar a diversidade de plantas de cobertura, que formam uma cobertura de solo, uma biomassa que fertiliza a área, aumenta a produtividade das culturas e, ao mesmo tempo, pode ser usada para a alimentação animal.
Por esses motivos, a agricultura regenerativa pode ajudar a resolver a crise climática e salvar o agronegócio brasileiro. Trata-se de um sistema de agricultura inteligente, que permite uma produção economicamente viável, que restaura a terra, mitiga as mudanças climáticas, protege a biodiversidade e aumenta a segurança alimentar para uma população mundial em crescimento.
É uma prática baseada na natureza, portanto, globalmente aplicável e acessível. Já sabemos como implementá-la, o desafio é coloca-la em prática para todo o agronegócio brasileiro.
Fonte: Globo Rural