Além da chuva nos EUA, a retomada das exportações ucranianas pelos portos do Mar Negro também exerce pressão sobre as cotações do cereal.
“O último fim de semana foi marcado por chuvas esparsas no lado oeste do Cinturão de Milho, região que vinha sofrendo com o calor excessivo. Mas vale lembrar que as precipitações ainda estão mal distribuídas no momento , um período crucial para o desenvolvimento da soja”, disse Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios, ao Valor.
Como as chuvas ainda são inconsistentes, Pereira acredita que elas mudarão pouco as condições das lavouras nos EUA. “O USDA [Departamento de Agricultura americano] deve indicar números estáveis para as lavouras ou uma leve melhora na qualidade das plantações”, ressaltou.
Hoje, o USDA informou que exportadores privados americanos reportaram a venda de 132 mil toneladas de soja à China, com entrega programada para a safra 2022/23. Pereira lembra que as compras chinesas seguem muito abaixo do potencial.
“A China ainda precisa importar algo em torno de 5 milhões de toneladas de soja até setembro, e no momento, as compras chegaram a 35% da necessidade prevista para o próximo mês. Eles [os chineses] estão comprando muito grão dos EUA e também do Brasil”.
Milho
Os contratos do milho para dezembro, os mais negociados em Chicago, caíram 0,45% (2,75 centavos de dólar), a US$ 6,0725 por bushel.
Além da chuva nos EUA, a retomada das exportações ucranianas pelos portos do Mar Negro também exerce pressão sobre as cotações do cereal. A Pátria Agronegócios estima que a Ucrânia tem de 15 a 18 milhões de toneladas de grãos represadas. “Mas é um milho com um preço agregado mais alto por causa dos custos com frete e seguro marítimo”, diz Pereira.
A hEDGEpoint Global Markets avaliou, em relatório, que o mercado tem dado tanta atenção aos embarques ucranianos que tem deixado de lado assuntos “mais estruturais”, como o impacto das condições climáticas sobre a produtividade das lavouras de milho dos Estados Unidos.
“Nossa leitura da produtividade de milho dos EUA está se tornando mais pessimista, já que as chuvas não estão vindo no volume necessário e estamos no final dos estágios críticos”, afirm Pedro Schicchi, analista de grãos e proteínas animais da hEDGEpoint, empresa especializada em gestão de risco no mercado de commodities.
Daniele Siqueira, analista da AgRural, lembra que, como a safra americana foi plantada com atraso, parte dela ainda está em fase de polinização. “Além disso, o milho também vai precisar de umidade e temperaturas amenas para a granação, fase que também é importante para a definição da produtividade”, disse. A analista da AgRural também chama a atenção para as quebras de produtividade na Europa causadas pelo tempo quente e seco.
- Projeto autoriza uso do fungicida carbendazim em defensivos agrícolas
- Yara anuncia vencedores do Concurso NossoCafé 2024
- Estudo apresenta 5 recomendações globais para o Brasil cortar emissões
- Atenção: pecuaristas devem atualizar cadastro de rebanhos na Iagro até o dia 30 de novembro
- Florestas restauradas aumentam produtividade de soja em até 10 sacas por hectare
As exportações americanas de milho totalizaram 555,6 mil toneladas na semana encerrada em 4 de agosto, informou hoje o USDA, volume 35,2% menor do que o da semana anterior. No ano-safra 2021/22, as exportações acumulam queda de 17,8%, somando 51,9 milhões de toneladas.
Colheita de milho nos Estados Unidos — Foto: Daniel Acker/Bloomberg
Trigo
O trigo fechou o dia em alta na bolsa de Chicago. Os contratos para setembro, que são os de maior liquidez, subiram 0,52% (4 centavos de dólar), a US$ 7,7975 por bushel, e os papéis de segunda posição, que vencem em dezembro, avançaram 0,50% (4 centavos de dólar), para US$ 7,9925 por bushel.
O cereal avançou puxado, em parte, pela notícia de que a Índia pode extinguir sua tarifa de 40% sobre as importações de trigo — o país avalia adotar a medida como forma de conter a alta nos preços no país. “Claramente a safra indiana está abaixo do que muitos pensavam no início da temporada”, disse Richard Buttenshaw, da Marex, em nota.
Há, por outro lado, indicativos de novas quedas de preços, com destaque para o avanço acima do esperado da colheita em áreas de cultivo do Hemisfério Norte. “Na França, por exemplo, maior produtor da União Europeia, a colheita está perto do fim, um forte avanço em relação ao ano passado, quando 55% da safra havia sido colhida”, disse Fábio Lima, consultor em gestão de risco de trigo da StoneX.
Segundo ele, o mercado do trigo em Chicago já “precificou” a abertura do corredor de exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro, mas ainda há incertezas sobre como será a operação-padrão dos embarques, especialmente dos navios que não estão nos portos do país.
“A partir do momento em que seguradoras e armadores tiverem clareza de como será a navegação no Mar Negro, poderemos ver o acordo deslanchar, com mais reflexo sobre os preços. Na melhor das hipóteses, 10 milhões de toneladas de trigo podem deixar a Ucrânia, mas não há como prever quando isso acontecerá. O governo ucraniano prevê que o país vai exportar 3 milhões de toneladas de grãos por mês, mas, com a velocidade atual das operações, e considerando a validade de 120 dias do acordo, isso não me parece algo animador”, complementou.