
Após anúncio do Banco Central que aumentou a Selic para 14,25%, os empréstimos bancários e financiamentos tendem a ficar mais onerosos e criteriosos
O cenário político-econômico brasileiro tem gerado grande preocupação, principalmente no campo. Em meio a este cenário de incertezas, o governo anunciou, na última semana, duas importantes decisões.
A primeira foi na quarta-feira (19) quando o Comitê Política Monetária do Banco Central do Brasil divulgou a elevação da taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano, atingindo o maior patamar desde 2016. A medida, segundo as autoridades, visa conter a inflação persistente, o ambiente externo desafiador e incertezas quanto à política fiscal.
Já no dia seguinte, na quinta-feira (20), após atraso de mais de três meses, finalmente houve a aprovação do Orçamento do Governo Federal para 2025, no total de R$ 5,8 trilhões. “O cenário que se desenha até aqui é de elevação da taxa básica de juros e o acesso ao crédito se torna cada vez mais difícil, principalmente para pequenos e médios produtores que dependem de financiamentos para custear a safra”, destacou, Enilson Nogueira, especialista de Mercado de Grãos na Céleres consultoria.
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O acesso ao crédito, conforme explica ele, será ainda mais difícil, não somente pela instabilidade econômica do mercado, mas também por conta do aumento da inadimplência e dos pedidos de Recuperação Judicial (RJ). De acordo com levantamento do Serasa, o último dado público do terceiro trimestre de 2024, apontou que houve um aumento em relação ao segundo trimestre de inadimplência no setor. “O produtor que estava endividado no fim de 2024 acabou estendendo essa dívida para 2025. Diante desses riscos, as instituições bancárias que financiam a cadeia estão cautelosas exigindo mais garantias”, destacou, Vinícius Paiva, especialista de fusões e aquisições – M & A da Céleres.
Recuperação Judicial
Olhando para o copo ‘meio cheio’, alguns fatores indicam que o risco de recuperação judicial deve começar a diminuir a médio prazo. O primeiro fator que aponta essa tendência é a safra recorde de grãos que se desenha. Segundo Nogueira, para a soja a colheita está estimada em 170 milhões de toneladas, o que indica uma recomposição dos problemas e produtividade do ano passado e isso traz oportunidades de exportação e de consumo interno. “Estimamos um acréscimo de cerca de 17 milhões de toneladas em relação à temporada passada, contudo, é importante lembrar dos desafios de logística e armazenamento”, pontua.
Alternativas
Diante do atual cenário de mais burocracia ao crédito, uma alternativa aos produtores é o Barter. Bastante difundida no campo, a modalidade de negociação consiste na troca de insumos pela produção, é uma prática muito comum entre os agricultores, distribuidores e revendas agrícolas principalmente aos que não querem despender grande parte do capital na compra de insumos. De acordo com Paiva, essa modalidade tem sido uma saída nestes momentos de instabilidade do mercado. “O Barter gera um pouco mais de segurança para quem está financiando o agro diante deste cenário de alto risco, ou seja, é algo que pode ser interessante para toda a cadeia”, reforça especialista de M & A.
Precificação
A projeção de grandes colheitas no Brasil e na América do Sul na safra 2024/25 indicam estoques globais cheios e um cenário externo mais de pressão sobre as cotações. Nesse contexto, a taxa de câmbio será crucial para sustentar as margens do produtor, brasileiro.
De acordo com o profissional de Mercado de Grãos na Céleres Consultoria, embora o dólar esteja na casa dos R$ 5,70 oscilando pouco para cima, o produtor tem se beneficiado em comparação ao ano passado. “A moeda americana está proporcionando de R$ 15 a R$ 20 a mais por saca de soja balanceando o CBOT negativo com prêmio um pouco mais forte”, afirmou.
Ainda segundo ele, o produtor pagou seu custo de produção com o dólar mais próximo de R$ 5 do que de R$ 6, e a partir do momento que tem oportunidade de vender na casa de R$ 5,70 por exemplo, é considerado um cenário positivo de construção de margens. “Com uma safra recorde, o agricultor brasileiro tem ainda o grão para usar como moeda de troca e fazer pagamentos e isso é positivo para a cadeia como um todo”, completa Nogueira.
Já no mercado de milho ainda há uma indefinição quanto à safra de inverno. Boa parte dos produtores conseguiram plantar e aproveitar a janela, mas o clima ainda é um desafio e há certa incerteza quanto à oferta. Entretanto, a perspectiva é de um cenário mais firme do que no da soja, pois no mercado externo os preços estão melhores e a demanda interna, seja para usina de etanol de milho ou pelas processadoras para produção de alimento animal, têm limitado os estoques. “Por todos esses elementos, analisando a demanda e oferta, vemos o mercado de milho mais firme”, detalha o especialista de Mercado de Grãos.
Dicas para 2025 e 2026
Segundo os profissionais da Céleres, diante do cenário apresentado, onde há ainda muitas indefinições, a recomendação aos produtores é para adotar uma posição mais conservadora com muitas análises de custos e riscos. Há uma tendência de que o agro a partir de 2026 entre e uma fase de estabilização, mas até lá, é preciso ainda atenção, principalmente diante dos fatores climáticos pontuais que podem ocorrer. Portanto, algumas dicas podem ajudar:
- Atenção com o caixa – Utilizar crédito de terceiros apenas em caso de necessidade;
- Despesas – Todos os gastos precisam estar sob forte controle dentro dos custos;
- Cautela quanto a novos projetos – Todo grande investimento seja em estrutura ou máquinas precisa ser muito bem planejado;
- Diversificação de fontes de créditos – Buscar diferentes alternativas de financiamento para não ficar dependente apenas de uma fonte bancária;
- Mercado externo – Olhar dólar como alavanca de construção de margem;
- Visão 360º – O produtor deve ter atenção com toda a gestão focando na eficiência técnica e econômica.
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