Com mais gado que gente, Montana consome carne bovina brasileira; Veja motivo

Apesar de ter quase o dobro de vacas em relação à população humana, apenas cerca de 1% da carne bovina consumida pelos moradores de Montana, nos EUA, é criada e processada localmente. A maior parte da carne bovina vem de lugares distantes, incluindo o Brasil; confira

Quando pensamos em Montana, é fácil imaginar paisagens românticas: vastos vales, riachos frios e montanhas cobertas de neve. No entanto, poucos sabem o destino da maioria do gado que pastoreia nesses campos. Apesar de ter quase o dobro de bovinos em relação à população humana, apenas cerca de 1% da carne bovina consumida pelos moradores é criada e processada localmente. A maior parte da carne vem de lugares distantes, incluindo a carne bovina brasileira.

Mesmo em um estado com uma forte tradição pecuária, a carne local enfrenta desafios para competir no mercado. A indústria de carne bovina nos Estados Unidos é dominada por quatro grandes frigoríficos: JBS, Tyson Foods, Cargill e Marfrig, que processam 85% da carne bovina do país. Esses frigoríficos, com grande controle sobre a cadeia de suprimentos, compram gado de pequenos pecuaristas e os processam em instalações centralizadas. O produto final é então distribuído por grandes empresas como Sysco e US Foods e vendido em grandes redes de supermercados como Walmart e Costco.

Os pecuaristas que tentam vender sua carne localmente enfrentam uma série de desafios. Eles competem com uma estrutura industrial bem estabelecida e, muitas vezes, não conseguem acessar distribuidores e clientes de forma eficiente. Neva Hassanein, professora da Universidade de Montana, aponta que essa estrutura deixa os pecuaristas em uma espécie de “armadilha“, com lucros em constante diminuição.

Tentativa de mudança

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Cole Mannix, cofundador da Old Salt Co-op – Rebecca Stumpf/The New York Times/NYT

Cole Mannix é um exemplo de quem está tentando mudar essa situação. Em 2021, ele fundou a Old Salt Co-op, uma cooperativa que controla todo o processo de produção de carne, desde a criação do gado até a venda do produto final. A Old Salt Co-op pratica a “integração vertical”, onde uma única entidade controla múltiplos estágios da cadeia de suprimentos. Isso permite que os pecuaristas da cooperativa lucrem em cada etapa do processo.

Mannix explica que, embora seja arriscado iniciar um negócio como a Old Salt, continuar com o sistema atual é ainda mais arriscado. A Casa Branca comprometeu US$ 1 bilhão para processadores de carne independentes, mas Mannix acredita que apenas uma boa instalação de processamento não resolve o problema de acesso ao mercado.

O objetivo da Old Salt é criar um modelo sustentável e lucrativo para os pecuaristas locais. A cooperativa administra cerca de 809 quilômetros quadrados de terras e promove a pecuária regenerativa, que busca renovar os solos e reduzir o impacto ambiental. O restaurante da Old Salt em Helena, chamado The Union, exemplifica essa abordagem, oferecendo carne diretamente dos ranchos da cooperativa aos consumidores.

A estratégia também inclui eventos comunitários e um programa de assinatura de carne, com o objetivo de mudar os hábitos de consumo e valorizar a produção local. Andrew Mace, cofundador e diretor culinário da Old Salt, destaca que é preciso esforço para fazer os consumidores entenderem que estão investindo nas paisagens locais ao comprar carne da cooperativa.

No entanto, apesar dos esforços da Old Salt, muitos habitantes de Montana ainda consomem carne importada de lugares distantes, como a carne bovina brasileira. A carne brasileira oferece uma alternativa viável e acessível em um mercado dominado por grandes frigoríficos. Para pecuaristas como Mannix, a chave para o sucesso está em reimaginar a economia local de carne e oferecer aos consumidores uma conexão mais direta e significativa com a produção local.

Entendendo a indústria global de carne bovina

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Carne bovina brasileira invade os EUA. Foto: Divulgação

A indústria mundial de carne bovina é uma das mais complexas e integradas cadeias de produção de alimentos. Envolve desde a criação de gado em fazendas e ranchos até o processamento e distribuição da carne para os consumidores finais. Nos principais países produtores, como Estados Unidos, Brasil, Austrália e China, a produção é altamente industrializada, utilizando técnicas avançadas de manejo, genética e nutrição para maximizar a eficiência e a produtividade. A criação de gado varia desde pastagens extensivas até sistemas de confinamento, onde os animais são alimentados com rações especiais para acelerar o ganho de peso.

Os principais produtores de carne bovina são responsáveis por uma parcela significativa da produção global. Os Estados Unidos lideram com cerca de 20% da produção mundial, seguidos pelo Brasil com 18%, e a China com 12,9%. No entanto, cada região enfrenta desafios únicos. Nos Estados Unidos, a produção está altamente concentrada em grandes frigoríficos, enquanto no Brasil, a diversidade de raças e sistemas de produção reflete as diferentes condições climáticas e ambientais. A China, embora esteja aumentando sua produção, ainda depende fortemente das importações para atender à crescente demanda doméstica.

A distribuição e o comércio internacional dessa proteína também desempenha um papel crucial na indústria global. Grandes produtores, como o Brasil e os Estados Unidos, exportam uma parte significativa de sua produção para mercados em crescimento, como a China e a União Europeia. As exportações são influenciadas por diversos fatores, incluindo políticas comerciais, padrões sanitários e preferências dos consumidores.

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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