Safrinha é comprometida e leva o preço do cereal a bater recorde. Seca prolongada e calor extremo foram os ingredientes necessários para a quebra da safrinha de milho já dada como certa em boa parte dos Estados do Centro-Oeste e Norte do Brasil. No outro extremo, geadas no Sul não chegaram a causar quebra, mas reduziram a produtividade em Estados da Região.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já apontava retração de 5% nesta safrinha em relação à do ano passado, no entanto, algumas regiões nos Estados de Goiás e Mato Grosso beiram uma quebra de 60% causada pelo longo período de estiagem interrompido já tarde demais e com chuvas modestas e esparsas. De acordo com o engenheiro-agrônomo e consultor técnico do Sistema Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faeg/Senar) Cristiano Palavro, a entidade estima perdas de aproximadamente 3 milhões de toneladas em média no Estado.
O Paraná, por exemplo, que vende boa parte de sua produção para os Estados de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, teve que comprar o grão do Paraguai para consumo próprio. Prefeituras de outros municípios como Santa Helena, Vicentinópolis, Catalão, Ipameri, Goiatuba, Silvânia, Paraúna, Caldas Novas, Uruaçu e de outras regiões também sinalizaram decretos com pedido de estado de emergência. Em Rio Verde produtores encontram-se em alerta e relatam perdas de até 40% no potencial produtivo. O comportamento das cotações de milho, chegando próximo a R$ 50 a saca no mercado doméstico, deixou em também em estado de alerta os produtores de aves e suínos em praticamente todo o País.
Faltou milho em toda a Região Sul que é grande produtora de aves e suínos. A produção que era estimada entre 8 milhões a 8,5 milhões de toneladas, caiu para algo em torno de 5 milhões a 5,2 milhões de toneladas. Ficando assim, a queda supera os 35% nesta safrinha em relação à do ano passado. Mas há espaço para mais perdas. A escassez é o grande problema, pois o cereal é de extrema importância para a alimentação das criações. A dificuldade levou o setor a tratar com o governo federal para que agilizasse a realização de leilões. “O governo realizou leilões de um pouco que tinha. Foram feitos leilões de 500 mil toneladas, depois mais um pouco. A soma é bem pouco significativa, porque a gente precisa de um volume de 46 milhões a 50 milhões de toneladas/ano e o governo dispunha de 1 milhão”.
Já no mês de março, relatório “AgriFocus: Até quando persistirá a alta do milho?”, do Rabobank, já previa que a safrinha seria decisiva para a disponibilidade do cereal no segundo semestre, apesar da preocupação com o clima ser grande. O destaque do relatório ficou por conta das exportações brasileiras de milho, acima de 30 milhões de toneladas de uma safra total de 84,66 milhões de toneladas projetado pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).
O setor de produção de proteína animal entrou com pedido de redução do Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), para tentar trazer produto um pouco mais competitivo de países como os Estado Unidos. O pedido foi aceito pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex), vinculado à Câmara de Gestão de Comércio Exterior (Camex), no dia 19 de abril, isentando de imposto a importação de milho, que tinha alíquota de 8,0%. A medida já em vigor vale para uma cota de até 1 milhão de toneladas de milho e terá prazo de seis meses. Dessa forma, “o governo não prejudica os produtores brasileiros que plantam e vendem milho safrinha, já que a isenção do imposto valerá entre maio e outubro”, garantiu o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, André Nassar, na ocasião da aprovação do pedido.
Para o engenheiro-agrônomo e consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) Cristiano Palavro “o preço é uma incógnita”. “Não se sabe exatamente para onde ele vai. Dificilmente haverá mais elevação no preço atual que já está em um patamar extremamente alto. Em Goiás, mesmo com quebra de safra serão injetados mais de 5 milhões de toneladas no mercado, o que gera uma expectativa de queda nos preços”. O fato é que com este comportamento de preços atual, o produtor – que não tem contratos com tradings – deve optar por vendas domésticas este ano. Se têm contratos antecipados a decisão fica a cargo das empresas.