Com 70 mil suínos ele ganha R$ 100 mil com “bosta de porco”

Utilizando a tecnologia a seu favor, o pecuarista de Minas Gerais que tem um rebanho de 70 mil suínos conseguiu economizar cerca de R$ 100 mil dos R$ 150 mil que gastava!

O racionamento de energia elétrica e o aumento das contas de luz não assustam o produtor José Carlos Cepêra, dono da Fazenda São Paulo, de 1.854 hectares, localizada em Oliveira, região centro-sul de Minas Gerais. Há três anos, ele investiu na produção própria de energia para dar destino a 1 milhão de litros de dejetos comercializados todo dia por cerca de 70 mil suínos no criatório.

Ele calcula que hoje, ao instalar um segundo gerador, passou a economizar R $ 100 mil dos R $ 150 mil que vinha pagando pela eletricidade estabelecida pela Cemig, concessionária mineira. O primeiro gerador tem capacidade de 240 kVA, opera 100% à base de gás metano e exige investimento de R $ 540 mil. Cepêra também reduziu os gastos com fertilizantes, pois os resíduos dos biodigestores são usados ​​na adubação dos quase 5 milhões de pés de café da propriedade.

Em Carambeí (PR), as famílias Vink e Van der Meer também ostentam a tranquilidade de quem produz alimentos e energia. Tios e primos comandam a Fazenda Vale do Jotuva, que integra a produção de suínos, grãos e leite, e investem na geração própria de energia elétrica a
partir dos dejetos do gado.

Foi em 2013, quando os sócios apostaram em modernizações na produção de leite, que eles perceberam que uma rede elétrica não daria conta de suprir a demanda da propriedade, pelo fato de estar localizada a 15 milhas da área urbana e a energia não chegar até ali com força suficiente, sobretudo nos horários de pico.

Tinham um problema, arranjaram uma boa solução: investindo na geração própria de eletricidade com o uso de biodigestores, afinal, dispunham de valiosa matéria-prima: os dejetos das vacas. “Naquele momento, nos demos conta de que tínhamos de aproveitar essa energia e bancamos o desafio”, conta, com entusiasmo, Roderik Wouter van der Meer, de 34 anos, engenheiro agrônomo e um dos sócios da fazenda.

As iniciativas do criador mineiro e das famílias Vink e Van der Meer mostram que a geração de energia pode ser um bom negócio, ainda mais com as crises energéticas que têm se repetido nas últimas décadas. Em 2021, o Brasil se desenvolveu o pior ano de chuvas em 91 anos. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vem incentivando o produtor rural a investir em energia renovável e mais barata.

Usina da Granja: biodigestor com dejetos de animais infla em processo de fermentação e geração de biogás (Foto: Sérgio Ranalli)

“A ideia é deixar na mão do produtor rural, pequeno ou grande, a decisão de investir na fonte de energia que desejar, de acordo com suas condições e necessidade”, diz Nelson Ananias, coordenador de sustentabilidade da CNA.

Como funciona o Biodigestor

O biodigestor é o equipamento fechado utilizado para acelerar o processo de decomposição de matéria orgânica, esse processo é chamado de biodigestão anaeróbica (ausência de oxigênio). O objetivo do biodigestor é o reaproveitamento de detritos orgânicos e como resultado da decomposição desses resíduos temos biogás e biofertilizante.

O biogás ou gás metano é produzido a partir dos dejetos dos suínos, armazenados no biodigestor, sistema muito usado na China e na Índia. A fermentação se dá através do processo anaeróbico, isto é, sem a presença do oxigênio. Nesse modelo conhecido pelo nome de biodigestor solar, o gás é armazenado dentro da lona plástica que cobre o depósito de dejetos vedando todas as saídas. As caixas são de concreto em formato retangular e em cima vão os arcos para dar sustentação à lona.

Numa das pontas do biodigestor fica a entrada dos dejetos e na outra a saída. O sol que incide sobre a lona, acelera o processo de fermentação dos dejetos e libera o gás que fica armazenado dentro da lona. Uma caixa lateral serve de depósito para o biofertilizante, adubo orgânico, produzido no processo de fermentação, rico em nitrogênio, fósforo e micronutrientes.

Em muitas granjas os dejetos são jogados nos rios, poluindo o ambiente, mas eles passam pelo biodigestor e se transformam num excelente adubo, o biofertilizante, que é bombeado e distribuído nas pastagens.

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