Animal está numa barriga de aluguel e vai nascer no ano que vem; confira como funciona a clonagem de cavalos
A clonagem de cavalos pode até não ser novidade, mas o leilão de um clone ainda em gestação desperta muita atenção e interesse. Enquanto no Brasil a reprodução assistida para humanos com uso de barriga de aluguel ainda é controversa e não praticada, no mundo da criação de cavalos de raça a tecnologia é até um pouco comum – e vale muito dinheiro.
No Haras Tarlim, em Jaguariúna, interior de São Paulo, o clone de uma das éguas mais premiadas da raça manga-larga, o de Platina RB, foi arrematado, ainda em gestação em uma fêmea “barriga de aluguel”, por R$ 478.400. Quem comprou – Emiliano Abraão Sampaio Novais – é de Botucatu, no interior paulista.
O leilão de um clone ainda no ventre da “barriga de aluguel” é um negócio promissor e o investimento vale a pena, de acordo com Fernando Tardioli, proprietário do Haras Tarlim e promotor do pregão.
“O comprador pagou quase R$ 500 mil por um clone que vai nascer daqui a um ano e poderá ser utilizado na reprodução somente dentro de dois a três anos. É um investimento de longo prazo, mas é um bom negócio”, afirma.
Segundo ele, a tecnologia permite que cavalos de qualidade comprovada continuem transmitindo suas características e aprimorando outros plantéis. Há casos de garanhões e éguas que fizeram história na seleção de manga-larga, morreram e sua influência continua.
“As modernas tecnologias irão democratizar e tornar a genética de ponta cada vez mais acessível”
Fernando Tardioli, Haras Tarlim
Filha da égua Cascata, primeira fêmea equina clonada no Brasil, Platina é considerada a melhor herdeira da linhagem feminina mais importante do manga-larga. Seu pai, Amigo JO, também marcou época como grande campeão nacional e é dono de uma genética consistente, algo decisivo na hora de definir a qualidade de um animal desse porte.
É por isso que os descendentes da Platina continuam fazendo história na raça. Um deles é Delírio RB, garanhão chefe do Haras Tarlim, até hoje o cavalo mais jovem da raça manga-larga a se tornar Campeão Nacional de Progênie de Pai. Ele teve um pacote de seis coberturas leiloado no mesmo evento onde o clone de sua mãe foi arrematado. “Enquanto o cavalo for vivo e tiver vida reprodutiva útil, o comprador tem direito de fazer seis prenhezes anuais”, explica Fernando Tardioli.
Outra herdeira da genética campeã, Glamour RB, filha de Delírio RB e Poesia RB, é a atual 1a Reservada Grande Campeã Nacional de Marcha e bateu recorde para a raça, ao ter 50% dos seus direitos adquiridos no Leilão Tarlim, por R$ 1,3 milhão, pela Fazenda Castanheiras, localizada no interior de São Paulo.
Graças ao avanço da biotecnologia e da medicina veterinária, os leilões hoje não comercializam apenas o animal, mas também sua genética, e esse tipo de mercado tem ficado cada vez mais comum. De acordo com Fernando, essa tecnologia permite a multiplicação do potencial genético de animais invendáveis, que, devido ao alto valor, se tornam impossíveis de serem comercializados. É uma maneira de democratizar o acesso de médios e pequenos criadores aos animais de ponta, diz.
O empresário explica que o valor do animal clonado é definido a partir do animal original. “A Platina que foi clonada vende embrião por R$ 88 mil. Daí você consegue ter mais ou menos uma referência de preço. A gente consegue, em média, seis embriões viáveis por ano de uma égua desse nível, então o clone nascido vale alguns milhões de reais”, ele explica.
Segundo Fernando, o clone do animal foi feito a partir de células coletadas da calda da égua. “Elas são mais preservadas, porque não têm exposição ao sol. A qualidade é melhor do que a de células coletadas de outra parte do corpo”, diz.
Hoje, o Haras Tarlim possui outros cinco clones em gestação. Esse mercado, segundo Fernando, só faz crescer. “Tem uma aceitação enorme no universo de equinos em geral. Todas as raças têm vários animais clonados. A raça manga-larga conta com cerca de 20 animais já nascidos por meio da tecnologia.”
Um dos clones mais antigos, que é o da égua Cascata, mãe da Platina, continua em produção. “Já nasceram os primeiros filhos do clone”, conta o criador.
Durante o leilão, os compradores, além da oportunidade de arrematar o clone da Platina RB, também disputaram os direitos reprodutivos da égua. Quem arrematou tem direito agora de ficar com 100% da produção de embriões da fêmea por um ano. “Ele compra no escuro, mas quanto render de embrião é do arrematante”, esclareceu o proprietário do haras.
O pregão aconteceu no mês passado. O 3o Leilão Haras Tarlim teve o Haras ACF como convidado especial e obteve média geral de R$ 231 mil e faturamento total de R$ 3,657 milhões. Ao todo, foram 27 lotes leiloados e mais de 500 pessoas participaram do evento. Dentre os destaques, figurou também a venda de 50% da potra Catedral da Tarlim, adquirida por R$ 265.200 pelo criador Vinicius João Cury, de Tijucas do Sul (PR).
Segundo Paulo Horto, proprietário da Programa Leilões, que organizou o pregão, a qualidade da oferta e a demanda em alta foram fatores decisivos para o êxito do Tarlim.
“Os criadores não deixam passar a oportunidade de adquirir genética que irá contribuir para o aprimoramento de seus plantéis. É o que eu sempre digo: alto padrão no palco é venda garantida”, afirma o proprietário da Programa Leilões.
POR TEXTO: KARINA CAMPOS – EDIÇÃO: SEBASTIÃO NASCIMENTO
Fonte: Globo Rural