Clima extremo e turbulência política colocam resiliência do setor arrozeiro à prova em 2024

As condições adversas, somadas ao acamamento de lavouras e relatos de doenças como a brusone, atrasaram e fragmentaram a colheita.

O mercado do arroz em 2024 apresentou uma trajetória marcada por desafios substanciais, refletindo uma combinação de fatores climáticos, econômicos, logísticos e políticos que moldaram o desempenho do setor ao longo do ano.

A média da saca de 50 quilos de arroz em casca no Rio Grande do Sul (58/62% de grãos inteiros e pagamento à vista), principal referencial nacional, vai encerrando o ano cotada a R$ 100,80. Em comparação ao mesmo período do ano passado, houve uma queda de 19,58%.

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O ano começou sob uma postura de cautela. “Produtores enfrentaram dificuldades climáticas, como chuvas intensas e alagamentos no Sul, afetando a qualidade e produtividade das lavouras, especialmente no Rio Grande do Sul”, lembra o analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.

As condições adversas, somadas ao acamamento de lavouras e relatos de doenças como a brusone, atrasaram e fragmentaram a colheita. Apesar disso, produtores mais capitalizados optaram por reter o produto, buscando condições ainda melhores.

O mercado, por sua vez, registrou baixa liquidez, com forte pressão compradora por preços mais baixos já no final do mês de janeiro. “Essa dinâmica resultou em preços que ultrapassaram R$ 140,00 por saca para o arroz nobre acima de 62% de grãos inteiros no pico da entressafra (entre dezembro e janeiro), mas cederam para até R$ 98,50 FOB Fronteira Oeste já em abril, devido à pressão de oferta e baixa movimentação”, pondera Oliveira.

As enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul deixaram marcas indeléveis em 2024. Silos e maquinários inundados, comprometendo o armazenamento e a operacionalização nas propriedades. Dificuldades no transporte, com estradas danificadas ou bloqueadas, elevando custos logísticos. “A partir daí, o período do segundo trimestre foi marcado por fortes turbulências políticas, como especulações sobre a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) para importações e os controversos leilões de importação promovidos pelo governo”, comenta o analista.

Paralelamente, a disparada do dólar (acima de R$ 5,30 já no começo de junho) trouxe certo alívio e ampliou a competitividade do arroz brasileiro no mercado externo. “As exportações emergiram como alternativa para o escoamento da produção depois do travamento do mercado interno após boas vendas em maio – corrida ao varejo e altos estoques formados pelos consumidores -, mas altos custos internos e a supervalorização do produto brasileiro limitaram o aproveitamento dessas oportunidades”, explica o consultor.

A partir de julho – mês característico por recessos – o mercado seguiu em baixa liquidez, com demanda interna significativamente retraída, enquanto os preços internacionais sofriam pressão do início da entrada da safra asiática e iminência da norte-americana (meados de setembro).

A liberação das exportações indianas e o aumento nas importações de arroz asiático após a retirada da TEC elevaram os estoques de passagem, causando maior pressão interna. No varejo, marcas comerciais variavam entre R$ 24,00 e R$ 26,00 para pacotes de 5 quilos, enquanto marcas nobres alcançaram até R$ 35,00.

Agosto esboçou sinais de recuperação no consumo interno, mas os preços continuaram pressionados pela oferta global e sazonalidade. No Rio Grande do Sul, os impactos do clima adverso também geraram atrasos no plantio da nova safra, as negociações permaneceram moderadas e os preços lateralizados durante boa parte do segundo semestre, com marcas nobres alcançando até R$ 200,00 o fardo de 30 quilos do produto beneficiado, enquanto marcas “de combate” operavam abaixo de R$ 150,00.

Os meses finais do ano foram marcados por forte retração no consumo doméstico e pressão baixista intensa, com as cotações perdendo os R$ 100,00 por saca antes do final de novembro na Depressão Central gaúcha

Uma safra brasileira robusta estimada em 11,587 milhões de toneladas para 2025, a ampla oferta no Mercosul (potencialmente superior a 16 milhões de toneladas) e a baixa liquidez interna mantiveram os preços pressionados, variando entre R$ 94,50 e R$ 110,00 no Rio Grande do Sul.

“Promoções agressivas no varejo não estimularam a demanda de forma significativa”, ressalta Oliveira. A persistente desvalorização do real (atingindo R$ 6,30 por dólar em meados de dezembro) favoreceu as exportações, mas sem grandes resultados até o encerramento do ano.

O ano de 2024 consolidou desafios estruturais para o setor, com custos de produção elevados, logística afetada por condições climáticas extremas e uma dependência crescente das exportações para sustentar preços. “A combinação de políticas públicas controversas, sazonalidade do consumo e pressão de preços internacionais evidenciou a necessidade de estratégias mais robustas de competitividade e diálogo entre o setor produtivo e o governo”, finaliza Oliveira.

Fonte: Agência Safras

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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