Clima desafiador para os produtores em 2024: Possível retorno do La Niña

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) estima uma probabilidade de 65% para a ocorrência do fenômeno, o qual tende a diminuir as precipitações no Sul.

Após um ano impactado pelo fenômeno El Niño, que causou seca no Norte e tempestades frequentes no Sul do Brasil, prejudicando a agricultura em diversas regiões, os agricultores estão agora atentos ao próximo desafio: o La Niña. A probabilidade de esse evento climático ocorrer no segundo semestre deste ano está aumentando, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), que estima uma chance de 65% de que o La Niña se manifeste entre agosto e outubro de 2024.

Durante os períodos de La Niña, geralmente há uma diminuição das chuvas no Sul e um aumento no Norte e Nordeste do Brasil. No Sudeste e Centro-Oeste, existe a possibilidade de períodos frios e chuvosos.

O meteorologista Willians Bini, da Climatempo, destaca que não há motivos para pânico no momento, mas reconhece a necessidade de vigilância no Sul, especialmente em relação ao possível retorno do La Niña.

“Basta observar que o excesso de chuvas atual no Sul do Brasil está deixando de ser uma realidade, e, ao contrário, já existe um risco de irregularidades nas chuvas. Essa informação torna-se extremamente relevante para a agricultura no Sul, devido ao possível déficit hídrico em algumas áreas”, afirma Bini.

Entre agosto e outubro, a escassez de chuvas no Sul torna-se uma preocupação significativa para os agricultores, especialmente os do Rio Grande do Sul, que começam o plantio de soja no final de setembro.

O La Niña esteve presente de 2020 até março de 2023, resultando em secas históricas na região sul do Brasil.

Desirée Brandt, meteorologista da Nottus, destaca que o milho e a soja são afetados pela falta de chuvas, mas, dado que este é o primeiro ano de um possível La Niña, espera-se que sua interferência seja moderada. No entanto, ela não descarta a possibilidade de uma seca severa se repetir caso o fenômeno permaneça ativo em 2025.

Preocupações no Sul

A perspectiva de enfrentar novamente os impactos do La Niña é algo que os produtores gaúchos, como Everton Behrenz, preferem evitar. As secas ocasionadas pelo La Niña nas safras 2021/22 e 2022/23 deixaram recordações desfavoráveis para Behrenz, que cultiva grãos em Tiradentes do Sul, no noroeste do estado.

Com uma propriedade de 400 hectares, sendo 25% de área própria e o restante arrendado, Behrenz enfrentou perdas de até 90% na colheita de soja e milho nas duas temporadas devido à escassez de chuvas.

“Normalmente, colhemos cerca de 60 sacas de soja por hectare. Com a seca, as melhores áreas produziram apenas 20 sacas por hectare. Em algumas, o rendimento foi de apenas 5 sacas por hectare”, relembra Behrenz.

Ciente da possível ocorrência do fenômeno este ano, ele destaca a importância de investir em adubação e controle de pragas, mas ressalta que não é o momento de gastar com novos equipamentos ou terras.

Ronaldo Brandalise, produtor que cultiva soja em 340 hectares nos municípios gaúchos de Quatro Irmãos, Erebango e Estação, destaca que o ideal seria contar com sistemas de irrigação para enfrentar os desafios do La Niña.

“Considerando que nossas áreas não são naturalmente propícias para isso, estamos focados em implementar práticas como a cobertura do solo com palhada, calagem e investimentos em agricultura de precisão. Isso visa proteger as plantas contra os efeitos prejudiciais da estiagem”, afirma o produtor, que enfrentou perdas de até 50% na safra 2022/23 devido à seca.

Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, não há preocupação quanto à escassez de chuvas durante a safra, mas há a possibilidade de a precipitação ser um pouco mais tardia. De acordo com Bini, da Climatempo, as chuvas podem iniciar em outubro em vez de setembro.

Por outro lado, Desirée, da Nottus, destaca a atenção necessária para possíveis doenças nas plantações, pois o La Niña aumenta as chances de invernadas (períodos frios e chuvosos durante o verão) durante a época da colheita: “As chuvas propiciam o surgimento de doenças fúngicas”, alerta a meteorologista.

Alívio nas regiões norte e nordeste

Enquanto o La Niña gera preocupações no Sul, ele pode ser benéfico para as regiões Nordeste e Norte, que enfrentaram secas severas no último ano.

No Nordeste, a meteorologista destaca que o La Niña atua em conjunto com o Oceano Atlântico. A ocorrência de chuvas depende do aquecimento do oceano nas áreas costeiras. Atualmente, os modelos de longo prazo indicam atrasos nas chuvas no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mas quando chegarem, espera-se que sejam bem distribuídas.

“São condições favoráveis. O La Niña pode proporcionar um alívio adicional para a próxima safra, com chuvas mais equitativamente distribuídas no Matopiba”, afirma Bini.

Na Região Norte, que não experimentou cheias em 2023, a expectativa é de retorno à normalidade com o término do El Niño. De acordo com Desirée, embora o verão termine com os níveis dos rios ainda baixos, a tendência é que as chuvas voltem à regularidade na região.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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