Ciclo pecuário do Nelore: produção brasileira de alta qualidade 

Raça Nelore responde por 80% do rebanho bovino nacional e tem a genética como principal riqueza; conheça o ciclo pecuário do Nelore que garante a produção brasileira de alta qualidade

Presentes no Brasil há mais de 150 anos, os bovinos da raça Nelore podem ser considerados a grande vitória da carne brasileira. A carne é considerada de altíssima qualidade, por isso, é cada vez mais demandada pelos consumidores nacionais e internacionais. O gerente de Fomento do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) da ABCZ, afirma que o trabalho de genética no ciclo pecuário do Nelore é rigoroso.

“A genética é um insumo que perpetua no rebanho da raça Nelore, porque se o criador colocar um touro Nelore P.O. melhorador [puro de sangue], a filha dele vai ser melhor. Essa filha tem um valor genético e vai transmitir para suas crias”, explica Ricardo Abreu.

O rebanho nacional dessa raça zebuína gira em torno de 220 milhões de cabeças, segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Esse número representa cerca de 80% de todo o gado nacional. 

Como é definido o ciclo pecuário da raça Nelore?

O ciclo pecuário são as etapas de desenvolvimento dos bovinos de corte. Vai do nascimento até os animais estarem prontos para o abate. No caso do Nelore, o foco do ciclo é a qualidade da carne, a otimização da produção e a rentabilidade.  

Visando esses fatores, a atenção é redobrada nas quatro fases do ciclo: cria, recria, engorda e abate. Cada uma dessas etapas tem uma duração específica e requer manejos adequados para garantir a saúde e o desempenho dos animais Nelore. 

Fase da cria

A primeira fase do ciclo pecuário do Nelore é essencial para a formação de um rebanho produtivo e saudável. A fase da cria começa na concepção, que acontece na estação de monta — onde as fêmeas são expostas ao touro ou à inseminação artificial. Em seguida, vem o nascimento e, depois, o desmame do bezerro. A duração total deste ciclo é de aproximadamente oito meses.

“Um grande patrimônio dentro do sistema de cria são as fêmeas […] porque elas são as mães dos produtos que vão para a genética ou que vão para o abate mais cedo”, destaca Ricardo. Segundo o especialista, “a vaca que emprenha primeiro tem 90% de chance de ser a mãe do bezerro melhor desmamado no lá na frente.”

Estação de monta na raça Nelore

A estação de monta é um período crítico no manejo reprodutivo dos bovinos Nelore. Ela é planejada para maximizar a eficiência reprodutiva e garantir que os nascimentos ocorram em uma época favorável, alinhando-se com a disponibilidade de pastagens e melhores condições climáticas. 

O período ideal para realizar a etapa é no final da seca, início do período chuvoso, tempo que coincide com a primavera e verão no Brasil. No entanto, existem exceções. “Tem fazendas que têm uma boa estrutura de manejo, disponibilidade de alimentos que, independentemente da seca ou do período de chuva, fazem uma estação de monta”, explica Abreu. 

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Raça Nelore. Foto: Divulgação

Amamentação

A fase de amamentação é essencial para garantir o desenvolvimento inicial dos bezerros Nelore, fornecendo-lhes os nutrientes necessários para o crescimento. Nas primeiras 24 horas de vida do animal, é crucial que ele consuma o colostro — leite amarelo e grosso produzido nos primeiros dias após a vaca parir. O colostro é rico em anticorpos, proteínas e energia, que são fundamentais para a imunidade. 

Ao atingir a faixa dos 4 a 6 meses de nascimento, os bezerros Nelore começam a aumentar o consumo de alimentos sólidos, preparando-se para o desmame.

Desmame

A etapa do desmame — transição da dependência do leite materno para a alimentação independente — deve ser conduzida com cuidado para minimizar o estresse dos animais. Geralmente, esse passo ocorre por volta dos 7 meses de idade do Nelore.

O manejo deve oferecer suplementação adequada, visando uma oferta de nutrientes necessários para um bom crescimento. Além do mais, é imprescindível um ambiente tranquilo e confortável, em que o Nelore tenha acesso à água limpa e sombra constantemente.

Fase de recria: a mais longa do ciclo pecuário do Nelore

A fase de recria é a segunda etapa do ciclo pecuário do Nelore, ocorrendo após o desmame e antes da engorda, quando o garrote ou a novilha está com 12 a 15 meses. Este período é fundamental para o desenvolvimento corporal dos animais, tendo duração de 8 a 24 meses, dependendo dos objetivos do criador. 

Como o crescimento, ganho de massa muscular e estrutura corporal são o foco desta etapa, é primordial fornecer uma dieta rica em proteínas e energia. “A recria é uma fase muito importante da vida do animal, porque ele foi tirado do carinho da mãe e ele tem que se virar sozinho”, detalha Abreu enfatizando a atenção com a disponibilidade de nutrientes. “Tem que ter uma suplementação, tem que ter todo um cuidado”, afirma. 

Ao atingir a faixa dos 18 meses, o Nelore começa a ser preparado para a engorda, com isso, há um ajuste na dieta do animal para estimular o ganho de peso na fase seguinte. 

Raça Nelore. Foto: Divulgação

Fase de engorda

Na terceira etapa do ciclo pecuário do Nelore, o objetivo principal é maximizar o ganho de peso dos animais de maneira rápida e eficiente, visando a produção de carne de alta qualidade. Esta fase ocorre após a recria e antes do abate, geralmente, com duração de 6 a 12 meses. 

Na fase de engorda, o manejo visa:

  • o aumento do peso dos animais de forma eficiente para atingir, no menor tempo possível, os quilos desejados para o abate;
  • a qualidade da carne, focando no marmoreio, suculência e textura.

Para garantir que essas metas sejam atingidas, assim como na fase de recria, a alimentação do animal precisa ser rica em energia, fazendo ajustes conforme a necessidade. Se for preciso, deve-se oferecer suplementos vitamínicos e minerais aos animais.

“A gente acredita que o Zebu Nelore acaba de formar ali com 20 a 24 meses, seja para terminação, seja para virar touro ou matriz. A velocidade disso vai depender do sistema de produção de cada fazenda”, ressalta o gerente PMGZ da ABCZ.

Entre os sistemas de produção para engorda dos Nelore, estão:

  • Confinamento: foca no controle total sobre a dieta e ganho de peso rápidos dos animais, uma vez que os Nelore são mantidos em instalações fechadas e alimentados com dietas balanceadas;
  • Semi-confinamento: prioriza o aproveitamento da pastagem disponível, combinado-a com suplementação alimentar oferecida nos cochos para acelerar o ganho de peso; 
  • Pasto: os animais são mantidos em pastagens de alta qualidade e recebem suplementos quando necessário. Este sistema tem o menor custo e o manejo mais simples, entretanto, o ganho de peso pode ocorrer lentamente.

Fase de Abate: o fim do ciclo pecuário do Nelore

A última etapa do ciclo pecuário do Nelore, onde os animais são preparados e finalmente enviados para o abate, é crucial para concretizar todo o trabalho realizado anteriormente, garantindo uma carne de alta qualidade para atender às exigências do mercado.  

A idade de abate varia entre 18 e 30 meses de idade, dependendo do sistema de manejo e do tipo de alimentação utilizado (confinamento, semi-confinamento ou pasto). O Nelore PO — puro de sangue — tem que ter pelo menos 20 arrobas, equivalente a 300 kg, antes do abate e de atingir os 30 meses. 

Nos últimos 30/60 dias antes do abate, a dieta pode ser ajustada para melhorar o acabamento de gordura e a qualidade da carne. Para isso, pode-se adicionar grãos ou outros alimentos energéticos.

Touros Nelore - Chacara Navirai
Foto: Divulgação

A caminho do frigorífico

Quando chegar o momento de abate, o criador deve garantir que os Nelore estão saudáveis e livres de doenças. Também deve-se monitorar as condições de transporte até o frigorífico, assegurando a diminuição do estresse e evitando lesões aos animais.

Na chegada ao frigorífico para ser abatido, o Nelore passará por uma inspeção para verificar o estado de saúde. Depois, o animal seguirá para um período de descanso, com duração de 12 a 24 horas. O objetivo é reduzir o estresse passado durante o transporte e garantir uma carne de melhor qualidade. Após o período de relaxamento, o Nelore segue para o abate. 

Depois do abate, os órgãos internos são retirados e as carcaças são divididas em cortes específicos, conforme as exigências do mercado. Na sequência, as carcaças são resfriadas para garantir a qualidade e segurança da carne.

“O que vai influenciar uma carne de qualidade é um bom manejo, respeitando o animal e que ele não passe fome, que ele tenha condição de expressar o seu potencial genético”, salienta Ricardo Abreu à reportagem. 

Como otimizar o ciclo pecuário do Nelore?

A otimização do ciclo pecuário do rebanho Nelore ocorre dentro da porteira. Um dos pontos de atenção é o manejo sanitário, com vacinação adequada e seguindo as recomendações técnicas de prevenção de doenças, garantindo a saúde e o bem-estar do rebanho. 

Outro passo, é a preservação da genética Nelore. “O criador tem que identificar aqueles animais que estão contribuindo geneticamente para o propósito, falando de Nelore, de gado de corte”, diz o gerente de Fomento do PMGZ da ABCZ. “Os animais têm que ganhar mais peso em menos tempo, nas idades importantes e quem coloca o bezerro no chão é a vaca. Então, o criador tem que conhecer seu rebanho, principalmente, as fêmeas”, reforça Abreu. 

Fonte: Agro Estadão

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