Segundo relatos feitos à CNN Brasil, o ministro de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, sinalizou que o governo asiático deve solucionar o impasse em breve
O ministro de Relações Exteriores, Carlos França, pediu nesta quinta-feira (21) ao ministro de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, o fim do veto à compra da carne brasileira, que já dura seis semanas. Lembrando que, até o momento, o embargo já dura quase 50 dias. Desde então, o mercado segue truncado e com grande desvalorização do boi gordo no mercado interno.
A solicitação, relatada à CNN Brasil por auxiliares do governo, foi realizada por meio de uma videoconferência. Diante disso, o mercado pode voltar a ter esperança de uma solução rápida e a retomada das exportações para o país que é responsável por quase 60% da carne bovina brasileira que é exportada pelo país.
Na reunião, de acordo com interlocutores do ministro, Wang Yi sinalizou que o governo chinês deve solucionar em breve o impasse. Chanceler pede a ministro chinês fim do veto à carne brasileira
Na reunião, de acordo com interlocutores do ministro, Wang Yi sinalizou que o governo chinês deve solucionar em breve o impasse.
Na quarta-feira (20), o Ministério da Agricultura autorizou os produtores de carne brasileira a armazenarem em contêineres refrigerados a proteína animal que seria destinada à China.
Para evitar o acúmulo da produção, a pasta também orientou os frigoríficos brasileiros a venderem a carne bovina ao mercado interno ou a outros países importadores do produto.
O Brasil interrompeu voluntariamente a exportação de carne para a China, seu maior mercado, ainda no começo de setembro, após a confirmação de dois casos da doença da vaca louca em duas fábricas. Depois, porém, mesmo com o controle dos casos no Brasil, a interrupção foi mantida pelo país asiático.
A determinação do Ministério da Agricultura para que os frigoríficos suspendam quaisquer novas produções de carne bovina destinadas à China e a autorização para que empresas com vendas habilitadas àquele mercado possam estocar os cortes produzidos antes do embargo nas exportações tiveram reflexos no mercado pecuário brasileiro.
‘Fator China’ aprofunda queda dos preços do boi gordo
Após a divulgação da notícia, na noite de terça-feira, o contrato do boi gordo para novembro na B3 recuou 0,56% ontem, a R$ 267,50 por arroba. Já o vencimento com entrega para novembro cedeu 1,77%, para R$ 274 a arroba.
Embora o Ministério da Agricultura garanta que não está emitindo a certificação para exportação desde 4 de setembro, quando suspendeu as vendas para a China voluntariamente após identificar casos atípicos do mal da “vaca louca”, as indústrias não paralisaram totalmente a produção, confiando na retomada rápida dos negócios com os chineses, segundo fontes do segmento.
Conforme Lygia Pimentel, CEO da consultoria Agrifatto, os frigoríficos seguiram com a produção para a China com a ideia de manter “a roda girando”. Ela lembrou que o histórico de 2019, quando a suspensão durou apenas 13 dias, e a dificuldade de se encontrar contêineres podem ter pesado na decisão.
“As empresas continuaram produzindo para não perder a oportunidade de venda e o booking do navio. Justamente por essa dificuldade [de contêineres], essas empresas embarcaram cerca de US$ 600 milhões para a China [após a suspensão] sem ter certeza de que as cargas seriam recebidas”, disse.
Em nota, o Ministério da Agricultura disse que não houve nenhuma nova orientação aos frigoríficos e que o ofício – revelado pelo Valor – apenas atendeu ao pedido formalizado pelo setor produtivo para estocar os cortes produzidos antes de 4 de setembro.
Mas uma fonte da Pasta admitiu que o documento não seria necessário se as empresas tivessem sido mais cautelosas. “A exportação foi suspensa por causa da ‘vaca louca’ e as empresas continuaram produzindo sem saber quando retornariam a exportação. E ainda correndo o risco de a retomada da exportação poder ser com produtos produzidos apenas a partir da data de reabertura da exportação”, disse a fonte.
Lygia Pimentel acredita que a medida ainda poderá ser benéfica para as margens dos frigoríficos enquanto a suspensão continuar. “O preço do boi caiu mais do que o da carne no atacado Com isso, a margem doméstica melhorou para a indústria. Agora [com a decisão do governo], o frigorífico consegue tirar o ‘prêmio China’ das negociações e consegue pagar menos pelo animal”.
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No longo prazo, a analista alerta que a forte interrupção chinesa poderá atrapalhar o planejamento de pecuaristas e frigoríficos. Isso porque os números de confinamento estão caindo desde o embargo. Caso a suspensão demore mais, o fornecimento de carne tenderá a cair e os preços poderão disparar no começo de 2022.
“Essa queda assustou muito o pecuarista, que não mandou o animal para confinamento e o deixou apenas no pasto. Só que as chuvas só voltaram agora e, em janeiro, não haverá tempo para ter animal de pasto para abate. Existe o risco de uma queda dramática de oferta e isso pode firmar novamente os preços do boi”, acrescentou.
Com informações da CNN e Valor Econômico