China quer renegociar preços da carne bovina do Brasil

Assim como fez com o Uruguai, chineses querem pagar menos pelos contratos fechados nos últimos meses; volume recorde de importação chinesa elevou o preço do boi.

As negociações Brasil e China no setor de carne bovina passam por um entrave. Os importadores chineses não querem mais pagar os preços acertados pela carne e propõem uma renegociação dos valores. Na avaliação deles, os preços estão elevados, os lucros da indústria são grandes e o câmbio permitiria um novo acerto.

Essa renegociação afeta pequenos e grandes frigoríficos, mas os que estão chegando agora ao mercado chinês, devido à ampliação de indústrias habilitadas a exportar para o país asiático no final de 2019, estão com mais dificuldade nessas renegociações.

Muitos deles fizeram empréstimos para as operações de embarque e agora têm dificuldades para receber os valores acertados. Essa mudança de preço proposta pelos importadores ocorre tanto em produtos que ainda estão em navios em direção à China quanto nos que já chegaram ao país.

Na avaliação dos brasileiros, os preços realmente subiram muito, principalmente nos meses finais de 2019. Quem elevou esses valores, porém, foi a própria China.

Ao aumentar as compras de carne em plena entressafra de bois no Brasil, os chineses provocaram uma explosão nos preços do animal no pasto. Os valores chegaram a R$ 231 por arroba. Agora estão em R$ 192, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

As indústrias brasileiras pagaram esses valores elevados e a renegociação nos patamares propostos pelos importadores não cobriria os custos do boi e da operação de exportação.

Após um grande frigorífico da América do Sul fazer negócios recentes com os chineses a preços menores, eles querem esse novo valor como parâmetro.

Segundo o dirigente de um sindicato do setor, há um novo contexto preocupante. A oferta de gado no pasto é pequena, os preços do boi vão se manter elevados, próximos de R$ 190 por arroba, e os valores que a China quer pagar não cobrem os custos da indústria nacional.

Com isso, haverá redução de oferta de carne para os chineses no primeiro semestre.

Alguns exportadores estão tentando desviar a carne para o Irã, outro importante comprador do Brasil, mas os negociadores do país persa seguramente vão levar em consideração esse novo cenário.

A China importou um volume de carne sem precedentes no ano passado, devido à peste suína africana no país. Estimativas indicam compras no valor de US$ 14 bilhões.

Os dados semanais da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) indicam que os preços, por ora, continuam elevados. Nas três primeiras semanas deste mês, o valor médio da tonelada de carne bovina foi de US$ 5.069, com alta de 35% em relação a igual período de 2019.

A forte presença chinesa não se restringiu ao Brasil. A China liderou as compras também na Argentina, no Uruguai e na Austrália. Neste último país, os chineses desbancaram japoneses, americanos e coreanos no volume e no preço.

Os chineses importaram o recorde de 300 mil toneladas de carne bovina da Austrália no ano passado e pagaram 16% mais pelo produto do que os japoneses. Em relação aos valores da própria importação em 2018, pagaram 21% pela tonelada.

Adaptado da Folha de São Paulo

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