Sendo responsável por comprar mais de 60% do volume da oleaginosa que é exportada do Brasil, agora a China diz que a soja brasileira “tem pouca qualidade”; Veja!
O maior comprador de soja em grãos do Brasil, a China, não está satisfeita com a qualidade do produto que recebe em seus portos. Segundo os asiáticos, alguns “problemas” na padronização e qualidade dos grãos que estão sendo entregues, os forçaram a ingressar na Organização Mundial do Comércio – OMC, com um documento que visa melhorar a padronização da classificação dos grãos.
Entretanto, antes de mais nada, é preciso pontuar que as críticas não possuem fundamentos, tendo em vista que o grão brasileiro é considerada, por muitos, como tendo atributos que são superiores até mesmo aquela produzida nos EUA, principal concorrente do Brasil.
O documento, que pode ser visto abaixo, proposto pela Administração Estatal de Reservas Alimentares e Materiais, traz as seguintes informações: ” O presente Padrão define termos relacionados a soja e estabelece requisitos de classificação, qualidade, métodos de inspeção, marcação ou rotulagem, embalagem, armazenamento e transporte de soja. O presente Padrão aplica-se aos grãos de soja comercial comprados, armazenados, transportados, processados e vendidos“, aponta.
Entretanto, cabe ressaltar aqui que não existe uma data prevista para que tal acordo comercial seja firmado. A nova proposta ainda está em discussão, capitaneada, no Brasil, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com participação técnica da Embrapa e Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).
Apesar de parecer distante e de grande impacto para os agricultores, a Embrapa apresenta abaixo os dados que mostram que essa realidade é tangível. Outro ponto que precisamos levar em consideração é o preço que será pago por essa maior qualidade do grão.
Ainda segundo o documento protocolado pelos asiáticos, os requisitos da China tendem a substituir o padrão vigente (GB 1352/2009), que versa a respeito da integridade física dos grãos. Confira abaixo a tabela proposta:
A Tabela acima – presente no documento – apresenta a proposta que enquadra a classificação em grupos: Grupo 1, com 95% ou mais de exemplares ideais, até o grupo 5, com 75% ou mais de amostras impecáveis. O documento também estabelece a categoria “fora de tipo”, onde encaixam-se espécimes inferiores à quinta categoria.
A qualidade de soja com índice elevado de proteína deve atender às especificações previstas. Desta forma, a exigência é que a soja seja enquadrada em três grupos de teor de óleo e de proteína. Quanto ao primeiro atributo, variam entre 22% a 20%. A respeito da proteína, diferem de 44% ou mais a 40% ou mais.
Qualidade brasileira é comprovada e deve ser respeitada
A soja é valorizada principalmente por seu alto teor de proteína, que é superior ao de outras oleaginosas. Por isso, o grão tornou-se matéria-prima indispensável para produção de farelo proteico, utilizado principalmente na fabricação de rações para aves, suínos, bovinos e animais de pequeno porte. “A qualidade é um aspecto favorável, tanto para a indústria brasileira consumidora de soja quanto para países que importam o grão em larga escala, como é o caso da China”, explica o analista econômico da Embrapa Marcelo Hirakuri.
Enquanto o teor médio de proteína da soja brasileira nas três safras analisadas foi de 36,69%, o da soja norte-americana foi de 34,70%, entre 2006 e 2015, caindo para 34,1% na safra 2017, segundo a United States Soybean Export Council.
Segundo os dados avaliados pela EMBRAPA, o estado que apresentou a maior média no teor de proteína foi a Bahia, com 38,16%, e o Paraná foi o estado com a menor média: 36,74%. Estudo realizado com a safra 16/17.
Quanto mais alto for o teor de proteínas nos grãos, tanto melhor será para a produção de farelos com teores de proteína mínimos exigidos pela legislação, atingindo-se até o ideal para a produção do farelo com alto teor de proteína. “Quanto maior o teor de proteínas nos grãos utilizados para produzir farelos, menores serão os processos industriais necessários para se adequar aos padrões”, explica o pesquisador José Marcos Gontijo Mandarino, da Embrapa Soja.
Desafio mundial para a Soja
O maior desafio está relacionado ao índice de proteína, e aqui afirmamos que é um desafio a nível mundial. “Ninguém no mundo tem os níveis que estão sendo requeridos. Já estive na China algumas vezes em reuniões no ministério da agricultura chinês com outros países produtores de soja, e os chineses sempre reclamaram da qualidade da soja”, ressaltou o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Ricardo Arioli
No entanto, conforme ele, as queixas que se iniciaram ainda nos anos 2000, eram mais voltadas às questões de impurezas que, geralmente, eram provenientes do próprio navio e não da produção da soja em si. Quanto a questão do nível de proteína do grãos, fontes do setor ouvidas pela reportagem endossam a opinião de Arioli de que nos últimos 40 anos, empresas de melhoramento genético têm priorizado a produtividade, característica que tem uma relação inversa com o teor de proteínas.
Por isso, quanto mais soja se produz por hectare, menor o teor de proteínas que estará presente no grão. Conciliar essas duas importantes características é um desafio em nível mundial para os pesquisadores que desenvolvem variedades de soja.
Desta forma, é importante que se diga, também, que além da questão genética, os fatores ambientais merecem atenção, como a disponibilidade de nitrogênio. Esse elemento, acumulado durante o ciclo da soja, é utilizado no período de enchimento de grãos.
Entre as fontes de nitrogênio que a planta utiliza, a principal é o da fixação biológica, que é dependente de água. Portanto, as condições climáticas durante o cultivo da soja interferem na concentração de proteína nos grãos.
China comprou 67% da soja brasileira nos cinco primeiros meses de 2022
A China importou 28,743 milhões de toneladas de soja do Brasil de janeiro a maio de 2021. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, o volume é 12% inferior às 32,735 milhões de toneladas em 2021. O país é o maior comprador da oleaginosa brasileira.
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Em segundo lugar, ficou a Espanha, com 2,098 milhões de toneladas, 21% acima de igual período do ano passado. Em terceiro lugar aparece a Holanda, com 1,371 milhão de toneladas, queda de 11% ano a ano.
No geral, as exportações brasileiras de soja em grão totalizaram 43,023 milhões de toneladas em 2022, com uma receita cambial de 24,1 bilhões de dólares. No entanto, em igual período do ano passado foram 46,471 milhões de toneladas, sendo que em todo o ano de 2021 o Brasil exportou 86,1 milhões de toneladas, faturando 38,6 bilhões de dólares.