A gigante asiática resolveu “boicotar” o Brasil e manteve o embargo das exportações da carne brasileira, mas agora poderá ficar sem carne no mercado!
Com as exportações brasileiras de carne bovina suspensas há quase dois meses, a China segue habilitando plantas de outros países para o fornecimento desses produtos. Nas últimas semanas, aumentaram os relatos de que a China está buscando outros fornecedores mundiais de carne bovina para suprir a lacuna deixada pelo Brasil.
Após manter o embargo da carne brasileira, gerando apreensão no mercado, com uma desvalorização de 11,8% no valor da arroba bovina no último mês, a China corre atrás, habilitando outros países para tentar suprir a alta demanda pela proteína bovina. Para se ter uma ideia do tamanho do prejuízo causado o Brasil, com dois meses de embargo, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estima um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão se as exportações continuarem suspensas até dezembro. E a situação permanece um incógnita para o setor, afirmam analistas de mercado.
Recentemente, o governo chinês habilitou plantas exportadoras do Uruguai, o que resultou “em forte valorização da arroba no país vizinho”. Alguns frigoríficos presentes nos EUA e na Itália também foram habilitados pelos chineses, acrescenta a IHS.
No entanto, observam os analistas da IHS, o Brasil possui papel estratégico no fornecimento de carne bovina ao mercado global e, portanto, não deve demorar muito tempo para retornar ao mercado da China.
China busca carne na concorrência e paga mais caro
Na última sexta-feira, o Uruguai anunciou que seu modelo de certificado de saúde veterinária foi aceito pelo Gabinete de Assuntos da Sede do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, região autônoma no sul da China. A abertura do mercado vale tanto para carne bovina quanto para carne ovina, com ou sem osso, e seus subprodutos.
Para exportar, os frigoríficos precisam ser autorizados pelo Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai. “Essa boa notícia para o Uruguai nos aproxima de um mercado interessante, que exige cortes de qualidade devido à grande quantidade de turismo e, portanto, da indústria hoteleira”, disse Adriana Lupinacci, diretora do ministério, em nota publicada no site da Pasta.
A Coordenação Geral das Alfândegas da China (GACC, na sigla em ingês) também informou que seis novas empresas de carne suína, bovina e avícola dos Estados Unidos e produtos de carne produzidos em câmaras frigoríficas serão exportados para lá a partir de hoje (29/10).
Ainda segundo algumas fontes importadoras de carne na China, eles chegam a pagar cerca de US$ 16.000,00 por tonelada do Contra-Filé australiano. A população que começa a temer pela falta de carne bovina no país, com elevação dos preços e menor capacidade dos outros países em suprir a demanda, buscam novas fontes de proteína.
China ficará sem carne bovina?
Mesmo com o arquivamento do processo pela Organização Mundial de Saúde Animal, o país asiático, que é o principal comprador da carne brasileira, mantém o veto há dois meses.
Para o sócio-diretor da MB Agro Consultoria, José Carlos Hausknecht, é difícil prever quando o embargo cairá. “Não tem nenhum problema com a produção brasileira de carnes, a própria instituição internacional que analisa já falou isso. Ninguém no mercado está entendendo porque a China está demorando tanto para voltar a importar a carne brasileira”.
Diante dessa corrida da China, a outros mercados para importação da carne bovina, o mercado interno asiático pode ter seus estoques de carne bovina reduzidos a níveis alarmantes, principalmente pelo preço da carne negociada com outros países. Além disso, a chegada das festas de fim de ano aumentam a demanda e pode trazer alta nos preços da proteína no mercado interno.
Uma coisa é certa, o Brasil é único capaz de suprir o mercado asiático, tanto em preço quanto qualidade e volume demandado. Mas os asiáticos estão “pagando pra ver”, até quando o Brasil irá ficar sem a demanda deles.
Política externa do Brasil segue fragilizada
Na semana passada, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que a manutenção do embargo não é um ato político chinês e que a situação não é exclusiva do Brasil. Segundo ela, as exportações da Irlanda para os chineses estão suspensas desde maio.
A ministra também disse que o Brasil está em fase final de envio de informações técnicas para a China e que espera um desfecho rápido da situação. A certificação e o embarque de carne bovina brasileira estão suspensos desde 4 de setembro, quando o Ministério da Agricultura identificou dois casos atípicos do mal da “vaca louca”.
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Entretanto, mesmo com muito discurso, reuniões virtuais e pressão dos pecuaristas, o Governo brasileiro parece ter dado um “tiro no pé” e acabou ficando na dependência do seu maior comprador, a China. Agora, o mercado já começa a sentir o peso do descaso por parte das autoridades, vendo suas exportações recuando cerca de 43% no último mês, pecuaristas absorvendo prejuízos com a queda da arroba e frigoríficos aguardando para remanejar o volume embarcado para o país asiático em setembro.
“Para o produtor, o pecuarista, que comprou um animal mais caro, que tem um custo enorme com ração, ele está recebendo menos e está tendo prejuízo com esses animais. Então, é um problema para o setor produtivo”, disse José Carlos Hausknecht.