Charolês: Gigante branco europeu que originou precoce brasileiro; fotos

O Charolês, raça de origem francesa, chegou ao Brasil no século passado e contribuiu, através da Embrapa, na criação de uma raça completamente adaptada ao clima brasileiro

A Europa é o lar de muitas raças bovinas, quando falamos em taurinos europeus nos vem a cabeça dezenas de raças, entretanto podemos citar três delas que tem uma característica similar, sua pelagem branca/creme. Estamos falando do Marchigiana, Chianina e Charolês. O último citado, o Charolês, de origem francesa é um gado nativo de cor creme que habita a província de Charolais (pronuncia-se “Charolês”), na região central da França, entre os rios Loire e Saone

O Charolês apresenta muitas características comuns ao gado Simental, da Suíça e da Alemanha, todos descendentes do Bos frontosus, do período jurássico. Da aptidão tripla (carne, trabalho e leite) passou para uma raça especializada em carne, aumentando muito sua reputação desde o inicio do século XX. Em 1965, o Canadá passou a importar animais da Franca e, então, reexportá-los para os Estados Unidos e até para o Brasil. Desde 1955 a Argentina importou mais de 1.400 cabeças, sendo que muitos desses animais foram reexportados para o Brasil.

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Touro Charolês Australiano / Foto: International Charolais

Características da raça Charolês

Os animais da raça Charolês são bovinos grande e pesados, com amplas massas musculares e alto rendimento de carcaça. A pelagem é branca ou creme (amarelo claro), com reflexos amarelados. A pele não é pigmentada, nem tampouco as mucosas, o focinho, os cascos e os chifres, sendo ideal para o clima temperado. A pele é solta, de espessura média, com pêlo suave, de comprimento mediano e, às vezes, com aspecto lanoso. Os chifres nascem lateralmente, encurvando-se para frente e para cima na extremidade.

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Foto: Charolais Society of Australia

As vacas pesam entre 800-900 kg, com recordes acima de 1.100kg; os touros entre 1.100 e 1.250 kg, com recordes acima de 1.500 kg. A raça se destaca por sua estrutura óssea e muscular, rendimento de carcaça e precocidade no cruzamento e no abate. A raça é conhecida por ter propensão a partos gemelares. No que se refere à produção de leite, em geral, as vacas produzem o suficiente para criar um terneiro por ano, com rendimento estimado em 3.000 litros por lactação.

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Barnsford Ferny / Foto: Divulgação

Curiosidade – A raça já produziu um touro de quase duas toneladas chamado Barnsford Ferny. O gigante media cerca de 2,15 metros e pesava quase 2.000kgs, o peso de um hipopótamo adulto. Seu dono, Charlie Boden, de Stockport, Manchester, Inglaterra, que o usa como reprodutor, disse que o animal é manso e de fácil manejo.

A raça é extremamente versátil em termos de manejo, cruzamentos com outras raças, alimentação e mudanças de clima. Através das avaliações genéticas e do melhoramento da raça o Charolês atual pode oferecer à indústria de carne bovina, genética para velocidade de crescimento e eficiência alimentar, características bastante procuradas pelos produtores comerciais e pelos confinadores.

No que diz respeito ao fato da introdução de sangue Shorthorn no início da formação da raça para dar uma maior rapidez de apronte aos animais, o Charolês ainda continua sendo uma raça mais tardia, entretanto com a vantagem de que os animais estão o suficientemente pesados antes de iniciar a depositar gordura excessiva, aliando o fato de que não necessitam receber hormônios para ter uma maior deposição de gordura nos quartos traseiros.

Melbourne Royal Grand Champion
Melbourne Royal Grand Champion / Foto: Charolais Society of Australia

Esta musculosidade é fortemente marcada na progênie dos cruzamentos em que o Charolês é usado, especialmente a idade de seis semanas. A pelagem é também uma característica da raça que é passada a progênie. Animais com gene de pelagem vermelha ou preta, são diluídos em padrões creme, avermelhados, ou lobunos (fumaça).

O gado Charolês engorda satisfatoriamente, produzindo carcaça de excelente qualidade. Ainda que esta apresente uma elevada proporção de gordura intramuscular (marmorização ), seus depósitos superficiais são excepcionalmente escassos.

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Foto: Charolais Society of Australia

A palatabilidade de sua carne é considerada das melhores. Suas principais características são a pelagem branca, grande porte, tanto na altura como no comprimento. O Charolês ainda se destaca por sua estrutura óssea e musculatura, excelente rendimento de carcaça e precocidade nos cruzamentos e nos abates.

Confira algumas fotos de animais da raça Charolês:

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Foto: Divulgação
alguns cruzamentos de charoles
Foto: Charolais Society of Australia
alguns cruzamentos de charoles
Foto: Charolais Society of Australia

Usado na formação de raça brasileira

O Charolês foi a ‘Pedra Angular’ para a criação da raça Canchim, o precoce brasileiro. Para entender sua criação precisamos voltar um pouco no tempo, elucidar os acontecimentos que precederam a formação dessa raça, que foi um marco para a pecuária de corte brasileira.

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Foto: Divulgação

Em 1922, houve uma grande exposição no Rio de Janeiro, comemorando o centenário da Independência do Brasil. O governo francês enviou três touros e cerca de 20 fêmeas charolesas para a exposição, que foi muito famosa e importante na época. Terminada a festa, os franceses, num ato de boas relações com o Brasil, doaram os animais que ficaram em uma estação de pesquisa carioca, mas depois foram enviados para Goiás.

Em Goiás, nas condições difíceis do Brasil Central, o gado Charolês foi sendo selecionado pela adaptação ao clima tropical da região, fator que pode ser considerado relevante para a formação do Canchim. Enquanto isso, na década de 30, técnicos paulistas especialistas em Zoogenia e Zootecnia começaram a entender qual o animal ideal para a Pecuária brasileira.

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Foto: Canchim Ilma

Os técnicos concluíram que o rebanho do Brasil Central já estava todo azebuado, e, sobretudo, a maioria já era praticamente puro ou quase todo zebu. Diante dos estudos, chegou-se a conclusão de que para dar bons resultados era preciso aliar a precocidade do gado europeu com a adaptação ao clima tropical e rusticidade do gado zebu, récem trazido da Índia.

Para essa experiência o governo comprou uma fazenda na zona rural de São Carlos, isso em 1940, com mais de 2.000 hectares onde se produziu café até a Depressão de 1929. Com as matas remanescentes da fazenda possuíam muitas árvores chamadas Canchim, a propriedade recebeu o nome de Fazenda Canchim.

O responsável por formar a raça Canchim foi o veterinário Dr. Antônio Teixeira Viana. O rebanho Charolês foi transferido de Goiás para São Paulo, entretanto ainda faltava o rebanho zebu para fazer os cruzamentos, obviamente, o mesmo foi adquirido no Triângulo Mineiro, referencia de Zebu no país. Dentro do que foi possível, Viana, de acordo com as raças zebuínas disponíveis à época escolheu as raças IndoBrasil, Nelore e Guzerá, entre vacas e touros, dando início ao cruzamento.

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Montagem CompreRural

Depois de muito trabalho, selecionando sempre os melhores animais de acordo com os quesitos pré-estabelecidos, após dez anos de pesquisas, chegaram à conclusão que o cruzamento que apresentava a melhor herança do sangue Charolês com o melhor do sangue zebuíno, era 5/8 Charolês (62,5%) e 3/8 zebuínos (37,5%). Dentro dos parâmetros estabelecidos da dosagem de sangue zebu, o Nelore foi considerado o melhor zebu, sendo as outras raças excluídas posteriormente.

Na década de 60, o trabalho de formação da raça estava concluído e em 1970 já havia um rebanho bastante razoável. Devido ao projeto ter sido desenvolvido na Fazenda Canchim, fico determinado que a raça levaria o nome da propriedade, Canchim. Em 1971 foi criado o registro genealógico da raça e fundada a Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN), encarregada do registro dos animais.

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Foto: ABCCan

A raça Canchim, têm demonstrado ao longo das últimas décadas, qualidades essenciais da pecuária intensiva empregada em dezenas de fazendas espalhadas pelo Brasil, principalmente com o cruzamento industrial. A raça mostra eficiência no ganho de peso, precocidade, capacidade do touro para monta a campo e qualidade da carne, inclusive nas últimas provas de desempenho os pesquisadores ficaram surpresos com o alto nível de marmoreio de alguns animais.

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Meio sangue Canchim – Fazenda Santa Maria (Três Lagoas/MS)

Esse progresso genético da raça é fruto do trabalho de muitas mãos, principalmente da associação da raça e Embrapa, que mantêm-se atuante nas pesquisas e melhoramento genético dos bovinos da raça.

Os trechos sobre a história sobre o Canchim foram retirados do Livro “Francisco Jacintho da Silveira – História da Agropecuária no Brasil Central” de Sandra Regina Gomes.– Cubo Editorial e Propaganda.

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