Produtores relatam que perderam as pastagens preparadas para os rebanhos e até lavouras inteiras. Veja o vídeo;
Há onze dias, a região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, assiste ao fogo incontrolável adentrando a floresta, propriedades rurais e, mais recentemente, o próprio Parque Nacional, de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO.
O produtor Henrique Fiorese, que tem fazenda em Águas Frias de Goiás – a cerca de 70 quilômetros do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros -, relata que o fogo está se alastrando de forma generalizada, “com focos surgindo toda hora e em todos os lugares”.
“Perdemos a pastagem que estava formada para o gado, quatro cabeças de gado, cercas novas, palhada de milho formada, sem contar o prejuízo do solo para recuperar depois”, diz Henrique Fiorese.
O produtor Cleoni Gomes contou que perdeu cerca de R$ 1,5 milhão, ao ter a lavoura de milho atingida pelo incêndio que se espalha na região. Foram devastados 300 hectares da plantação.
Ivan Anjo Diniz, guia de turismo e coordenador operacional da Rede Contra Fogo, é um dos brigadistas voluntários que atua na Chapada dos Veadeiros e revela que o sentimento é de frustração, por ter que apagar focos de incêndio no entorno anualmente.
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Condições do Cerrado
Diniz lembra que a presença do fogo é algo que condiz com as condições naturais do Cerrado, mas desde que feita com técnica e na época certa. Nos últimos anos, no entanto, a seca tem ficado muito mais acentuada e “dramática”, como ele se refere, inclusive nomeando atual de 30x30x30.
“A gente está convivendo com ventos de mais de 30 nós, umidade relativa do ar inferior a 30% e temperaturas superiores a 30°C, imagina combater incêndio numa situação dramática dessa”, descreve.
Suprimir vegetação seca ou limpar pastagens para rebrote geralmente são atividades controladas pelo fogo, mas tem época certa, ou seja, mediante à queda das chuvas, até meados do mês de maio. “É o chamado manejo integrado do fogo, utilizando-o como elemento importante para os ciclos do Cerrado, mas com sabedoria e técnica”, adiciona.
Ao se deparar com combate ao fogo anualmente, ele conta que a relação com produtores rurais nem sempre é amigável. Segundo ele, a maioria se mostra contra a ação das brigadas de incêndio. “Alguns poucos proprietários apoiam nosso trabalho, parabenizam por terem salvado suas propriedades, mas a maioria na região não apoia, na verdade é contra nosso trabalho”, diz.
Força-tarefa contra fogo
Brigadistas voluntários de várias organizações da sociedade civil, como Rende Contra Fogo, WWF-Brasil, Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (Brivac), Fundação Grupo Boticário, entre outras, estão reunindo esforços para combater o fogo que já perdura quase duas semanas.
A Brivac, por exemplo, atua ao norte da Chapada dos Veadeiros, usando carros particulares dos brigadistas para chegar aos focos do incêndio, evidenciando a falta de infraestrutura do poder público para interromper o avanço do fogo.
Em setembro, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – que mantém em Cavalcante uma reserva natural desde 2007 – oficializou a doação de recursos para a compra de um veículo apropriado para o deslocamento dos brigadistas e seus equipamentos.
Assista ao vídeo gravado por Diniz na Serra do Segredo na última terça-feira (21/9).
Fonte: G1