Antonio Chaker Neto, autor deste artigo, é uma das maiores autoridades de gestão de pecuária de corte no Brasil na atualidade.
Escrever um livro era algo que estava em meus planos, mas nunca imaginei que o completasse tão cedo. Talvez fosse em fase mais serena, com mais reflexão, mas o incentivo e a realidade me colocaram nessa empreitada em 2018. Quando vi, já estava organizando ideias, definindo conceitos, estudando e colocando as coisas no papel para a publicação que teria o título “Como ganhar dinheiro na pecuária. Os segredos da gestão descomplicada”. Hoje, após o lançamento realizado em dezembro e olhando para os números da pecuária, tenho a certeza que fiz a coisa certa no momento certo.
Quando começamos o livro, em minha cabeça estavam os dados da safra 2016/2017, quando as melhores fazendas obtiveram um resultado de 6,7 vezes superiores à média (TOP 30% R$486,00 ha/ano e a média em R$73,00 ha/ano). Em agosto, em meados da empreitada do livro, tivemos o primeiro contato com os dados da safra 2017/2018 e a diferença entre os dois grupos passou para mais de 16 vezes. Foi assustador para toda a equipe, já que a estatística nos permite essa comparação, mesmo com o maior número de fazendas participantes. Os top 30% fecharam o ano com R$460,70 ha/ano, mas a média foi de R$28,10 ha/ano. Foi nessa hora que fomentar a educação para a gestão pecuária fez ainda mais sentido para mim.
Digo isso, pois o ano foi igual e para todos. Se os melhores conseguiram se manter na casa dos R$400,00 a média foi puxada para baixo por aqueles que tiveram prejuízo frente a um ano desafiador. O que diferencia os dois grupos? Debruçado sobre os dados, isolando indicadores e confrontando informações, chegamos a conclusão de que se saiu bem quem teve excelência na gestão. Os que fizeram a lição de casa conseguiram avançar e ganhar mais do que no ano anterior. Quem não se dedicou à gestão saboreou algo bem mais amargo.
Investir na excelência interna
Para 2019, quem se mantiver na excelência administrativa continuará sendo premiado pelo próprio esforço. Tenho essa certeza, pois o poder de aumentar a rentabilidade está muito mais dentro da porteira do que fora. Em nossas análises percebemos que o pecuarista terá o mesmo incremento de rentabilidade se aumentar em 46 gramas no ganho médio diário ou se aumentar a lotação em 0,49 UA/ha. Ainda nessa comparação, registrará a mesma rentabilidade se optar por economizar R$7,75 por cabeça ao mês ou conseguir uma valorização de R$17,00 no preço da arroba. Qual tarefa lhe parece mais fácil?
Com certeza a melhor alternativa serão as iniciativas para melhorar o ganho médio diário. Ajustes nas alturas de manejo das pastagens, como homogeneidade de lote, acesso e qualidade de água e uma suplementação inteligente, podem garantir esse retorno. O ganho é pequeno por animal. De apenas 46 gramas ao dia. É possível.
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Na tarefa da lição de casa, também é preciso gastar bem, o que é diferente de gastar pouco. Quem produz commoditieprecisa produzir mais barato do que a média o que só é possível fechando a torneira do custo fixo e gastando mais de 60% com insumos de produção (pastagem, nutrição, reprodução e sanidade). Na imagem figura 1, cada bolinha representa uma fazenda em cada um dos três gráficos. Repare que as que conseguiram melhor resultado na operação (eixo y) concentram-se do lado esquerdo de cada gráfico, exatamente, onde há menor percentual de custo fixo (eixo x).
Os que apresentam maior custo fixo por cabeça ao mês acabam ficando abaixo da linha do zero, ou seja, na faixa do prejuízo. O ponto máximo foi de uma empresa com custo fixo que abocanhou 70% de seu desembolso e não por coincidência, infelizmente, apresentou resultado negativo de R$2 mil ha/ano.
Cereja do bolo será do mercado
Somado a isso, para 2019, o mercado dá sinais de melhora segundo os principais analistas, o que não pode ser um argumento para afrouxar na gestão. Na verdade, o mercado só ajuda quem faz corretamente a lição de casa. Em outras palavras, um ano bom no valor de venda não resolve o problema da má gestão, mas premia quem é craque.
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Com gestão afinada e focada no melhor ganho de peso diário gastando bem e um mercado favorável, 2019 poderá ser um ano para garantir caixa. Por que, não? Quem sabe até expandir. Entre as fazendas que acompanhamos, a taxa interna de retorno das top 30% foi superior a 1,39%, valor incrível quando comparado as opções disponíveis no mercado. Quem aprendeu a ganhar dinheiro com boi não pode parar. É um negócio que vale a pena.
Além de manter-se alinhado na gestão, é preciso ter a mente aberta para novas respostas aos desafios que vamos enfrentar em 2019, advindos principalmente do crescimento da automação, agilidade de informação e soluções das startups. Quem garante que no final do ano nossa pesagem não seja por fotografia? A única certeza que temos é que as coisas vão mudar. Essa é uma frase permanente na cabeça dos líderes. Todo o processo que defendemos é um ciclo que deve ser constantemente revisitado para a melhoria da empresa pecuária.
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Temos que ser, hoje, melhores do que ontem. Amanhã, seremos melhores do que hoje. Nossos filhos serão melhores do que nós e nossos netos, melhores que eles. Esse é o caminho da evolução que buscamos. O que não muda são os valores, a força de trabalho, a ética e a vontade de crescer e fazer um mundo melhor. E, para projetar esse futuro devemos manter as perguntas inquietantes. Qual será o próximo passo? Qual será o próximo desafio? O que vou construir no próximo ano? Quem vou agregar daqui para frente? Como vou contribuir, de forma diferente, para o bem desse mundo? As rotinas diárias não podem impedir nossa força locomotiva em nosso grupo de liderados, nas fazendas em que construímos e no mundo em que vivemos.
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Antonio Chaker Neto
Zootecnista e mestre em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá, PR. Consultor sênior e coordenador do Instituto Inttegra Métricas Agropecuárias. Autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária. Os segredos da gestão descomplicada”.
Artigo escrito para a SCOT Consultoria