O CEO da Bayer, Bill Anderson, disse que a onda de processos judiciais sobre o herbicida Roundup é uma ameaça “existencial” para a empresa e para os agricultores, aumentando os riscos ao considerar uma manobra legal controversa.
“O tópico do litígio do glifosato é um assunto existencial para nossa empresa, porque ameaça remover nossa capacidade de continuar a inovar para os agricultores e para a segurança alimentar”, disse Anderson em um discurso no Clube de Executivos de Chicago na quinta-feira (23), referindo-se ao componente principal do Roundup.
A Bayer considera a possibilidade de usar uma tática legal apelidada de “falência em duas etapas do Texas” (Texas Two-Step bankruptcy), em uma tentativa de resolver dezenas de milhares de ações judiciais nos Estados Unidos que alegam que o Roundup causa câncer, segundo disseram em março pessoas familiarizadas com as discussões ouvidas pela Bloomberg News.
A Bayer tem defendido que o glifosato e as formulações à base de glifosato são seguros, e o produto químico continua sendo amplamente utilizado em grande parte do mundo.
Os comentários do CEO mostram que a Bayer tenta ampliar sua defesa para além da Justiça, onde perdeu vários processos nos Estados Unidos de usuários do herbicida que alegaram que ele causou câncer, o que a empresa nega firmemente. A empresa argumenta que, sem esses produtos, o mundo não conseguirá alimentar uma população crescente.
O antecessor de Anderson, Werner Baumann, em geral não alertava que a existência da empresa estava ameaçada, mesmo com o aumento dos problemas legais. A Bayer reservou US$ 16 bilhões para resolver os processos do Roundup. Cerca de US$ 10 bilhões dessa reserva foram gastos até agora, disse um porta-voz da empresa.
Solução judicial
O Texas Two-Step tem esse nome devido ao uso de uma lei estadual que permite que as empresas dividam seus ativos e passivos em unidades separadas e, em seguida, coloquem a parte dos passivos em recuperação judicial para promover um acordo judicial geral.
Essa medida, se bem-sucedida, poderia permitir que outras áreas de negócio da Bayer, uma importante empresa farmacêutica e de saúde do consumidor, continuassem a operar normalmente.
Mas, em outro caso, os tribunais rejeitaram a estratégia da 3M de usar o mecanismo em relação a processos relacionados a dispositivos de proteção auditiva defeituosos, usados por soldados dos EUA. A Justiça também rejeito o pedido da Johnson & Johnson em litígios relacionados a um talco para bebês.
A Bayer concordou em utilizar outros componentes para matar ervas daninhas nos EUA até o final do ano, substituindo a versão à base de glifosato do Roundup no mercado consumidor. Entretanto, a empresa ainda vende herbicidas à base de glifosato para os mercados agrícolas, e a União Europeia, no final do ano passado, autorizou as vendas por mais uma década.
Em seu discurso, Anderson classificou as ações judiciais contra o glifosato como sem mérito e ruins para a empresa e para os funcionários que perderam empregos em decorrência disso. O conglomerado químico tem tido mais despesas em processos judiciais do que os 2,4 bilhões de euros (US$ 2,6 bilhões) gastos por ano em pesquisa e desenvolvimento, disse o CEO.
Ele disse que a Bayer é o maior investidor em P&D na agricultura, e as questões legais colocam em risco o progresso necessário para alimentar uma população mundial em explosão até meados do século com menos água e terra.
Custos agrícolas
“Na verdade, isso é algo muito sério para a agricultura americana”, disse Anderson. “Estima-se que o custo dos mantimentos para uma família média de quatro pessoas nos EUA aumentaria em mais de 40% se o glifosato fosse removido do sistema agrícola.” As culturas geneticamente modificadas para resistir à aplicação do herbicida glifosato são responsáveis por quase toda a plantação de milho e soja nos EUA e no Brasil.
Anderson disse que, apesar de as comunidades científica e regulatória dos EUA terem dado luz verde ao glifosato, a empresa continua sujeita a bilhões de dólares todos os anos em processos judiciais. A Bayer herdou os processos judiciais do Roundup por meio da compra da Monsanto, gigante da agricultura, em 2018, por US$ 63 bilhões.
As ações da empresa alemã perderam mais de 70% de seu valor desde a compra da Monsanto, e caíram mais 1,3% no início desta sexta-feira (24) em Frankfurt. A preocupação dos investidores cresceu em relação à responsabilidade da Bayer, o que acabou levando à saída de Baumann. Além dos problemas legais, a empresa vem enfrentando outros problemas, incluindo um pipeline de medicamentos fraco e uma dívida elevada.
Fonte: Bloomberg.com
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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