Cenário do mercado internacional de lácteos e perspectivas para o Brasil

O alto preço dos grãos, somado ao aumento do preço da energia, culminaram em um aumento no custo de produção de leite e seus derivados.

Conhecer o cenário internacional do mercado de lácteos é de extrema importância para entender o que acontece dentro do Brasil, visto que estes acontecimentos afetam diretamente preços, custos e oportunidades.

Juan Conforte, gerente comercial da Interfood Group, empresa produtora de lácteos, palestrou no Fórum MilkPoint Mercado com o tema “Relação indústria & varejo: como tornar este jogo um ganha-ganha?” e abordou sobre o mercado lácteo internacional.

Conflito Rússia e Ucrânia

Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, seu país vizinho. Este conflito militar levou a importantes consequências no mercado internacional.

Estes dois países são importantes exportadores de matérias-primas, juntos exportam, por exemplo, 30% do trigo mundial. Além disso, a Rússia é um dos principais países exportadores de gás natural para a Europa e o terceiro maior exportador de petróleo do mundo.

Imediatamente após o início da guerra entre Ucrânia e Rússia, os preços aumentaram significativamente. O alto preço dos grãos, somado ao aumento do preço da energia, culminaram em um aumento no custo de produção de leite e seus derivados.

Como consequência, teve-se uma rápida elevação nos preços, que em março bateram o recorde dos últimos dez anos

Ainda, segundo dados de 2022 mostrados por Juan, houve uma importante redução na disponibilidade de leite entre os principais produtores mundiais da matéria-prima, o que causou alteração nos preços. “Então, de alguma forma, o combo perfeito aconteceu para um aumento geral dos preços, aumento de custos e menos leite”, disse.

Queda de preço do leite em julho

Em julho foi observada uma grande queda no preço do leite, consequência da grande diminuição do consumo mundia de lácteos.

No caso da Alemanha, o consumo de manteiga e queijo processado caiu de imediato após o aumento dos preços. Segundo Juan, considerando que a economia alemã é uma das principais do mundo, com um poder de compra significativo por parte da população, pode-se considerar que em países menos desenvolvidos economicamente a tendência é de piora no cenário.

O segundo motivo para a queda dos preços foi a China. O país teve um recorde de importações no primeiro trimestre de 2022. Contudo, no segundo trimestre do mesmo ano, passou por uma onda de Covid-19, reduzindo o consumo de lácteos.

Além disso, o país vem investindo na produção interna de leite, tendo um crescimento de 8% no primeiro semestre de 2022. “Depois desse aumento que vimos no primeiro semestre do ano podemos dizer que o mercado para 2022 talvez seja atingido com picos de preços, porque por um lado o consumo global está caindo, há menos demanda por laticínios e, por outro lado, a China está mudando o modo de compra e tem declínio do consumo”, disse Juan.

Mercado de leite da América Latina

Argentina, Chile, Uruguai e Brasil são os principais países latinos produtores de leite. Juan chamou atenção para o caso do Brasil, que teve queda bastante acentuada da produção em relação ao ano passado (2021).

Isso fez com que a demanda do Brasil por importar lácteos, tanto da Argentina quanto do Uruguai, aumentasse. “Realmente o que acreditamos é que os preços vão ficar mais altos no Uruguai e na Argentina enquanto o Brasil continuar demandando produto,” pontuou.

O que vai acontecer com o mercado de lácteos no Brasil?

A expectativa, segundo Juan, é que a demanda no país se mantenha relativamente boa durante agosto e setembro, contudo, no quarto trimestre é difícil prever. Devido às eleições presidenciais em outubro, a moeda pode ter muita volatilidade. A entressafra terá terminado no Brasil, fazendo com que haja maior produção de leite.

Em relação à Argentina e Uruguai, Juan disse que acredita que os preços, mesmo se aproximando aos valores da Nova Zelândia, continuarão elevados devido à demanda dos produtos pelo Brasil.

Previsões para o mercado mundial de lácteos

“As perspectivas que o consumo e a demanda de lácteos continuem aumentando no mundo são significativas”, disse Juan. A razão é o aumento da população mundial e a alteração de consumo por parte de países orientais, que estão tendo maior influência da dieta ocidental com consequente maior consumo e demanda por produtos lácteos.

“A pergunta que todos nós nos fazemos é: de onde será suprido esse aumento na demanda de lácteos? Porque realmente hoje não vemos quem pode aumentar desta forma a produção para poder atender as expectativas”, disse Juan.

O palestrante comentou sobre a restrição que alguns países, principalmente europeus, vêm enfrentando devido às mudanças climáticas. Essa situação não permitiria que eles aumentassem o rebanho para produzir maior quantidade de leite.

A América Latina é uma região que teria a possibilidade de aumentar sua produção por não ter tantas restrições climáticas nem essa compreensão dos impactos ambientais, porém, não há investimentos suficientes que levariam a um aumento considerável da produção.

“O que vai acontecer? Vamos ver. Talvez outro jogador apareça, como a Índia, que embora seja o principal produtor mundial de leite, hoje tudo o que produz, consome”, finalizando sua análise.

Fonte: MilkPoint

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