Os casos de recuperação judicial colocam “fogo” em um setor que já está em incêndio, segundo Max Mustrangi, especialista em reestruturação e CEO da Excellance. Ele explica que até agosto, o agro está 80% acima do equivalente do ano passado em números de RJ.
Nos últimos meses, o agronegócio brasileiro tem enfrentado um aumento significativo nos pedidos de recuperação judicial, evidenciando uma crise que vai além de casos isolados. Esse cenário preocupa tanto os investidores quanto os próprios atores do setor, levantando questões sobre a sustentabilidade financeira das empresas e o futuro do agro no Brasil.
Há quatro semanas, o setor foi abalado pelo pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy (AGXY3), uma das maiores empresas de distribuição de insumos agrícolas do país. A notícia trouxe um impacto imediato no mercado, com as ações da empresa sofrendo uma desvalorização expressiva de 84,11% em 2024. Apenas uma semana depois, a Portal Agro, outra distribuidora de insumos, seguiu o mesmo caminho, acendendo um alerta sobre a gravidade da situação.
Para Wander Brugnara, co-fundador do Grupo Brugnara, esses pedidos são um sinal preocupante tanto para o agronegócio quanto para o mercado de capitais. “Esse tipo de evento pode minar a confiança de investidores e credores, afetando diretamente o acesso ao crédito e ao capital necessários para impulsionar o setor. Sem uma solução adequada, podemos ver aumento nos custos de produção, redução de investimentos e, em última análise, impacto no crescimento do setor”, explica Brugnara.
Crise no agronegócio? Aumento de pedidos de recuperação judicial acende alerta em um setor já em dificuldades
Cenário de inadimplência estrutural
Os especialistas apontam que os problemas enfrentados pelas empresas não são casos isolados. Max Mustrangi, CEO da Excellance, destaca que o setor agro enfrenta uma inadimplência generalizada, consequência direta dos altos custos de insumos agrícolas adquiridos na última safra. “Os produtores rurais não estão conseguindo pagar a dívida que têm com as distribuidoras de insumos, grãos e fertilizantes”, ressalta Mustrangi.
Essa situação se agravou com a queda nos preços das commodities, o que fez com que os valores de venda dos grãos não fossem suficientes para cobrir nem os custos de produção, gerando um grande déficit de caixa para diversas empresas. O resultado foi a incapacidade de honrar os compromissos financeiros, levando ao aumento de pedidos de recuperação judicial.
A tentativa de sobrevivência: CRAs e debêntures
Na tentativa de se manterem operacionais, tanto a AgroGalaxy quanto a Portal Agro emitiram CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) nos últimos anos, buscando captar recursos para fortalecer seus caixas. No entanto, segundo Mustrangi, essa medida já não é mais suficiente. “O cenário é muito difícil para o agro, com um problema estrutural. Não há muito o que fazer. É administrar a ‘queda do avião’”, afirma ele, ressaltando que novas recuperações judiciais devem surgir no setor em breve.
Um 2024 preocupante: possível recorde de pedidos de recuperação judicial
De acordo com Mustrangi, 2024 pode superar o recorde de 2016 em termos de pedidos de recuperação judicial no agronegócio. Os valores envolvidos nesses processos são bilionários, e isso está levando o mercado financeiro a fechar ainda mais suas portas para o setor.
“Houve uma retração de crédito, com exigências de garantias muito altas. Por isso, muitas empresas estão recorrendo a alternativas como debêntures e CRAs para tentar suprir a necessidade de capital de giro”, explica o especialista. No entanto, ele alerta que esses mecanismos de financiamento estão se tornando cada vez mais escassos, com as empresas enfrentando dificuldades para encontrar novos aportes de capital.
Conclusão: um setor em chamas
O aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro reflete uma crise estrutural que exige atenção urgente. A queda nos preços das commodities, combinada com o aumento dos custos de produção e a inadimplência generalizada, coloca o setor em uma situação delicada. Sem uma solução à vista, tanto os produtores quanto as distribuidoras podem enfrentar um futuro ainda mais incerto, enquanto o mercado financeiro se retrai, dificultando o acesso ao crédito e ao capital necessários para a recuperação.
A pergunta que fica é: até quando o setor conseguirá suportar esse cenário sem que novas “quedas de avião” ocorram?
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