Diante do aumento contínuo nos preços do milho, que atingiram valores elevados em função de fatores como a demanda global e crises de oferta, a exploração de subprodutos menos utilizados ganha destaque.
No cenário atual do agronegócio, a busca por alternativas viáveis para substituir ingredientes tradicionais na alimentação animal se torna cada vez mais urgente. Diante do aumento contínuo nos preços do milho, que atingiram valores elevados em função de fatores como a demanda global e crises de oferta, a exploração de subprodutos menos utilizados ganha destaque.
A casca de soja, frequentemente subaproveitada pela indústria, desponta como uma opção promissora. Com características nutricionais interessantes e o potencial para reduzir custos de ração, esse insumo pode não apenas trazer benefícios econômicos para os produtores, mas também contribuir para uma alimentação mais sustentável e eficiente na produção animal. Assim, a análise das vantagens da casca de soja se torna essencial para um futuro mais resiliente e inovador no setor.
Contexto do agronegócio
O milho é, há muito tempo, um pilar fundamental na alimentação animal, especialmente na dieta de ruminantes, como vacas leiteiras e bovinos de corte. Sua riqueza em amido e energia o torna indispensável para maximizar o desempenho produtivo. Contudo, a atual volatilidade dos preços e as dificuldades na oferta global colocam pressão sobre os produtores rurais. Em junho de 2022, o preço médio da tonelada de milho alcançou impressionantes US$ 326,60, refletindo um aumento de 36,71% em relação ao ano anterior.
Esse cenário econômico é agravado por fatores externos, como a crise do leste europeu, que impactou a disponibilidade de grãos no mercado internacional, levando o Brasil a aumentar suas exportações. Com a receita gerada pelas vendas externas alcançando US$ 343,3 milhões em junho de 2022, a preferência pela exportação do milho tem resultado em uma dependência crescente da importação, com o país recebendo 151,89 mil toneladas em um único mês.
Esse contexto desafiador ressalta a importância de buscar alternativas sustentáveis e econômicas para a alimentação animal. É nesse cenário que a casca de soja emerge como uma solução viável, oferecendo não apenas uma forma de reduzir custos, mas também contribuindo para a eficiência na produção e promovendo uma abordagem mais sustentável no uso de recursos na pecuária.
Características da Casca de Soja
A casca de soja é um subproduto pouco aproveitado pela indústria, obtido durante as primeiras etapas do processamento dos grãos. Após a quebra dos grãos, as cascas são aspiradas e passam por um processo de purificação, tostagem e moagem, o que não apenas melhora sua qualidade, mas também facilita o transporte e a manipulação.
Esse material é composto, em grande parte, por fibras, que desempenham um papel fundamental na formulação de rações, permitindo aos produtores economizar na quantidade de milho utilizada. Apesar de seu teor relativamente baixo de proteínas, a casca de soja é altamente eficiente em fornecer energia para os animais. Isso ocorre devido ao processo de fermentação que acontece no rúmen, onde microrganismos convertem as fibras em ácidos graxos voláteis, que são absorvidos e utilizados como fonte de energia.
Ao contrário da fibra de outros alimentos volumosos, a fibra da casca de soja é de alta qualidade e apresenta taxas de fermentação superiores no rúmen, o que a torna uma opção atraente para enriquecer a dieta dos animais.
Benefícios da substituição
A utilização da casca de soja na alimentação animal apresenta uma série de benefícios econômicos e nutricionais que não podem ser ignorados. Em um contexto onde os preços do milho permanecem elevados, a inclusão da casca de soja pode resultar em redução significativa dos custos com ração. Em dietas que contêm uma alta proporção de grãos, a casca pode substituir até 30% do milho, permitindo que os produtores mantenham a eficiência alimentar sem comprometer a qualidade da ração.
A casca de soja também tem um impacto positivo no ganho energético dos animais. Ao proporcionar uma fonte alternativa de energia através da fermentação, contribui para um aumento no metabolismo das vacas, promovendo melhorias no desempenho reprodutivo e na produção de leite. Estudos indicam que, ao incluir a casca de soja, os produtores podem observar um aumento na gordura do leite, um fator crucial para a rentabilidade na produção láctea.
Um aspecto relevante é a sustentabilidade que a casca de soja oferece. Utilizar um subproduto que, de outra forma, poderia ser descartado, permite que os produtores economizem, promovendo uma prática mais responsável e ambientalmente consciente na pecuária.
Resultados de estudos e pesquisas
Pesquisas recentes têm demonstrado que a casca de soja é uma opção viável para inclusão nas rações animais, apresentando resultados promissores em termos de desempenho. Estudos científicos indicam que a inclusão de até 25% da casca de soja na matéria seca das dietas pode levar a melhorias significativas na produtividade e saúde dos animais.
Em propriedades que adotaram a casca de soja como parte da ração, observou-se um aumento na eficiência alimentar e no ganho de peso dos animais, especialmente em vacas leiteiras. A capacidade da casca de produzir ácidos graxos voláteis durante a fermentação no rúmen permite que os ruminantes aproveitem melhor os nutrientes, resultando em uma maior produção de leite e em um aumento na gordura do leite.
A pesquisa sugere que, em dietas com alta inclusão de grãos (mais de 50% de grãos na matéria seca), a casca de soja pode substituir até 30% do milho. Em relação aos alimentos volumosos, pode substituir 25%, desde que a dieta mantenha níveis adequados de fibra efetiva. Essa flexibilidade na formulação contribui para a redução de custos.
Com o preço do milho, que em junho de 2022 foi de US$ 326,60 por tonelada, uma alternativa como a casca de soja se torna ainda mais atraente. Propriedades que implementaram a casca de soja relataram uma redução nos custos de alimentação, destacando o potencial econômico desse insumo.
Esses dados demonstram que, ao integrar a casca de soja nas formulações de ração, os produtores não apenas podem melhorar a rentabilidade, mas também promover práticas que favorecem uma pecuária mais sustentável e resiliente.
Em suma, ao adotar a casca de soja como parte da alimentação animal, os produtores não apenas fortalecem sua rentabilidade, mas também contribuem para um futuro mais sustentável e resiliente para o setor agropecuário. Essa alternativa não deve ser vista apenas como uma resposta a um problema imediato, mas como uma oportunidade de transformação na forma como encaramos a nutrição animal e a produção de alimentos.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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