No Brasil e no mundo, a taxa de lotação de pastagens para bovinos vária amplamente, por dependerem de diversos fatores.
A taxa de lotação é a relação entre o número de animais, ou unidade animal (UA), e a área ocupada por eles em um determinado período. Em geral, os índices de lotação no país variam entre 0,5 e 2 unidades animais por hectare (UA/ha), sendo que 1 UA equivale a um bovino adulto de 450 kg de peso vivo (PV). A unidade animal (UA) é utilizada para padronizar os diferentes tipos de categoria animal em pasto.
Internacionalmente outras medidas são adotadas para definir a taxa de lotação, sendo o Livestock unit (LSU), o mais frequentemente utilizado como medida de peso animal padrão. Entretanto, há diferenças entre as relações de pesos para cada categoria/espécie animal.
Tabela 1.
Coeficientes Livestock unit, de acordo com a espécie, sexo e idade.
Espécie | Categorias | Coeficiente Livestock unit |
Bovinos | Menos de 1 ano | 0,400 |
Entre 1 e 2 anos | 0,700 | |
Machos, com 2 anos ou mais | 1,000 | |
Fêmeas, com 2 anos ou mais | 0,800 | |
Vaca leiteira | 1,000 | |
Ovelhas e cabras | 0,100 | |
Equinos | 0,800 | |
Suínos | Leitão com peso menor que 20 kg | 0,027 |
Fêmea reprodutora com peso de 50 kg ou mais | 0,500 | |
Outros porcos | 0,300 | |
Aves | Frango | 0,007 |
Ave de postura | 0,014 | |
Perus | 0,030 | |
Patos | 0,010 | |
Gansos | 0,020 | |
Avestruz | 0,350 |
Como realizar o cálculo da taxa de lotação?
O cálculo desse índice auxilia no manejo da pastagem. Trata-se de uma estimativa do número de cabeças por área e da demanda de alimento de cada bovino, permitindo maximizar o ganho de peso e a qualidade da pastagem.
Os seguintes dados são necessários para calcular o índice: número de animais, número de hectares e número de UA. Por exemplo:
Em uma área de 100 hectares com 400 cabeças:
400 ÷ 100= 4 cabeças/ha
Ou, em uma área de 100 hectares com 400 cabeças de 200 kg cada, a taxa de lotação será de:
400 animais x 200 kg = 80.000 kg
80.000 kg ÷ 450 kg= 177,78 UA
177,78 UA ÷ 100 ha = 1,78 UA/ha
Oferta de forragem
Um dos desafios para elevar a taxa de lotação, é a sazonalidade da produção forrageira. Em muitas regiões, a disponibilidade de pastagem varia ao longo do ano devido a fatores climáticos, com a distribuição irregular das chuvas ou períodos de seca. Isso afeta diretamente a capacidade de sustentação da pastagem, a quantidade de bovinos.
Quando há uma quantidade maior de animais em relação à capacidade de suporte da pastagem, ocorre um superpastejo, resultando na diminuição da produtividade do gado e na degradação do pasto. Em contrapartida, quando ocorre o subpastejo, ou seja, há maior oferta de pasto para poucos bovinos, há desperdício de forragem e a produção por área diminui. O ideal é alcançar o pastejo ótimo, que representa o equilíbrio entre o número de bovinos e a produção de forragem em uma determinada área (figura 1).
Figura 1.
Influência da oferta de forragem na produção por animal e por área, em diferentes taxas de lotação.
Durante os períodos de maior produção de forragem, é possível aumentar a taxa de lotação, permitindo que mais animais sejam criados em uma determinada área. No entanto, é preciso estar ciente de que essa alta taxa de lotação deve ser temporária e acompanhada de um manejo adequado, garantindo que os animais tenham acesso a alimento suficiente para atender às suas necessidades nutricionais.
Já nos períodos de menor produção de forragem, como a estação seca, é necessário reduzir a taxa de lotação para evitar o superpastejo e a degradação da pastagem. Nesses momentos, é importante ter alternativas para suplementação alimentar, como o fornecimento de feno, silagem ou concentrados, para garantir o bom estado nutricional dos animais.
Portanto, a sazonalidade da produção forrageira exige planejamento cuidadoso e estratégias de manejo flexíveis, que possam se adaptar às variações na disponibilidade de pastagem ao longo do ano. Isso envolve a adoção de medidas como o ajuste da taxa de lotação, o uso de áreas de reserva ou a diversificação do sistema de produção, visando garantir o equilíbrio entre a capacidade de suporte e o número de animais em produção.
Taxa de lotação baseada na oferta de forragem
A taxa de lotação, baseada na oferta de forragem por kg de peso vivo (PV), é uma abordagem utilizada no manejo de pastagens para determinar a quantidade de bovinos. Essa taxa de lotação é calculada considerando a oferta de forragem disponível por animal, considerando o peso vivo médio.
A oferta de forragem é expressa em termos de massa de forragem por kg de peso vivo. Por exemplo, pode-se determinar que uma determinada pastagem ofereça 3 kg de matéria seca por kg de peso vivo. Com base nesse valor, pode-se calcular o tamanho da boiada que a pastagem pode suportar. É importante ressaltar que deve ser considerado as características específicas da pastagem, como a composição botânica, a taxa de crescimento e a capacidade de recuperação após o pastejo.
Segundo Aguiar et al. (2006), as recomendações da quantidade de forragem que devem estar disponíveis por 100 kg de peso vivo (PV) são expressas em porcentagem do PV. Nos sistemas extensivos ou semi-intensivos, valores entre 7% e 12% do peso vivo são considerados adequados. Isso significa que, para um bovino com 100 kg de PV, seriam necessários entre 7 kg e 12 kg de forragem disponível. Já para os sistemas intensivos, os valores recomendados são um pouco menores, variando de 6% a 9% do peso vivo. Para um animal com 100 kg de PV em um sistema intensivo, seriam necessários entre 6 kg e 9 kg de forragem disponível, uma vez que seria ofertada uma suplementação com alimentos concentrados.
Essas recomendações consideram a ingestão de forragem diária necessária para atender às exigências nutricionais, bem como a taxa de consumo de forragem.
Como calcular:
1. Determinação de oferta de forragem disponível: antes de calcular a quantidade de forragem disponível por kg de peso vivo, é necessário determinar a massa seca (MS) e a taxa de acúmulo (TA) da pastagem. Essas informações ajudarão a determinar a quantidade de forragem disponível para um determinado período de ocupação. Isso pode ser feito mediante amostragens diretas, utilizando métodos como o corte de perfil, ou o uso de quadrados, ou quadros de amostragem. A oferta de forragem é geralmente expressa em kg de matéria seca por hectare por dia (kg MS/ha/dia).
Para calcular a quantidade de forragem disponível, soma-se a massa seca inicial da pastagem com a quantidade de forragem acumulada durante o período de ocupação dos bovinos. Por exemplo, considerando a Brachiaria decumbens com 71,02kg de MS/dia no verão e 8,41kg de MS/dia na seca, se a massa seca inicial da pastagem é de 1500 kg MS/ha e a taxa de acúmulo é de 39,71 kg MS/ha/dia durante um período de 20 dias, o cálculo seria:
Massa seca total = Massa seca inicial + (taxa de acúmulo × número de dias)
Massa seca total = 1500 kg MS/ha + (39,71 kg MS/ha/dia × 20 dias)
Massa seca total = 1500 kg MS/ha + 794,2 kg MS/ha
Massa seca total = 2294,20 kg MS/ha
2. Peso vivo médio dos bovinos: com o peso vivo médio dos bovinos que serão postos em pastejo.
Essa informação pode ser obtida através de pesagens ou de estimativas com base em dados do rebanho.
3. Cálculo da taxa de lotação: divide-se a oferta de forragem disponível (kg MS/ha) pelo peso vivo médio dos animais (kg). O resultado será a taxa de lotação em cabeças por hectare (cabeças/ha) ou por unidade de área usual na região.
Por exemplo:
Matéria seca total: 2294,20 kg MS/ha
Área do pasto: 100 hectares
Dias de ocupação: 20 dias
Oferta de forragem: 10%
Peso vivo médio: 450 kg
PV/dia = (MS de forragem x Área do pasto x 100) / (Dias de ocupação x Oferta de forragem);
(2.294,2 x 100 x 100) / (20 x 10), ou seja:
PV / dia = 114.710 kg para uma área com 100 hectares ou 1.147,1 kg por hectare
Taxa de lotação (bovino/hectare) = (kg PV) / (peso vivo médio do lote)
(1.147,1 / 450) = 2,5 animais de 450 kg por hectare ou 2,5 UA.
Lembrando que esses valores são exemplos e podem variar dependendo das características específicas da pastagem e do rebanho. É importante monitorar regularmente a oferta de forragem e ajustar a taxa de lotação para garantir um manejo adequado da pastagem e o bem-estar dos animais.
Concluindo, determinar a taxa de lotação evita a subutilização da pastagem e a superexploração, que podem levar à degradação do solo, à diminuição da produtividade e à deterioração da qualidade das forragens. Ao estabelecer uma taxa de lotação adequada, pode-se garantir uma utilização eficiente dos recursos disponíveis, maximizando a produção de carne e leite por hectare e reduzindo os custos de produção.
Fonte: www.scotconsultoria.com.br
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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