Na Europa há países que já têm fontes muito limpas, como a Noruega, mas tem países como a Polônia e a Alemanha, que fazem bastante uso de carvão
O objetivo de criar uma indústria ‘descarbonizada’ e assim reduzir os impactos ambientais levou a indústria automotiva a desenvolver os veículos elétricos. E, a comercialização desse modelo de veículo vem ganhando o gosto dos consumidores no mundo todo. No Brasil não é diferente, apenas em maio deste ano foram cerca de 6.500 novos emplacamentos, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico, um número quase 90% a mais que em maio de 2022.
Mas, será que esses veículos são realmente menos poluentes do que os movidos a etanol, um produto de grande escala do agronegócio nacional?
Um estudo realizado pela Stellantis – empresa global europeia, que tem marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën – afirma que não. A explicação da empresa é que o uso de energia elétrica de fontes poluentes, como carvão e gás, deixa o carro elétrico europeu em desvantagem em termos de sustentabilidade na comparação com o automóvel brasileiro a etanol, produzido a partir da matéria-orgânica renovável como a cana-de-açúcar e o milho.
Segundo o presidente da Associação da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (ÚNICA), Evandro Gussi, para criar uma estrutura de eletrificação da frota brasileira, seria necessário investir entre R$ 1 trilhão e R$ 1,5 trilhão. Isso tudo para não melhorar em praticamente nada os níveis de emissão de CO2 em relação ao etanol.
“Na Europa há países que já têm fontes muito limpas, como a Noruega, mas tem países como a Polônia e a Alemanha, que fazem bastante uso de carvão, enquanto nós temos uma fonte de geração de energia elétrica limpa. E daí eu pergunto: qual o custo para a sociedade de um e de outro?”, questiona o executivo.
Durante os testes comparativos realizados pela Stellantis, o veículo abastecido somente com gasolina emitiu 60,64 kg de CO2 equivalente em uma viagem de 240 km. Já o carro 100% elétrico abastecido com a matriz energética europeia emitiu 30,41 kg de CO2eq, enquanto o veículo brasileiro movido a etanol emitiu 25,79 kg de CO2eq, quase empatando com o veículo 100% elétrico movido com energia brasileira, que emitiu 21,45 kg de CO2eq.
Veículos elétricos costumam exigir seis vezes mais minerais que os veículos convencionais
Outro ponto, além do consumo, é a fabricação do veículo, já que o elétrico necessita de outros componentes do que o automóvel movido a etanol, por exemplo.
Segundo uma matéria do The Washington Post, para funcionar, os veículos elétricos costumam exigir seis vezes mais minerais que os veículos convencionais, como manganês, cobalto, lítio e níquel.
Mas ainda há pouco reconhecimento dos danos que a extração e o processamento de tais minerais podem causar aos trabalhadores e às comunidades vizinhas.
Segundo o jornal americano, a demanda da indústria por manganês quintuplicou nos últimos cinco anos e os analistas preveem que ela pode aumentar em nove vezes até 2030. O que pode trazer risco ambiental, além de prejudicar a saúde de muitos trabalhadores, já que há relatos de vários trabalhadores foram diagnosticados com envenenamento por manganês.
Resumidamente, há muito a ser questionado nos intitulados ‘sustentáveis’.
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