Carrapatos: prejuízos de 10 bi anuais, confira alternativas

O parasitismo causado pelo carrapato dos bovinos é um dos grandes entraves à cadeia produtiva de carne, leite e couro.

Phd em Biologia Molecular e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Renato Andreotti destaca que estimativas recentes calculam que os carrapatos causam um prejuízo anual de 3,2 bilhões de dólares (R$ 10 bilhões de reais / estimativa) na cadeia produtiva de bovinos, no Brasil.

Com o intuito de diminuir tais perdas econômicas, pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (MS) desenvolveram uma nova proposta de controle dos carrapatos associada ao manejo dos animais, com base em dados de pesquisas já realizadas. A ideia é orientar os produtores na implantação de um sistema que alia a intensificação da produção a pasto com a minimização da infestação por carrapatos no rebanho.

Segundo Andreotti, atualmente, a principal ferramenta de controle dos carrapatos é o uso de acaricidas, com grande exaustação, considerando que esses parasitas desenvolvem resistência a esses produtos em poucas gerações no ambiente.

“Praticamente todos os produtos do mercado, inclusive novos lançamentos, mostram resistência em regiões onde o tratamento é mais intenso no prazo de dois anos”, relata o pesquisador.

“Atualmente, temos a vacina contra o carrapato como uma linha de pesquisa, em que já apresentamos antígenos com capacidade de proteção de 72%, o uso de fitoterápicos, como o óleo essencial da planta Tagetes minuta, como possibilidade potencial, além de estudos de estratégias de manejo”, destaca alguns métodos de controle desse parasita.

ESTRATÉGIAS DE MANEJO

Segundo o pesquisador da Embrapa, a nova proposta foi construída como estratégia de manejo com base no conhecimento já estabelecido na comunidade científica. “A ideia é utilizar racionalmente a mesma área e carga animal já considerada em sistemas de produção no Brasil Central, adotando um manejo para animais sensíveis, evitando o contato destes com os carrapatos, impedindo o desenvolvimento das populações desses parasitas campo.”

A pesquisa será desenvolvida em sistemas de produção com animais cruzados Angus x Nelore, com o perfil de clima e pastagem definidos para o cerrado, ou seja, para as condições do Brasil Central, objetivando viabilizar a produção de bovinos cruzados nessa região sem a interferência do carrapato.

A metodologia consiste em dividir em quatro quadrantes uma área fixa de cem hectares, formada por pasto de braquiária brizantha, em plena produção, no cerrado do Mato Grosso do Sul. A pastagem terá adubação de manutenção, durante as chuvas e logo após cada pastejo. O excedente de forragem, segundo o pesquisador, será armazenado em forma de feno para uso na estação seca como volumoso.

Os 100 animais cruzados (Nelore x Angus), em recria, colocados na área, ficarão em rotação, por período fixo de 30 dias em cada piquete, durante o período de 90 dias.

“O prazo de 90 dias para o retorno ao primeiro piquete atende ao mínimo de 82,6 dias como período estimado para a ‘limpeza da pastagem’ em relação à população de larvas infestantes, permitindo que a prática seja utilizada como medida complementar para o controle do carrapato”, explica Andreotti, que estuda há mais de 20 anos os ectoparasitas, na Embrapa Gado de Corte.

BENEFÍCIOS

Entre os benefícios desta nova proposta da Embrapa, o pesquisador destaca o aumento da produtividade com a redução dos prejuízos e a diminuição do uso dos carrapaticidas: “Isso traz benefícios na mitigação da contaminação ambiental e dos resíduos na carne e leite, fatores que são utilizados como barreiras não-tarifárias à importação da carne brasileira”.

“Ao final do ciclo de um ano, nossa equipe prevê que o ganho esperado seja além da produção de animais com peso ideal no final da recria. Também esperamos obter ganhos com a redução nos custos do controle químico do carrapato, a partir da eliminação da perda decorrente da infestação, com a adoção do manejo intensivo e recria bovina”, observa.

A nova proposta de controle será implantada a partir da preparação da reforma de pastagem em uma propriedade com as características desejadas para o sistema de produção no próximo verão.

“A proposta agrega valor ao sistema de produção, ao utilizar o controle do carrapato para trazer maior rentabilidade ao sistema de produção de animais sensíveis ao carrapato nos cerrados, com menor impacto ambiental para os produtos de origem animal provenientes desse sistema considerando a redução no uso de produtos acaricidas”, explica Andreotti.

O pesquisador também destaca como ponto importante dessa nova forma de controle dos carrapatos a preocupação com o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva.

“O mercado está pedindo a geração de produtos seguros e sem resíduos para o consumo, em um ambiente controlado e com baixo impacto, o que exige novas tecnologias e manejo dos problemas dentro da porteira que contribuam nessa direção, condições que são contempladas nessa proposta”, comenta.

Ainda de acordo com Andreotti, existe a possibilidade de estender essa pesquisa para outras áreas: “Esta proposta pode ser ampliada para a utilização em animais em sistemas de produção de leite, produção de base ecológica ou outros sistemas que desenvolvem atividades com animais sensíveis ou mesmo com a necessidade de mitigar o uso de produtos químicos utilizados no controle do carrapato”.

O pesquisador acrescenta que esse manejo intensivo da pastagem, em teste, será avaliado e validado em curto prazo, a partir de março de 2017, em um projeto com aporte da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

PREJUÍZOS

Segundo Andreotti, os carrapatos provocam reações inflamatórias na pele dos animais, causando irritabilidade, lesões e anorexia. Em consequência, os bovinos não pastam normalmente, o que diminui a taxa diária de conversão do alimento em carne e leite.

“Os carrapatos também contribuem para instalação de miíases e infecções secundárias”, explica o pesquisador acrescentando que, ainda durante a espoliação sanguínea, existe a possibilidade de transmissão de agentes patogênicos causadores da Tristeza Parasitária Bovina (TPB).

“Além disso, infestações desses ectoparasitas acarretam também prejuízos indiretos ao produtor, relacionados à mão de obra, despesas com instalações, aquisição de equipamentos e carrapaticidas para aplicação nos animais.”

Por equipe SNA/SP

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