Carne bovina do Brasil é saudável e produzida pelos melhores pecuaristas do mundo

Presidente do Nelore fala sobre os pecuaristas, a qualidade da carne bovina brasileira, modas veganas e o compromisso brasileiro de ser o celeiro do mundo

Em mais uma entrevista especial, o fundador e editor do portal Compre Rural, Marcio Peruchi, conversou com o Presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Nabih Amin El Aouar sobre a pecuária nacional, setor que vem crescendo cada vez mais. A produção de carne bovina no Brasil vem num crescente progresso, até 1994 o país era importador de carne, em 2003 tornou-se um dos maiores exportadores da commodity, e em 2007 já era o maior país em volume e faturamento, cargo que ocupa até hoje.

“Nós temos o melhor pecuarista do mundo, mas temos alguns também que não tem essa mesma qualidade de produção. Temos que tornar nosso segmento com produção de forma mais homogênea, para não haver tanta diferenciação de produção entre um produtor e outro, ou seja, vamos tornar todos com uma produção igual. Atualmente nós somos o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Eu me recordo que há dois anos eu previ que nós seríamos o maior produtor de carne bovina do mundo nos próximos quatro anos, e eu me recordo que os veículos de comunicação ficaram surpresos com essa minha afirmação, mas agora está se confirmando, os Estados Unidos reduziu o rebanho e está reduzindo a produção de carne bovina de forma significativa, e talvez isso venha até antes da minha previsão, talvez no final desse ano ou início do próximos nós já seremos o maior produtor de carne bovina do mundo”, contou Nabih.

carne de qualidade de nelore
Foto: Nelore Birigui

Carne para todos os gostos e todos os bolsos

Para o presidente da ACNB mais que produzir carne o Brasil produz carne de qualidade. E, como nos demais mercados, de bebidas como vinho e cerveja, ou de alimentos, existe um consumidor para cada tipo de produto, aquele que prefere pagar um pouco mais para degustar uma cerveja artesanal, por exemplo.

“A carne é igual cerveja, vinho, outros alimentos ou bebidas, depois que o indivíduo degusta um vinho de qualidade ou uma cerveja artesanal de qualidade, nunca mais deseja retornar ao consumo anterior, e a carne de qualidade é a mesma coisa. A carne tem três pontos: suculência, maciez e sabor. Dessa forma, no momento em que você se adapta a um tipo de qualificação dessa carne não consegue mais consumir uma carne dura, emborrachada, sem suculência. Então isso que é a mudança em relação ao Brasil e especialmente ao nosso consumidor, que cada vez está se tornando mais exigente, e existem diferenciações de consumidor, aquele que não se importa com o preço, o que importa mediano, e aquele que se importa muito. Existem variedades de carne para todos os gostos e todos os bolsos, e dessa forma nós temos que ofertar todas essas variações e cabe ao consumidor escolher qual será da sua conveniência”, disse.

garrotes recria em boa pastagem fotoa
Foto: Divulgação

Carne de boi a pasto tem valor agregado em até 35%

Diferentemente dos Estados Unidos, que é atualmente o maior produtor de carne bovina do mundo, e produz cerca de 90% de todo gado de corte em sistema de confinamento e apenas 10% a pasto, o Brasil é o oposto. Aqui cerca de 87% é produzido a pasto e 13% confinado.

“Nos Estados Unidos dificilmente eles mudam o modelo, pois eles têm esse sistema de criação não porque eles podem mais, mas porque eles não podem realizar o que nós podemos. Então, dessa forma, eles criam de uma forma intensiva justamente pela situação do clima e logística deles, então não tem como eles mudarem o sistema de criação. Tanto assim que a grass fed beef – carne de boi a pasto – lá tem um valor agregado entre 20 até 35% e como eles não produzem, apenas em 10% da produção total, eles importavam anteriormente da Austrália, e como a Austrália entrou numa curva descendente de produção após aquelas enchentes e depois com a seca, não consegue mais atender à demanda americana, então quem está atendendo a essa demanda é o Brasil, através inclusive dos nossos frigoríficos aqui que tem filiais lá, então dessa forma, a valorização dessa carne feita a pasto tem vários sentidos”, explicou.

dia de embarque de gado nelore no confinamento - vaqueiros conduzindo boiada
Foto: Nelore Estrellita

Mas, quais as diferenças da carne produzida a pasto com aquela do confinamento?

Segundo Nabih a primeira diferença é notada pelo sabor, é um sabor mais intenso, segundo na saúde para quem consome, já que a carne a pasto é uma carne mais magra, sendo menos nociva ao sistema cardiovascular e cerebral.

A carne produzida a pasto tem uma vantagem nutricional referente à presença de ácido linoleico conjugado (CLA) e ômega-3 com relação à carne produzida no sistema de confinamento. O Ômega 3 é um nutriente anti-inflamatório e normalmente encontrado em peixes que está presente em grandes quantidades na carne proveniente de pastagens.

E o consumidor bem mudando, até tempos atrás, a ânsia e o desejo do consumidor de carne era comer uma carne gorda, ou seja, o prazer era maior do que a preocupação com a saúde. Mas os conceitos estão mudando, da mesma forma que existem questões ambientais e de bem-estar animal dentro do setor pecuário que é uma preocupação para essa produção, a questão saúde também.

Carne de qualidade - faca cortando corte de carne
Foto: Divulgação

Então hoje em muitos países a prioridade é consumir uma carne mais saudável, e a carne produzida a pasto com certeza é muito mais saudável.

“Nós estamos percebendo que nos mais de 20 anos do projeto Circuito Nelore de Qualidade, a raça está adquirindo uma condição fantástica de produção de carne num pequeno espaço de tempo com muito acabamento de gordura, peso corporal fantástico e jovem, os lotes vencedores estão ficando com até 19 meses, e essas provas são produzidas a campo. Em vez de investirmos em maior quantidade de terra, não necessitamos isso, até áreas menores deixando essa sobra para agricultura ou para preservação ambiental, e poderemos produzir até numa menor área um volume de carne muito maior e de qualidade, e em menos tempo pela precocidade dos animais, pelo manejo e pela nutrição ofertada”, disse.

Segundo o Presidente da ACNB, o pecuarista precisa ter atualmente capacitação, conhecimento e investir em novas tecnologias, entre elas a adubação, para assim tratar o pasto da mesma forma que o agricultor trata o seu plantio de soja, café, milho.

E, para se tornar agricultor antes mesmo de pecuaristas, há a necessidade de intensificar a pastagem para ter fartura de alimentos. Isso considerando que alguns gados ficam nos 90 dias finais de terminação na suplementação, depende do modelo adotado pelo pecuarista alguns ficam do nascimento ao abate totalmente a campo e outros na fase final não.

“Então isso é uma demonstração que o Brasil é diferente dos outros países, temos área, clima, pastagens, nós temos um produtor rural trabalhador e consciente o que nós temos que melhorar é a produtividade e a forma homogênea de produção, dessa forma seremos campeões e produzindo algo que é o melhor em termos de carne bovina”, destacou.

empresa Beyond Meat - plant-based
Foto: Divulgação

Carne vegana?

Questionado sobre os modelos de ‘carne vegana’ que estão surgindo, Nabih acredita que é algo cíclico. “O mundo é cíclico, as coisas vão e retornam e aí nós vamos perceber o tempo que nós perdemos em investir em inutilidade. Em relação a alimentos, o que a medicina preconiza são alimentos naturais. Quando você entra num supermercado na frente do caixa vai vendo só os alimentos artificiais, lá no fundo verduras, frutas, carne, leite, ovos, porque não na frente? É o marketing deles de privilegiar aquilo que eles têm mais interesse em rodar e deixando aqueles alimentos essenciais para a saúde humana lá no fundo, porque dessa forma, o cliente vai atravessar o supermercado todo se eles deixam na frente o cliente só vai até meio, então tudo é questão de marketing a mesma coisa em relação do que nós estamos falando. Não existem duas carnes, a carne é uma só, é a natural seja de bovino, ovino, aves, pescado etc, mas é um tipo só”, explicou.

Outro termo criado foi o de ‘carne vegetal’ um nome totalmente inadequado, porque a palavra carne significa fibra muscular, e as carnes vegetais não tem fibra muscular, então é uma denominação totalmente inadequada que em alguns países como a França isso já foi proibido, essa terminologia, até mesmo no estado do Texas nos Estados Unidos. As empresas que partiram para essa produção algumas no último ano tiveram milhões de dólares de prejuízo, mas eles continuam fazendo porque tem patrimônio, são poderosos, e continuam com essa lacração em relação à carne natural. Os outros tipos de denominados como carne 3 D e etc… percorrem essa mesma situação”, complementou.

Segundo ele, atualmente a medicina é toda baseada em evidências, e as evidências demonstram que alimentos naturais são mais benéficos e alimentos processados são mais nocivos, todos os alimentos processados, inclusive através de derivados da própria carne natural como de vegetais, são nocivos à saúde humana, com propensão em produção maior na taxa de aterosclerose que são as placas de gorduras nas artérias, e possibilidade de levar alguns tipos de câncer, tudo isso através de alimentos processados.

“Então por isso essas inovações vêm no sentido talvez de preservação ambiental, ou de ideologias que não nos convencem, e porque não nos convencem? Porque são produtos processados, nocivos à saúde humana, mais caros, menos acessíveis à população e por último em relação a questão ambiental a pecuária brasileira é totalmente diferente da pecuária dos outros países, e pelo fato dela ser tipicamente a pasto, nós temos o sequestro do carbono que é emitido pelos animais, e se a propriedade for intensificada em pastagem esse sequestro poderá ter até um crédito com coisas que nunca acontecem com animais confinados, onde existem as emissões de metano mas não existe o sequestro do carbono”, afirmou.

Sobre o fato de adeptos a esse tipo de ‘carne vegana’ afirmarem ser em relação às questões ambientais é falta de conhecimento. Um trabalho publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apontou que enquanto a preservação da mata em outros países gira em torno de 5 a 20% no Brasil é de mais de 65%.

“Então nós temos que incentivar os produtores a melhorar as suas pastagens, evitar áreas de pastagens degradadas, e começar a investir justamente nessa cultura do capim, dessa forma nós resolveremos todos os problemas do pecuarista, inclusive com um crédito em relação a esse sequestro”, explicou.

integracao pecuaria flores - ipf - cruzamento nelore x angus - fotao
Foto: Roberto Barcellos

Brasil é celeiro do mundo

Atualmente o número de habitantes do mundo é de aproximadamente 8 bilhões de pessoas e a previsão é de que em 2050 esse número ultrapasse os 10 bilhões. E, com o aumento da população existe a necessidade de se pensar na alimentação.

“O Brasil já é a fazenda do mundo e se tornará a fazenda maior e mais produtiva, mais qualificada, mais rentável e produzindo alimentos de altíssima qualidade. O produtor rural, independente se pecuarista ou agricultor, é um trabalhador como outro qualquer, então temos que levar informações, tentar mudar, levar conhecimento, e o governo tem que facilitar crédito rural para que ele invista em novas tecnologias, para que ele invista e começa a incrementar, nós não somos perfeitos, mas somos corretos e trabalhadores. É evidentemente que temos que produzir mais alimentos, especialmente a carne para atender a demanda global por alimentos”, disse.

A demanda brasileira pela carne bovina caiu nos últimos anos de 39/ 40 quilos para pouco mais de 24 quilos per capita ano, principalmente após a pandemia da Covid 19, mas em compensação novos mercados estão se abrindo e produtores tradicionais como alguns países da Europa estabilizaram a produção ou estão em curva descente.

“Isso significa que os países da América do Sul como o Paraguai, Bolívia, Uruguai, Argentina, terão maiores oportunidades e especialmente o Brasil por ser um país abençoado pelo clima, população e por todas as possibilidades de um progresso dentro desse segmento. Nós podemos produzir algo de grande qualidade a preço acessível e sem competição esse é o futuro do Brasil e é por isso que nós incentivamos e motivamos os nossos pecuaristas, independente da raça, a continuar produzindo, estudando, capacitando e investindo em novas tecnologias. Produzindo com qualidade, sustentabilidade e bem-estar animal”, concluiu.

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