Caracterização racial é de suma importância para os bovinos

Quando falamos de raça, estamos falando não somente de características estéticas, mas também de características funcionais relacionadas ao padrão racial descrito pelas associações

Por William Koury Filho* – Este ano, estive na ExpoZebu 2022 com a missão de julgar o Tabapuã, oportunidade de ver com detalhes como a raça está se apresentando em pista, e também de observar as demais raças zebuínas presentes no recinto de avaliações Torres Homem Rodrigues da Cunha, a mais famosa pista de julgamentos do Brasil.

No julgamento devem ser observadas todas as características morfológicas do animal de forma detalhada. Desde as características funcionais como cascos, aprumos, umbigo e sexualidade, até as características de biotipo relacionadas a proporções corporais que definem a “carcaça” in vivo, complementando com as características relacionadas ao padrão racial descrito pelas associações de raça – no caso dos zebuínos pela ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu).

“Julgamentos nunca agradam a todos, mas os critérios adotados pelos juízes devem ficar claros para que os criadores participantes se sintam mais seguros dos rumos que a raça deve tomar em pista e de que o resultado foi justo.”

Como jurado sempre procurei realizar um trabalho em pista buscando identificar os animais que melhor desempenhariam sua função produtiva nos sistemas de produção praticados no país, e creio que, junto com meus colegas, conseguimos deixar isso claro no julgamento do Tabapuã. Como observação geral da pista de Uberaba, é visível que várias raças zebuínas estão trilhando esse caminho: algumas aproximam mais essas duas realidades distintas, pista e campo; outras seguem mais distantes como a raça de maior expressão no país, o Nelore, que apresenta animais exageradamente grandes.

Você sabe a importância de avaliar Raça no EPMURAS?  –– Bem, mas voltando ao título da coluna, seguirei com a sequência das características avaliadas pelo EPMURAS, desta vez para conceituar a importância de se complementar a seleção com as características relacionadas ao padrão racial.

vaca tabapua KIRA TJG 2353
Foto: Jadir Bison / @jadir.bison

O primeiro ponto que tem que estar claro é que, quando nos referimos à Raça, estamos falando não somente de características estéticas, mas também de características funcionais relacionadas ao padrão racial descrito pelas associações. Por exemplo: nos zebuínos, o pregueamento de barbela é parte do padrão. Essa sobra de couro situada abaixo do maxilar e que se estende até a maçã do peito, aumenta a superfície corporal do animal, contribuindo para termorregulação corporal e, portando, faz parte da morfologia mais adaptada do zebu para ambientes tropicais. É notório que, ao entrar em estresse térmico, o animal perde em eficiência reprodutiva. O cupim também não é simplesmente um “ornamento” em forma de castanha de caju sobre a cernelha dos zebuínos. Essa parte tem a função de acumular lipídios, gordura, que servirão de reserva de energia para um momento de escassez de alimentos.

E assim podemos falar da importância da pigmentação, da fortaleza da linha dorso-lombar, da angulação de garupa, comprimento e correção do “osso sacro” e até dos olhos elípticos que são mais protegidos quando comparados aos olhos mais arredondados e salientes encontrados nos taurinos.

vaca nelore com carangueijo na face cabeca - Samuka Aymoré, filha do Famur de Naviraí
Foto: Nelore Aymoré

Quando se fala em características raciais, existem alguns detalhes de corpo que diferenciam as raças, mas lembramos principalmente das diferenças na pelagem e na cabeça dos animais – formato de crânio, orelhas, etc.

Para avançarmos nessa conversa, devemos recordar que todos os bovinos descendem do mesmo ancestral comum, o bos primigenius. Dessa forma, inicialmente, as diferenças genéticas nos bovinos se deram por isolamento geográfico e fixação de características adaptativas, pura seleção natural, em que sobrevivem e multiplicam-se somente os genes mais “fortes”.

Da mesma maneira que os seres humanos que foram para África, Ásia, Europa, Oceania e Américas tinham suas diferenças fenotípicas, o mesmo aconteceu com os primeiros bovinos, que posteriormente passaram pelo processo de domesticação e, na sequência cronológica, pela seleção artificial, em que por função e ou simplesmente estética foram adquirindo características particulares até formarem as cerca de 1.000 raças bovinas catalogadas atualmente.

William Koury Filho é Zootecnista, mestre e doutor em Produção Animal, jurado de pista de Angus a Zebu e proprietário da Brasil com Z – Zootecnia Tropical.

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