Cochos munidos de balanças para pesagem e cálculo de consumo diário estão sendo integrados com novas tecnologias, como as câmeras 3D . Confira!
AIntergado, primeira empresa do país a desenvolver cochos eletrônicos para provas de eficiência alimentar em gado de seleção, está desenvolvendo tecnologias da chamada “Pecuária 4.0” para atender especialmente o segmento de engorda comercial.
Para isso, lançou, há dois anos, um modelo de balança para pesagem voluntária de animais em confinamento ou no pasto, acopladas aos bebedouros, e agora está preparando o lançamento de um sistema com câmeras tridimensionais (imagens 3D) capazes de predizer a qualidade da carcaça dos animais ainda vivos, tecnologia inédita no Brasil e concebida em parceria com a equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais.
“Com essa nova ferramenta, será possível antecipar, durante a engorda, informações de grande interesse para pecuaristas e frigoríficos, como o peso da carcaça e seu nível de gordura subcutânea”, garante o diretor executivo da Intergado, Marcelo Ribas.
Sistema de câmaras 3D permitirá avaliar acabamento durante a engorda dos animais.
Em fase final de aprimoramento, o sistema de câmeras será lançado comercialmente ainda no primeiro semestre de 2020. Segundo Ribas, a ideia de criar essa nova ferramenta surgiu da constatação de que grande parte dos animais abatidos no Brasil apresenta nível de acabamento insatisfatório.
“Quando se agenda um abate no frigorífico, geralmente, os pecuaristas e as indústrias não sabem prever qual é a situação real daquele animal, porque as avaliações são feitas visualmente, de maneira subjetiva”, afirma Ribas.
Ao conseguir estimar, com grande precisão, o perfil de carcaça do animal ainda vivo, o pecuarista pode, por exemplo, tomar a decisão de retardar a entrega dos lotes por mais alguns dias, até que a boiada se encaixe em um padrão de acabamento que garanta bonificação sobre o preço de balcão da arroba.
Por sua vez, o frigorífico que comprar animais de fazendas detentoras do sistema de câmeras 3D terá maior previsibilidade em relação à qualidade dos lotes adquiridos, facilitando o fechamento de contratos com os produtores, o que possibilita direcionar antecipadamente a produção a diferentes nichos de mercado.
Ensinamento do sistema
Para colocar em prática o projeto, a Intergado precisou criar uma “estrutura de ensinamento técnico do sistema”, que correlacionou as diferentes imagens dos animais vivos (captadas pelas câmeras 3D) com os dados de carcaças dos mesmos bovinos depois de abatidos.
Primeiramente, esse trabalho de aprendizado e criação de algoritmos para predição da qualidade das carcaças contou com uma estrutura restrita de apenas 50 animais, analisados pela Intergado em parceria com membros da Universidade de Viçosa, que acumula bastante experiência com este tipo de pesquisa envolvendo carcaças bovinas.
Posteriormente, a Intergado conseguiu aumentar bastante sua base de avaliação/medição ao fechar parcerias com duas companhias que abatem grande quantidade de animais diariamente, a Minerva e a JBJ. Na Minerva, a Intergado conseguiu capturar imagens de 450 animais vivos, em sua maioria da raça Nelore, e, posteriormente, recebeu os dados de classificação das carcaças desses animais já abatidos. O mesmo trabalho foi realizado na JBJ, porém com 900 animais meio-sangue Angus (machos e fêmeas), com idade inferior a 24 meses.
“Trata-se de um processo bastante complexo, que envolve avaliações de toda a estrutura física do animal, levando-se em consideração características como peso, altura, raça, sexo, largura da garupa, entre outros quesitos importantes”, detalha Ribas. Ele explica que os frigoríficos trabalham com metodologias de classificação baseadas principalmente no nível de quantidade de gordura que recobre a carcaça. “Nosso modelo de imagens foi feito justamente para prever a espessura dessa camada adiposa”, observa.
Como funciona
Para antecipar a classificação de carcaça em animais vivos, são utilizadas informações de peso capturadas pelas balanças e medidas corporais, fornecidas pelas câmaras 3D. Ao associar todos os dados disponíveis, é possível estimar se o animal está gordo, médio ou magro; quanto de gordura subcutânea ele possui; se tem mais carne no dianteiro ou no traseiro (cortes nobres), dentre outras medidas.
“Fazendo uma analogia simples: dois homens possuem o mesmo peso, de 80 kg, mas um deles mede 1,80 m e o outro, 1,60 m. Quem é o mais gordo?”, indaga Ribas, acrescentando que o sistema da Intergado consegue responder esse tipo de pergunta no caso dos bovinos, pois faz uma espécie de classificação por escore corporal em 3D. “Optamos pelas imagens tridimensionais porque algumas curvaturas são importantes para nosso modelo de predição. Podemos, por exemplo, dizer com exatidão se os ossos da garupa estão totalmente recobertos, ou quais sãos os diferentes níveis de cobertura de gordura”, ressalta o executivo.
Presença de mercado
Segundo Ribas, embora a história da Intergado tenha forte ligação com o segmento de melhoramento genético, há tempos a empresa vislumbra participar mais efetivamente do mercado de engorda comercial. “Somos muito gratos ao meio científico (universidades) e aos selecionadores, que foram os primeiros a utilizar nossos equipamentos de eficiência alimentar, mas o sonho da Intergado sempre foi chegar ao mercado de produção de carne, a ‘cereja do bolo’ do setor pecuário”, justifica.
Ao colocar em prática o projeto das câmaras 3D, a empresa fortalecerá a sua divisão de negócios dirigida ao setor de carnes – batizada de “Intergado Beef”, além de fincar definitivamente o pé na “Pecuária 4.0”. As balanças de pesagens instaladas junto aos bebedouros já representaram grande avanço para o setor de confinamento, que normalmente apenas estima o ganho de peso diário em função do peso de entrada e no consumo esperado para determinada dieta.
“Com as balanças de pesagem voluntária, eles agora dispõem de uma gama enorme de dados para tomada de decisões no confinamento”, diz o diretor da empresa, que, neste segmento específico, concorrente com outros fabricantes, como Bosch, Coimma, Lebov e Datamars.
Pelo sistema oferecido pela Intergado, os animais são pesados de forma voluntária todas as vezes que bebem água (nível zero de estresse), sendo reconhecidos individualmente por meio dos brincos, que, por sua vez, transmitem em tempo real os dados para um sistema de nuvem (banco virtual). Com esse tipo de ferramenta, o pecuarista consegue acompanhar a curva de ganho de peso diário em todas as fases da engorda, além de identificar eventuais falhas de manejo e o surgimento de doenças que possam afetar o desempenho dos bovinos.
“Essas balanças permitem calcular automaticamente o lucro diário por cabeça, projetando o momento ideal para a venda do animal e evitando a presença do “boi ladrão”, destaca Ribas, referindo-se ao animal que já atingiu o ganho máximo de peso, mas continua comendo no cocho. As câmaras 3D, segundo ele, vêm complementar essa tecnologia.
Posição de mercado
De capital 100% nacional, a Intergado iniciou o processo de desenvolvimento dos cochos eletrônicos em outubro de 2011, para concorrer diretamente com os equipamentos canadenses Growsafe, primeiros a ser instalados no Brasil. Depois da realização de vários testes a campo, em 2013, a Intergado comercializou seus cochos eletrônicos para a Fazenda Grama, em Pirajuí-SP, que realiza seleção de Senepol.
Por oferecer às fazendas equipamentos a um custo bem mais baixo que o cobrado pela Growsafe, a Intergado rapidamente dominou o mercado brasileiro de equipamentos para testes de eficência alimentar em projetos de melhoramento genético.
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“Hoje, a Intergado está presente em 95% dessas provas”, afirma Ribas, acrescentando que, desde 2012, não se vende mais produtos da marca canadense no Brasil. Contando todos os equipamentos fabricados (cochos, bebedouros, plataformas de pesagem, sensores de temperatura e umidade, gaiolas de metabolismo, câmaras respirométricas, dentre outros), a Intergado comercializou, em 2018, 338 unidades no País, além de exportar para países da América Latina.
Em 2017, foram 270 equipamentos comercializados e, neste ano, já são 386 unidades vendidas até agosto. Em relação ao comércio exclusivo de balanças de pesagens, a empresa nacional contabiliza a instalação de 541 unidades desde o lançamento comercial do equipamento, em 2017.
“Temos uma meta de longo prazo que é instalar 4.850 balanças de pesagem em até quatro anos”, prevê Ribas, reforçando o interesse da empresa pelo segmento de engorda comercial.
Adaptado da Revista DBO