“A calagem é adotada principalmente por produtores rurais e pecuaristas que estão mais tecnificados. Precisamos chegar a outros setores produtivos”.
A aplicação de calcário é uma ferramenta necessária para o agronegócio brasileiro e que ganha força com os riscos gerados pelo desabastecimento de fertilizantes. As ameaças surgem em razão da guerra que envolve Rússia e Ucrânia.
O Brasil um dos principais consumidores mundiais de fertilizantes. A calagem, que é a aplicação de corretivos agrícolas como o calcário, proporciona melhor absorção dos nutrientes presentes nos fertilizantes.
Ao longo dos últimos anos, a ampliação da prática da calagem tem sido defendida pela Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola (Abracal), junto aos produtores e autoridades. A entidade congrega perto de 250 indústrias no país. Em 24 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Calcário Agrícola.
“Questões técnicas e econômicas nos levam a difundir a calagem. Há eficiência maior quando o fertilizante é aplicado em solos com acidez corrigida. Nos últimos anos, a elevação da cotação do dólar ampliou a importância dessa correção. Esse cenário gerado pela guerra torna ainda mais urgente uma revisão”, diz o presidente da Abracal, João Bellato Júnior.
A calagem começa com a análise do solo. Os resultados dessa análise são interpretados por técnicos, que apontam as quantidades de insumos necessárias por área e em função da cultura que será plantada.
“A calagem é adotada principalmente por produtores rurais e pecuaristas que estão mais tecnificados. Precisamos chegar a outros setores produtivos”, conta Bellato. O Brasil consumiu 54 milhões de toneladas de calcário no ano passado, sendo que o ideal estaria perto de 80 milhões de toneladas.
Calcário potencializa adubação
O calcário não substitui o fertilizante, mas potencializa os resultados da adubação. “A aplicação de fertilizantes em solos ácidos reduz a absorção dos nutrientes presentes nesse fertilizante”, diz Bellato.
Países tropicais, como o Brasil, apresentam solos ácidos em grande parte do território. “Fazer a adubação sem calagem é desperdício na certa”, declara o diretor executivo da Abracal, Euclides Francisco Jutkoski.
A análise passa pelos custos do plantio. O valor investido em uma tonelada de fertilizantes, entre as fórmulas mais comuns, é bem superior ao custo da tonelada de calcário. Engenheiro agrônomo e especialista em solos, Jairo Hanasiro avalia: “fertilizante é em dólar, calcário é em real”.
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Já o governo federal está lançando o Plano Nacional de Fertilizantes. Em reunião sobre o plano, a Abracal reforçou a autoridades e pesquisadores a importância da calagem no conjunto de ações previstas no plano.
Efeitos ambientais
A produção do calcário agrícola consiste na cominuição apropriada de rochas carbonáticas abundantes no país, e as jazidas atualmente em operação conseguiriam atender à expansão no consumo, segundo Bellato. A aplicação ganhou maior importância também diante do registro de eventos climáticos extremos que afetam tanto o campo como o ecossistema.
Jairo Hanasiro afirma: “solos corrigidos produzem mais massa vegetal e raízes, elevam a atividade microbiana e se tornam mais estruturados, possuindo uma maior capacidade de infiltração e retenção de água”.
Segundo Hanasiro, “esse cenário fortalece, entre outros, a alimentação dos lençóis freáticos, contribuindo para um manejo mais sustentável da água”.