
“Como profissionais atuantes no setor cafeeiro, sentimos a responsabilidade de esclarecer aos consumidores a complexidade desta situação e as perspectivas para o futuro”, disse o especialista e autor desse artigo, Juliano Tarabal*.
O mercado global de café enfrenta atualmente uma série de desafios que têm impactado significativamente a oferta, a demanda e os preços desta bebida apreciada em todo o mundo. Como profissionais atuantes no setor cafeeiro, sentimos a responsabilidade de esclarecer aos consumidores a complexidade desta situação e as perspectivas para o futuro.
A recente medida promovida pelo governo na busca de reequilibrar os preços do café zerando a tributação da importação, não irá promover uma redução dos custos do produto na gôndola, até porque não dependemos de importação para abastecer o nosso mercado e a realidade de preços altos é internacional, pois o café é cotado na bolsa de Nova York e os preços do café produzido em outras origens/países está elevado da mesma forma. As medidas para reequilibrar estes preços passam por transformações muito mais profundas para além da lei de oferta e demanda como, por exemplo, questões climáticas que vêm afetando a produção nos últimos 4 anos. Portanto, não podemos politizar esta questão, mas sim agir com inteligência e principalmente sermos assertivos nas soluções junto aos consumidores e especialmente junto à produção que é a provedora dos grãos desta bebida apreciada no mundo todo.
O mundo deve produzir neste ano de 2025 entre 160 a 170 milhões de sacas de café e o consumo deve ficar entre 170 e 175 milhões, portanto haverá um déficit entre produção e consumo num momento em que os estoques estão baixos, pois nos últimos anos especialmente em função da pandemia e também de fatores econômicos houve uma mudança drástica na gestão de estoques, por um estrangulamento logístico como também pelo alto custo de manutenção de estoques altos.
A subida dos preços, a enorme oscilação cambial e os seguidos déficits entre produção e consumo trouxeram um enorme desafio para os operadores do trade; que são os exportadores e importadores, que precisar “margear” suas operações pagando pela subida do preço do produto e do dólar, o que também gerou um desequilíbrio.
Quanto ao aspecto climático, nos últimos 4 a 5 anos tivemos mudanças drásticas, ocorrências graves de geada, seca, altas temperaturas, causando quebras seguidas de produção e um impacto muito grande na fisiologia da planta que não estava habituada com estes fenômenos tão frequentes. Isso tem exigido um sacrifício enorme do produtor em promover a alto custo adaptações para manter a sua produção. É necessário “trocar o pneu com o avião andando”, pois, a resposta da pesquisada não veio na mesma velocidade que as mudanças.
E mais um detalhe, apesar dos altos preços o produtor não está “nadando no dinheiro” pois estamos em uma entre safra e neste momento pouquíssimos produtores tem café estocado, fora que os preços elevados em demasia geram uma menor liquidez, o mercado fica meio travado.
Brasil, Vietnã, Colômbia, Indonésia e Etiópia. Estes são os 05 maiores produtores globais de café, todos eles enfrentando os mais diversos problemas em sua produção: clima, mão de obra, logística, regulamentação, infraestrutura, política, desigualdade… De onde você acredita terá uma solução para suprir oferta frente ao elevado crescimento do consumo?
Estados Unidos, Brasil, Alemanha, Japão e França. Este são os cinco maiores consumidores de café, a maioria deles com mercados consolidados e estabilizados, portanto veja que o único asiático é o Japão que vive uma deflação. Então seguramente nos próximos 10 anos poderemos ver mais países orientais figurando nesta lista, levando em conta incremento de renda, mudança de cultura e crescimento populacional,especificamente na zona dos tigres asiáticos, Índia e China.
Então meus amigos, a equação para solucionar a oferta e demanda global de café nos próximos anos não é nada fácil…
Os países do eixo norte não têm condições climáticas para produzirem café e são grandes consumidores.
Os países do eixo sul que é onde se produz, são mais pobres, não têm muita capacidade de aumentarem suas produções, passam por desafios climáticos dentre outros, portanto não há de se esperar também um grande incremento.
Frente a uma equação tão complexa, a linha de soluções é da mesma complexidade.
A cadeia do café no aspecto da produção carece bastante de uma maior governança, especialmente em nível global, pois nossos países produtores coirmãos são países na linha abaixo do desenvolvimento…
Com isso, não existe uma discussão muito estruturada de supply chain em nível global.
Com todo este contexto nós estamos diante de uma dinâmica completamente nova na cadeia. E a depender das decisões e ações tomadas daqui em diante o consumo global pode passar por transformações mais profundas e a oferta pode sim estar cada vez mais limitada.
Concluindo, para você que acompanhou até aqui, primeiro não se desespere o café não irá acabar, pode até ficar mais caro mas acabar não vai não… então aproveite e promova também mudanças em seus hábitos de consumo, procure por uma qualidade maior, procure entender mais o que está por trás da produção, transforme de hábito para experiência, valorize a origem e, principalmente, valorize o trabalho do produtor, valorize o nosso país Brasil e cada uma de suas regiões; e não acredite em soluções que não sejam inteligentes e que não respeitem a grandeza que representa este grão tão nobre.

*Autor: Juliano Tarabal
- Eng. Agrônomo Especialista em Gestão do Agronegócio Café pela FIA e MBA Gestão Empresarial pela FGV
- Diretor Executivo na Federação dos Cafeicultores do Cerrado e Membro Fundador do Instituto Brasileiro dos Cafés de Origem
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