O CaféPoint viajou até a região para conhecer a produção e a atuação do Sebrae na criação de marca e na organização do pedido de Indicação de Procedência.
Entre as regiões produtoras de café visitadas pelo CaféPoint este ano, um dos destaques foi a Chapada de Minas, que conhecemos em novembro. A convite do Sebrae, decolamos em São Paulo e pousamos em Belo Horizonte, seguindo por mais cinco horas de estrada até o nosso destino final: a cidade de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, Nordeste de Minas Gerais.
A região
A Chapada de Minas é composta por 22 municípios e conta com 40 anos de atividade cafeeira, desenvolvida principalmente por conta da migração de produtores vindos do Paraná após a “geada negra” de 1975, responsável por castigar boa parte dos cafezais do estado.
Até pouco mais de dez anos, não havia organizações sindicais na região. É o que conta Julian Rodrigues, analista de negócios do Sebrae MG, responsável pela Região da Chapada de Minas, um dos guias do nosso roteiro. Ele explica que, em meados de 2012, a cooperativa regional quebrou e deixou um dano de mais de 20 milhões, o que prejudicou muitos produtores.
Anos depois, em 2019, surgiu o Instituto Café da Chapada de Minas, pontapé inicial para a elaboração da estratégia da marca coletiva atual. De acordo com Rodrigues, o próximo passo é obter a Indicação Geográfica na modalidade Indicação de Procedência, que garante o reconhecimento e a valorização da produção local, e fortalece a identidade no mercado. Para isso, o Sebrae, juntamente com representantes da região, estão estruturando as informações necessárias para protocolar o pedido no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
“O Sebrae atua na cadeia do café da região da Chapada de Minas há mais de uma década”, menciona o analista. “Nosso trabalho tem como objetivo trazer inteligência para o território e desenvolver as governanças locais, organizando os grupos para que tenham representatividade e senso de pertencimento, e, ao mesmo tempo, proporcionar a eles acessos a mercados de origem controlada”, detalha.
Hoje em dia, a Chapada de Minas é responsável por uma produção que varia de 400 a 900 mil sacas anuais, composta majoritariamente por produtores familiares – apesar de boa parte da área total em produção pertencer a grandes produtores, que também plantam eucalipto. Segundo Rodrigues, a maioria do café produzido ainda é commodity, mas aos poucos o cenário está mudando, e isso pode ser visto nos concursos de qualidade.
“O terroir daqui é diferenciado”
Uma de nossas paradas foi em Aricanduva (MG), na Fazenda Alvorada, bom exemplo de produção focada em qualidade. Este ano, além de conquistar a terceira colocação na categoria natural do 3º Prêmio Chapada de Minas, a propriedade também teve grande destaque em uma das principais premiações nacionais de qualidade, o Prêmio Coffee of the Year, onde alcançou a 5ª melhor posição na categoria arábica.
Em nossa visita fomos recebidos pelo produtor Sergio Meirelles, sua filha Raquel e seu genro Orlando, que contaram um pouco sobre a relação da família com o café. “Quem não é otimista, não planta. Agricultura é pra quem tem paixão, pra quem gosta”, comenta Meirelles. Ele, que também é engenheiro agrônomo, comprou a fazenda em 1981. “Só tinha mato”, conta. Atualmente, a fazenda tem 233 hectares, sendo 93 destinados à produção de café e o restante à reserva legal, pasto e plantação de eucalipto.
“Quando viemos pra cá, ninguém sabia o que plantar”, explica Meirelles, dizendo que costumava pegar referências da cafeicultura em Manhuaçu. Porém, as Matas de Minas tinha um clima diferente da Chapada. Foi então que a Epamig ofereceu a ele que fizesse um campo experimental com 15 variedades. De todas essas, duas apresentaram bons resultados: a catiguar MG2 e a MGS aranãs. De lá para cá, já foram quatro experimentos e mais de 100 variedades plantadas. Os resultados ajudaram os cafeicultores a entender melhor quais plantas eram as melhores opções para a região.
Este ano foram 4.200 sacas de café produzidas, mas com o investimento em irrigação (agora são 58 hectares irrigados), a expectativa para o novo ciclo é de crescimento. “O nosso diferencial são as variedades que temos para oferecer. Hoje temos diversidade de processos, o que permite que a gente entregue diferentes características sensoriais aos nossos clientes”, destaca Raquel, que largou a vida em São Paulo e o trabalho na multinacional Nestlé para se dedicar ao cultivo do fruto na propriedade da família.
Com a criação da marca Chapada de Minas, os negócios melhoraram. “Ganhamos identidade, preço e visibilidade. Pudemos explicar melhor onde estamos e o potencial que temos. Isso abriu muitas portas”, comemora Meirelles, que agora exporta café para os Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão, Israel e países da Europa. “O terroir daqui é diferenciado. A partir do momento que as pessoas entenderem que o café daqui tem um perfil único, temos muito a despontar”, projeta Orlando.
“É muito gratificante ver que a nossa produção está sendo reconhecida”
A uma hora de distância, paramos na grande Fazenda Sequóia, no município de Angelândia (MG), onde fomos recepcionados por Rodrigo Crimaldo, que atua na propriedade desde 1999 e hoje ocupa o cargo de gerente. Enquanto tomavamos uma xícara de café cultivado na própria lavoura, Crimaldo contou sobre a produção local.
A história da Sequóia começou em 1975, quando sua área total era de 474 hectares. As primeiras mudas plantadas ali foram de catuaí 62 e catuaí 99. De lá para cá o avanço foi tanto que, hoje, a propriedade conta com 3.906 hectares de área total (sendo 750 destinados ao café) e 13 variedades – do tradicional catuaí ao saboroso gesha.
Com 23 mil sacas produzidas neste ano, a colheita na fazenda, que costuma ser tardia, de junho a julho, foi antecipada para maio devido ao aparecimento de quatro floradas. “O café é muito responsivo ao clima e, nos últimos dois anos, o clima teve uma mudança brusca. Então imagino que, ano que vem, nossa colheita também será complexa”, comenta. Ele projeta que a produção de 2025 fique em torno de 14 mil sacas, devido ao clima e às podas feitas recentemente.
Além da reestruturação nos pés de café, a Sequóia também renovou os processos de pós-colheita nos últimos dois anos. “Aqui chove bastante”, conta Crimaldo. A alta umidade atrapalha a secagem dos grãos no terreiro. Como solução, a fazenda investiu R$ 12 milhões em um maquinário colombiano de processamento “in door”.
A estrutura de alvenaria possui compartimentos que se assemelham a caixas, onde os grãos são alocados. Neste processo de secagem, o ar sai por baixo e, a cada período de tempo programado, uma portinha se abre na parte inferior da caixa, fazendo com que os grãos caiam e sejam posicionados na caixa ao lado, onde ficarão por mais um período desejado, podendo variar de 18 a 36 horas, diminuindo a cada troca de caixa.
Segundo Crimaldo, este sistema resulta em uma secagem uniforme, pois, o café que está menos seco, localizado na superfície, é o que ficará por baixo na próxima caixa. A finalização da secagem é feita em um secador rotativo e, dali, o café segue para as tulhas. Um processo inteiro mecanizado.
Além de resolver o problema das chuvas, o maquinário também diminuiu a porcentagem de café quebrado, de 13% para 3%, uma vez que não passa mais veículos ou pessoas em cima dos grãos no terreiro. “Tenho um produto que passa por menos contaminação e menos risco de fermentação indesejada”, explica. Hoje, os cafés da Sequóia são exportados para mercados como os da Bélgica, Países Baixos, Polônia, Eslovênia e República Tcheca. No 3º Prêmio Chapada de Minas, a fazenda conquistou o primeiro lugar na categoria natural e o segundo na categoria cereja descascado.
Mesmo para uma fazenda grande como a Sequóia, o desenvolvimento da marca Chapada de Minas foi algo positivo. “Eu acho que o principal ganho é a visibilidade”, relata o gerente. “Quando se falava em Chapada de Minas, nosso café era confundido com o Cerrado Mineiro ou as Montanhas de Minas. Nós não tínhamos um reconhecimento como produtores de café. É muito gratificante ver que a nossa produção está sendo reconhecida”, comemora.
Paralelamente ao desenvolvimento de marca para a obtenção do selo de Indicação de Procedência, o Sebrae também busca desenvolver tecnicamente os produtores, por meio de treinamentos, capacitações, dias de campo e do programa de assistência técnica e gerencial do Sebrae, o Educampo. “Queremos que esses grupos tenham acesso a outras regiões para entender o que o mercado está fazendo e como isso pode ser ajustado à realidade de cada um”, informa Rodrigues.
Fonte: CaféPoint
VEJA TAMBÉM:
- Governo vai pagar R$ 1,11 milhão para captura e abate de 380 javalis e javaporcos
- BRF compra 50% da Gelprime por R$ 312,5 mi
- Crédito Rural: Sicoob libera mais de R$ 26,7 bilhões nos cinco primeiros meses da Safra 2024/25
ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.