![cabras raras de arquipelogo Abrolhos](https://www.comprerural.com/wp-content/uploads/2025/02/cabras-raras-de-arquipelogo-Abrolhos-750x430.jpg)
Pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia receberam cabras raras da Ilha de Abrolhos para pesquisa genética e conservação que podem mudar o agronegócio; entenda o caso
Pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) conseguiram 21 cabras da Ilha de Abrolhos para pesquisa no campus em Itapetinga para estudos científicos. Os animais, que viviam isolados na ilha há mais de 200 anos, desde que teriam sido deixados por navegadores no período colonial, são considerados um tesouro genético pelos pesquisadores. As cabras são capazes de sobreviver em ambientes extremamente secos, possível descoberta para o agronegócio brasileiro.
- Abrolhos é um arquipélago costeiro localizado no Oceano Atlântico, a cerca de 65 quilômetros do litoral sul do estado da Bahia.
A singularidade das cabras deve-se, principalmente, pela sua rusticidade, pois conseguiram se adaptar a um ambiente com escassez de água, já que a Ilha não possui fontes de água doce. O professor Ronaldo Vasconcelos, do curso de Zootecnia, que estuda conservação de recursos genéticos, explica que essa adaptação pode estar relacionada a características específicas do DNA da espécie. “Imagine um material genético que se desenvolveu em uma ilha sem água. Esses animais têm e devem ter, na sua genética, um componente que lhes permitiu essa sobrevivência. Esperamos que isso seja confirmado pela ciência”, comenta o professor.
Essa característica pode ser essencial para pesquisas voltadas ao manejo e à reprodução de caprinos em regiões semiáridas. Segundo Vasconcelos, entender os genes responsáveis por essa resistência pode trazer benefícios significativos. “Esses genes podem melhorar o desempenho de animais do continente, tornando-os mais resistentes em áreas com escassez de água. Além disso, esse material genético pode ser valioso para pequenas propriedades rurais”, explica Ronaldo.
Após a chegada ao campus, os animais foram colocados em quarentena. O objetivo é monitorar a adaptação ao novo ambiente e garantir os cuidados sanitários necessários. Além disso, é fundamental mantê-los isolados de outros rebanhos, já que viveram muito tempo sem contato com doenças comuns do continente. “A primeira etapa agora é a quarentena. Precisamos adaptar esses animais ao ambiente continental, pois, na Ilha, eles estavam expostos a uma luminosidade, umidade e ventos diferentes dos que temos aqui”, destaca Ronaldo.
![pesquisadores da uesb observando as cabras raras](https://controle.comprerural.com/wp-content/uploads/2025/02/pesquisadores-da-uesb-observando-as-cabras-raras.jpg)
Outro fator pontuado pelo professor Ronaldo é a vulnerabilidade desses caprinos a parasitas. “Eles nunca tiveram contato com carrapatos, e um único carrapato pode ser fatal. Também não possuem verminoses. Isso não é bom, porque eles não têm resistência. Por isso, o trabalho precisa ser extremamente cuidadoso”, frisa o professor.
O professor Dimas Oliveira, responsável pela disciplina de melhoramento animal do curso de Zootecnia, destaca a relevância dessa nova população para a pesquisa científica. “Esse é um material novo, de grande interesse para a zootecnia nacional, especialmente para a criação no semiárido. Precisamos entender e avaliar suas potencialidades”, afirma Dimas.
O professor Dimas também ressalta a participação de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na preservação desse material genético. “A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargem) também está envolvida nesse projeto, o que demonstra a importância e o interesse na conservação desses animais”, pontua.
O processo de captura – A remoção das cabras foi necessária devido ao impacto ambiental causado no solo e vegetação da Ilha pelos animais. Além disso, o local é um santuário de reprodução de aves que só existem naquela localidade. A operação contou com a participação de diversas instituições, incluindo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Embrapa, a Marinha do Brasil, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e a Uesb. Aproximadamente 20 pessoas participaram da transferência das espécies.
“Durante o processo de retirada, identificamos os animais com brincos e microchips, além de coletarmos amostras de sangue para análise de DNA. Nosso objetivo é estudar o grau de parentesco entre eles, entender se há semelhanças genéticas com caprinos do continente e investigar sua origem”, explica Kleibe Moraes, pesquisador da Embrapa.
Caso seja confirmada a singularidade genética dos animais, a Embrapa e a Uesb deverão iniciar um plano de conservação, que incluirá a ampliação do rebanho, armazenamento de material genético (sêmen e embriões) e a distribuição para produtores rurais.
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