Quase nove em cada dez pessoas ouvidas pelo Datafolha responderam que se importam em maior ou menor grau com o sofrimento de animais de fazendas
Você se importa com o sofrimento dos animais como galinhas e porcos causado pela condição como são criados? Quase nove em cada dez brasileiros maiores de 16 anos ouvidos em pesquisa inédita do Instituto Datafolha responderam que se importam em maior ou menor grau com o sofrimento desses animais de fazendas. A pesquisa foi realizada em setembro por encomenda da ONG Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e teve como foco a população que costuma fazer compras em supermercados e hipermercados.
Colocando em percentual, 88% responderam que se importam, sendo que 64% disseram se importar muito e 24% falaram que se importam um pouco. Outros 9% responderam que não se importam e 3% falaram que nunca pensaram sobre isso ou não saberiam opinar.
A pesquisa do Datafolha também identificou que 84% dos entrevistados trocariam de supermercado se soubessem que o estabelecimento compra produtos de fazendas em que o animal é submetido a sofrimento. Entre esses consumidores destacam-se as mulheres (87% x 79% homens), quem tem entre 25 e 34 anos de idade (89%) e as pessoas das classes C (85%) e D/E (84%). Entre os entrevistados que não trocariam de supermercado, o destaque são os homens (17% x 7% mulheres), da classe A (27%) e da região Sul (15%).
Os 2.073 entrevistados representam o perfil da população brasileira acima de 16 anos. Há maior número de mulheres (53%), de pessoas com nível médio de escolaridade (46%) e pertencentes à classe C (47%). A média etária é de 43 anos. A maioria (73%) é economicamente ativa e mora na região Sudeste (44%) em cidades do interior (58%). A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo, com índice de confiança de 95%, ou seja, se fossem feitos 100 levantamentos simultâneos com a mesma metodologia, em 95% os resultados estariam dentro da margem de erro.
Taylison Santos, gerente executivo da ONG 100% nacional fundada há 21 anos pela bióloga Sonia Peralli Fonseca, diz que o objetivo da pesquisa foi aferir o grau de interesse dos brasileiros em relação ao bem-estar dos animais que vivem em criações, atrelado à escolha de marcas de supermercado. Embora a pesquisa não tenha nenhuma pergunta específica sobre ovos, os resultados vão ser apresentados a supermercados de todo o país para pressionar e incentivar as empresas a substituírem os ovos de galinhas criadas em gaiolas por ovos de galinhas livres (cage free), que hoje representam menos de 10% do volume produzido no país.
A Fórum Animal mantém contatos com redes de supermercados como o Grupo Pão de Açúcar e Carrefour, que já firmaram compromissos de só passar a vender ovos de galinhas livres entre 2025 e 2028. “Fazemos sempre auditorias nos supermercados para ver se houve avanço no compromisso. O resultado dessa pesquisa vai indicar a eles se já é hora de avançar com a troca.”
Além da pressão, a ONG oferece às empresas um trabalho de mapeamento de fornecedores de ovos de galinhas livres e capacita funcionários do setor para entender os compromissos assumidos dentro das normas de ESG (sigla em inglês para sustentabilidade ambiental, social e de governança).
O gerente afirma que uma surpresa para a equipe foi o alto grau de conscientização das classes D e E, as mais pobres e que consomem muito ovo, em relação ao bem-estar dos animais. Um total de 68% responderam se importar muito com o sofrimento dos animais antes os 64% da classe C e 59% das classes A e B. Entre os 9% que responderam não se importar com o sofrimento dos animais, se destacam as pessoas com mais de 60 anos (14%) e com ensino fundamental (13%).
“Ficamos felizes de ver que as pessoas mais pobres se impactam até mais com o sofrimento dos animais. Esperávamos esse resultado das classes A e B. Agora, temos que trabalhar para conscientizar os mais idosos sobre a importância do bem-estar animal. O plano é intensificar a participação nos canais onde esse público busca informação.”
Santos ressalta que a maioria das pessoas que foram contatadas pela equipe para nortear as perguntas da pesquisa não tinha ideia de que os ovos que consome vêm de galinhas criadas confinadas em gaiolas pequenas, sem espaço nenhum para expressar seu comportamento natural como abrir as asas, ciscar, empoleirar ou fazer ninhos. “As propagandas e ações de marketing nunca mostram a galinha poedeira na gaiola. As imagens são sempre de galinhas livres.”
Neste ano, a ONG identificou que atuam no Brasil 149 empresas que divulgaram o compromisso público de usar ovos de galinhas livres. Enviou questionário a todas para mensurar como está o processo de transição, mas apenas 44 responderam. Desse total, 47% disseram que valorizam a produção de ovos fora da gaiola, mas 70,5% relataram que encontraram dificuldades para adotar o novo sistema.
Questionado sobre o impacto da diferença de preços entre os ovos de galinhas de gaiolas e os “cage free”, que atinge o dobro em alguns pontos de venda, o gerente da Fórum Animal diz que não há como comparar os sistemas de criação. A expectativa é que, com mais fornecedores e empresas investindo nas galinhas livres, o preço desses ovos caia.
A cadeia de fornecedores no país ainda é bem pequena, mas cresce ano a ano. A granja Mantiqueira, maior produtora do país, por exemplo, tem atualmente 600 mil aves fora de gaiolas em um plantel de cerca de 12,5 milhões de galinhas, e se comprometeu a só abrir novas unidades no modelo “cage free”.
Essa campanha pela liberdade das galinhas poedeiras também envolve outras ONGs de defesa animal. A ONG Mercy for Animals, por exemplo, desenvolveu neste ano um trabalho com as lojas de fast food,cobrando das empresas o cumprimento de prazos assumidos publicamente para deixar de usar ovos de galinhas confinadas.
Fonte: Globo Rural