Com base em pesquisas na área de melhoramento genético, o botânico Pedro Nahoum está cultivando novos abacaxis no Rio de Janeiro
A nova fruta que, comercialmente, se chama puã (em tupi-guarani, significa redondo), tem algumas características diferentes do abacaxi que já conhecemos: a casca, além de ser avermelhada, é mais molinha, lisa e, por isso, comestível. Já a polpa é separada em gomos, como a jaca.
Poder antioxidante
O abacaxi é vermelho por conta de um elemento: a pinotina A, que é uma a antocianina. A substância, também presente no vinho tinto, contribui para a coloração mais acentuada.
Ela é um antioxidante responsável por limpar o organismo dos radicais livres. Assim, as células do nosso corpo funcionam melhor, e se evita, entre outros problemas, o envelhecimento precoce.
“Já a polpa amarela é rica em nutrientes, como potássio, magnésio e vitamina C, além de ter ação anti-inflamatória, pela presença da enzima bromelina”, destaca o pesquisador.
Como foi criado
O abacaxi vermelho, ou puã, foi criado por um processo de melhoramento genético clássico, em pouco mais de 20 anos de estudo.
Pedro Nahoum, que também é proprietário da empresa Botânica Pop, de inovações tecnológicas na agricultura, se interessava por utilizar esse método em bromélias e, por isso, passou a estudar abacaxis ornamentais.
“Assim, começamos a fazer cruzamentos de melhoramento genético, com cruzamentos de abacaxis comestíveis, em uma estratégia de longo prazo”.
O nascimento do abacaxi vermelho, portanto, nada tem a ver com modificações genéticas e formações transgênicas.
“Não tem a ver com genoma. É um cruzamento que leva várias gerações, sendo cada uma de até dois anos e meio, para chegar à seleção dos melhores exemplares, mais adequados para o propósito”.
O método, portanto, reproduz a polinização que originalmente é feita por insetos e pássaros, com germinação de novas sementes e seleção de variedades da flora.
“Chegamos, então, em um pool gênico, que nada mais é que um conjunto de indivíduos genéticos que permite tanto a produção em larga escala quanto a continuidade do método”, explica Pedro. “Amplia o leque de possibilidades (de cruzamentos). Neste momento, trabalhamos no aprimoramento do sabor e da polpa”.
Todo processo acontece fora de laboratórios até certo estágio. “Fazemos a multiplicação in vitro depois que a puã está pronta. Mas, isso não traz contaminação ou mudança genética”.
Resultado
A nova fruta tem duas variações: Cesar, com a coroa de folhas ainda espinhosa e polpa amarelada, e Davi, com coroa de folhas grandes, sem espinhos e polpa esbranquiçada.
Indústria do abacaxi vermelho
O cultivo do puã é orgânico e, quando ele estiver sendo comercializado, contará com informações práticas sobre onde é produzido, Maricá (RJ), e outros dados de sustentabilidade. “Estamos selecionando alguns pontos de venda e restaurantes, no primeiro momento, para divulgar o produto”, comenta Pedro.
A ideia, entretanto, é expandir as formas de uso e comercialização desta nova fruta, fabricando e distribuindo em formatos como gomo seco, cristalizado, concentrado, extrato da polpa e até na confecção de doces. “A casca pode ainda ser preservada e formar cápsulas com a fibra natural”.
Potencial
Apostando no potencial comercial da puã, Pedro comenta que o abacaxi é a sexta fruta mais consumida do mundo e a terceira fruta tropical mais queridinha, atrás da manga e da banana.