Os pesquisadores Roberto Giolo e Márcia Silveira apresentaram os protocolos de carbono neutro (CCN) e baixo carbono (CBC) na pecuária durante live da Nelore MT
Vilões ou mocinhos? A live promovida pela Associação dos Criadores de Nelore de Mato Grosso (ACNMT) na última segunda-feira (07) com pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostrou que é possível aos pecuaristas produzirem carne sustentável, ampliando a margem de produção e a rentabilidade, com a utilização dos protocolos carne baixo carbono (CBC) e carne carbono neutro (CCN).
“Nós, produtores, normalmente somos injustiçados e tratados como “desmatadores”, mas preservamos 50% das nossas reservas e cumprimos uma das legislações ambientais mais severas do mundo. Durante a Semana do Meio Ambiente, nossa palestra disponibilizou conteúdo qualificado para que todos possam compreender, respeitar e apoiar o nosso trabalho”, afirmou Aldo Rezende Telles, presidente da Nelore MT.
Para a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Márcia Silveira, mestre e doutora em Manejo e Avaliação de Plantas Forrageiras e Pastagens pela Universidade Federal de Viçosa, que está validando o protocolo CBC em sistemas pecuários que não possuem o componente florestal. A proposta não é “inventar a roda”, mas estimular o produtor a fazer o básico bem feito e com isso dar um salto de qualidade na produção e valorar o esforço do produtor.
“Os dois sistemas são muito simples de serem implantados, pois não trazem nada de novo, apenas as técnicas de manejo já conhecidas, porém, sistematizam as informações e implantam o monitoramento da propriedade dentro de uma lógica sustentável, o que agrega maior valor à carne e ao negócio, permitindo inclusive a venda dos serviços ambientais que estão em fase de regulamentação no Brasil”, explica Márcia.
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Na avaliação do professor Roberto Giolo de Almeida, engenheiro agrônomo, doutor em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (MS) e professor da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, os pecuaristas brasileiros têm as melhores condições produtivas e estão à frente do resto do mundo, podendo até optar em adotar os dois protocolos na mesma propriedade.
“Por mais que a Austrália tenha lançado um plano voltado para a produção de carne baixo carbono para todo país até 2030, o nosso produtor já tem a opção do selo carne carbono neutro, ou seja, estamos na dianteira, temos o quesito ambiental a nosso favor, porque criamos gado a pasto e nossas florestas estão preservadas, mas ainda assim vejo com preocupação a lentidão do setor agro em se organizar para uma maior adoção destas novas tecnologias, em comparação com os setores da indústria e transportes”.
A Embrapa e a Marfrig Global Foods possuem uma aliança estratégica para fortalecer a agregação de valor à carne bovina brasileira envolvendo as marcas-conceitos CBC e CCN. Mato Grosso é um estado importante neste quesito por possuir o maior rebanho bovino do país, com mais de 31 milhões de animais, sendo 80% da raça Nelore ou anelorado; também está em 2º no ranking nacional de exportações, perdendo apenas para São Paulo.
O boi vilão – O pesquisador Roberto Giolo explicou que o marketing negativo sobre a emissão gases de efeito estufa (GEEs) pelo rebanho bovino surgiu em meados de 2000, por isso a Embrapa e instituições parceiras resolveram desenvolver linhas de pesquisas para avaliar e equacionar o problema apresentado.
“Evoluímos muito na pecuária nos últimos 20 anos, sendo que hoje somos exemplo para o mundo com relação aos sistemas de integração para produção agropecuária, no entanto, ainda nos deparamos com informações sendo divulgadas que distorcem a realidade e que colocam a sociedade contra o produtor”.
Giolo explicou que por meio do CCN, o pecuarista faz o plantio de árvores de rápido crescimento, em geral o eucalipto, obtendo dentro do ciclo agrossilvipastoril a neutralização das emissões dos animais daquela área. O número mais utilizado varia de 200 a 400 árvores por hectare, e com isso, o produtor consegue neutralizar de 2 a 5 cabeças por hectare.
Quando não é possível haver o plantio de árvores, pode-se obter resultado satisfatório com a recuperação das pastagens e manejo adequado por meio do outro protocolo desenvolvido, o CBC. É importante destacar que o protocolo só pode ser implementado em áreas de produção consolidadas, ou seja, sem desmatamento recente.
“A valorização atual é de aproximadamente 8% na arroba produzida com a utilização do protocolo CCN, que já se encontra no mercado, e estimamos 5% para o CBC, que deve ser lançado no segundo semestre de 2021, mas, como ainda é algo muito novo, acreditamos que o próprio mercado regulará esses valores. Não posso deixar de destacar que a mudança no sistema de produção impactará toda a propriedade, tornando-a como um todo mais rentável e sustentável”, concluiu o professor Giolo, que vem apostando em uma adesão voluntária dos produtores.
Plano nacional – “É importante destacar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançou neste ano o Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), com vigência até 2030, para buscar avançar nas soluções tecnológicas sustentáveis de produção no campo. Nós acreditamos que este seja o futuro da pecuária”, pontuou o diretor executivo e idealizador da live, o médico veterinário André Zambrim.