Confira uma análise completa do agronegócio brasileiro para os próximos meses; conheça os principais indicadores da economia brasileira
Prof. Dr. Marcos Fava Neves* – Vamos às reflexões dos fatos e números do agro em setembro e a lista do que acompanhar em outubro. Na economia mundial e brasileira, a incidência da variante delta vem reduzindo o ritmo de recuperação da economia global. Já com relação à economia brasileira, dados divulgados pelo IBGE apontam para uma estabilização do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre, com variação negativa de 0,1% frente ao trimestre passado. Em comparação ao mesmo período de 2020, o indicador é 12,4% superior. Já no acumulado do semestre, a economia avançou 6,4%, dando indícios de que deve fechar 2021 crescendo em torno de 5%.
No agro mundial e brasileiro, o relatório de setembro do USDA revelou um aumento na produção de milho nos Estados Unidos na safra 2021/22, saindo de 374,7 milhões de t no relatório de agosto para 380,9 milhões de t neste (+1,6%). No Brasil, os números foram mantidos em 118 milhões de t. A oferta global do cereal nesta safra deve ficar em 1.197 milhão de t. Para a soja, o USDA elevou a produção mundial em 780 mil toneladas neste relatório, agora avaliada em 384,2 milhões de t; o Brasil deve produzir 144,0 milhões de toneladas.
A Conab revelou suas primeiras estimativas para a safra de grãos 2021/22
A produção total deve atingir 289,6 milhões de t (+14%) em uma área de 71,4 milhões de ha (+4%). Na soja, é esperada uma produção 141,26 milhões de t (+3,9%) advindas de uma área de 39,91 milhões de ha (+3,6%). Já para o milho, o volume está estimado em 115,96 milhões de t (+33,8%) em uma área total de 20,6 milhões de ha (+3,9%). Finalmente, no algodão, devemos produzir 2,71 milhões de t (+15,8%) em uma área de 1,55 milhão de hectares (+13,4%).
Já no último levantamento sobre o ciclo 2020/21 de grãos, a Conab estima produção de 252,3 milhões de t, 1,8% inferior ao da temporada anterior, totalizando 68,93 milhões de ha cultivados (+4,6%). Na soja, com a colheita praticamente finalizada, um volume recorde de 135,9 milhões de t (+8,9%) é esperado numa área de 38,53 milhões de hectares (+3,1%). No milho, considerando as três safras, a produção deve alcançar 85,75 milhões de toneladas (-16,4%), totalizando área semeada de 19,87 milhões de ha (+7,2%).
Apesar do aumento de área, a produção da safrinha foi altamente afetada pelo atraso em sua semeadura, complicando os efeitos das condições climáticas pouco favoráveis como estiagens e geadas, que derrubaram a produção em 20,8%, projetada em apenas 59,47 milhões de t. Enquanto isso, no algodão é esperada uma produção de 2,36 milhões de t (-21,5%), devido a redução de área plantada (-17,7%) para 1,37 milhão de ha. Dentre as lavouras de inverno, destaque para o trigo que teve um incremento de área (+13,1%) e deve produzir 8,16 milhões de t (+30,8%).
Produtores do Mato Grosso devem antecipar o plantio de soja neste ano, aproveitando-se das chuvas que estão previstas para o final de setembro. Dessa forma, busca-se evitar que a semeadura da safrinha de milho seja feita fora da janela ideal, conforme verificado na última safra, o que acarretou em perdas de produtividade. Vamos torcer por isto.
As vendas de fertilizantes para o segundo semestre de 2021 já representam 80% das negociações previstas para o período, segundo levantamento da StoneX. A consultoria estima que 43,7 milhões de t do insumo serão comercializadas ao longo do ano, representando um crescimento de 8% em comparação a 2020. Já para o primeiro semestre de 2022, a estimativa é que 39% dos negócios já estejam fechados. É importante ter cautela com o câmbio e fazer operações casadas, pois os preços estão sensivelmente mais altos.
Em mais um mês, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) revisou para cima o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária). Na estimativa de agosto, o valor foi apontado em R$ 1,106 trilhão, crescimento de 9,7% em relação ao registrado em 2020. As cadeias de produção agrícola devem faturar cerca de R$ 750 bilhões (+11,9%), enquanto a pecuária responderá por R$ 256 bilhões (+5,4%).
O agronegócio brasileiro exportou cifra recorde em agosto de US$ 10,90 bilhões, crescimento de 26,7% em comparação ao mesmo mês de 2020, segundo dados do Mapa. Os preços, 27,1% superiores, continuam a sustentar o incremento de receita das vendas externas, já que o volume embarcado registrou queda de 2,9%. O complexo soja manteve a liderança na pauta de exportação com US$ 4,02 bilhões comercializados (+53,6%), sendo a soja em grãos responsável por 78% desse resultado. As vendas de carnes foram recordes para o mês, alcançando US$ 2,09 bilhões (+40,5%), sendo US$ 1,17 bilhão de carne bovina (+55,6%), US$ 663,55 milhões (+35,2%) de frango e US$ 208,23 milhões (-0,5%) de carne suína.
O mês também teve a complicação de dois casos relatados de vaca louca atípica, que mesmo já resolvidos, trarão impactos na exportação de carne bovina.
Para concluir a nossa análise geral do agro, os preços dos principais produtos no fechamento desta coluna eram: a soja para entrega em cooperativa de São Paulo estava em R$ 166,30/sc e R$ 151,60/sc para fevereiro de 2022. Há um ano estava em R$ 120/sc. No milho, a cotação atual está em R$ 91,00/sc e a entrega em maio de 2022 fechou em R$ 95/sc (B3). Há um ano estava em R$ 51,50/sc. O algodão fechou em R$ 179,84/arroba e estava em R$ 96/arroba há um ano; e o boi gordo em R$ 313/arroba, sensivelmente acima dos R$ 225 no mesmo período do ano passado.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em outubro são:
- A evolução do clima e dos elevados custos para o plantio da mega safra 2021/22, e as decisões de compra, venda e plantio; a crise hídrica e as medidas a serem tomadas;
- Os Impactos das restrições de exportação de carne bovina, torcendo para a rápida abertura da China;
- A finalização da colheita da safra brasileira, a performance de exportações e o abastecimento interno;
- A crise institucional (política), o câmbio e as perspectivas econômicas com a aceleração da vacinação,
- A finalização da safra americana em outubro. Acompanhar a performance da colheita e os novos números de produtividade e produção.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.