O movimento é considerado estratégico pela indústria de proteína animal, que ganha poder de barganha para tentar achatar as cotações do cereal.
Depois da pressão redobrada feita pelos criadores de aves e suínos, devido às altas históricas nos custos de produção este ano, o governo federal vai dar sinal verde para a importação de milho dos Estados Unidos a partir de julho.
O movimento é considerado estratégico pela indústria de proteína animal, que ganha poder de barganha para tentar achatar as cotações do cereal, principal insumo da ração animal – ou ao menos criar um teto nos preços no mercado doméstico. Mas a expectativa é que poucos negócios sejam efetivamente concretizados.
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou, na última quinta-feira, a liberação para consumo humano e animal da última variedade transgênica cultivada pelos americanos, a DP-ØØ4114-3, que ainda não tinha o aval para entrar em território brasileiro. Eram apenas duas na lista de organismos geneticamente modificados (OGM) sem a sincronia de aprovações. A outra, a DAS-59122-7, foi liberada em maio. Ambas são da empresa Corteva Agriscience.
Grãos “cruzados”
A CTNBio também atualizou uma resolução normativa que permite a comercialização de grãos “cruzados” naturalmente nas lavouras a partir do plantio de eventos originais ou “misturados” nas cargas nas indústrias ou nos navios. A regra vale tanto para o milho produzido no Brasil quanto para o cereal importado.
“O que o agricultor colhe é diferente daquilo que a CTNBio aprovou, pois houve um cruzamento natural entre lavouras vizinhas”, explicou o presidente da comissão, o engenheiro agrônomo e geneticista Paulo Barroso, ao Valor.
Avaliar cada cruzamento custaria “bilhões”, disse, e seria desnecessário, já que só eventos originais podem ser cultivados. “Sobre o ponto de vista da alimentação, o que importa são os eventos simples liberados, e não o agrupamento. Não estamos aprovando um pouquinho de outro evento que não passou pela CTNBio”, completou.
Barroso reforçou que a mudança não foi feita exclusivamente para atender ao interesse de importação, que a mediada vale para demais plantas e animais e que foi necessária para dar segurança jurídica ao que já era praticado internamente no país. A norma valerá a partir de julho e deve ser publicada em breve no Diário Oficial da União.
Segundo o diretor de biotecnologia da CropLife Brasil, Othon Abrahão, as variedades transgênicas liberadas para consumo no Brasil pela CTNBio já estavam aprovadas para plantio e consumo nos Estados Unidos e em outros dez países desde 2013. Elas não haviam sido analisadas antes aqui porque não atendem às características e necessidades dos produtores brasileiros para cultivo, e não havia o “movimento importador” de milho como agora.
Segurança para o consumo
“São produtos seguros para consumo, sem risco nenhum”, afirmou ao Valor. “Com essas aprovações, o Brasil poderá importar todos os eventos que são cultivados nos EUA. Não tem trava nenhuma nem possibilidade de que em alguma carga possa vir um produto que a gente não tenha avaliado sobre a segurança do consumo”, indicou.
Ele afirmou ainda que a liberação de “misturas” é uma prática adota ao redor do mundo, em países como Estados Unidos e China. “Entendemos que mistura não é um novo evento”, disse. “Só vai poder entrar produto que foi aprovado, mas na forma ‘single’. Se chegar misturado, e for aprovado individualmente, entrará”, concluiu.
Com a alta nos preços do milho, o governo retirou a Tarifa Externa Comum (TEC) para importações de países de fora do Mercosul em outubro do ano passado e renovou a medida em abril deste ano. Em oito meses, foram compradas menos de 1,5 milhão de toneladas, a maior parte do Paraguai e da Argentina, que já eram isentos e não tinham travas de biotecnologia.
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Mercado dinâmico
Mesmo sem efeito imediato para o fechamento de negócios para trazer cargas dos Estados Unidos, em função dos prêmios mais altos lá perante o cereal argentino, por exemplo, a abertura é considerada positiva para o mercado consumidor de milho. “O mercado é dinâmico e pode mudar ao longo do segundo semestre, a depender das confirmações de perdas na segunda safra brasileira e como será a safra norte-americana”, afirmou o consultor de Mercado da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro.
“É mais uma alternativa ao mercado brasileiro. Para os produtores, não tem tanto impacto de curto e médio prazo. O custo das importações funciona como um teto para o mercado colocar um patamar teoricamente de limite para as altas”, concluiu.
Fonte: Valor Econômico.