Com as exportação de carne suspensas desde a confirmação dos casos atípicos da vaca louca, nesta semana o Brasil propõe enviar missão à China.
O Brasil propôs o envio de uma missão técnica do ministério da Agricultura à China para esclarecer os casos do mal da vaca louca que levaram à suspensão temporária das exportações de carne bovina ao país asiático, anunciada no último dia 4.
Fontes do mercado creem que os embarques serão retomados em breve, já que o Brasil agiu rapidamente após a identificação dos dois casos, um em Belo Horizonte (MG) e o outro em Nova Canaã (MT), cumprindo o protocolo sanitário com a China ao suspender voluntariamente as exportações.
Mais importante, tratam-se de casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (nome técnico do mal), que ocorrem naturalmente em animais de idade avançada e não oferecem riscos sanitário à pecuária brasileira, conforme foi constatado na última semana pela Organização Internacional de Saúde Animal.
A proposta feita pelo Brasil de enviar uma missão à China incluiu uma consulta para para que os técnicos sejam liberados da quarentena de duas semanas imposta a todos os que entram no país do exterior. Até esta segunda, as autoridades chinesas ainda não haviam respondido à oferta.
Assim como a suspensão automática das exportações, a possibilidade de enviar uma delegação do governo brasileiro a Pequim faz parte das medidas previstas no protocolo firmado com a China, mas espera-se que ele não seja necessário para a liberação das exportações. Até porque, diante da dificuldade atual de realizar viagens internacionais e a exigência de quarentena de duas a três semanas para quem entra na China, isso significaria uma demora maior que a prevista na liberação dos frigoríficos brasileiros.
Uma alternativa levantada foi discutir o tema numa reunião por videoconferência. Até esta sexta-feira a China ainda não havia dado uma resposta à proposta do Brasil.
Como a expectativa é de que as exportações brasileiras possam ser retomadas num prazo de até 14 dias, como ocorreu em 2019, a última vez em que elas foram suspensas por casos do mal do vaca louca, a quarentena provocaria um atraso indesejável na liberação. Embora haja relativo otimismo de que os embarques recomecem rapidamente, também há certa apreensão no mercado sobre possíveis danos à indústria de uma suspensão mais prolongada. Segundo uma fonte do setor privado, o prazo da liberação é “imprevisível”.
A China impõe rígidas medidas de prevenção contra a Covid a quem entra no país, incluindo testes e quarentena, que a partir do desembarque costumam atrasar a chegada a Pequim em três semanas. Embora raras, há exceções, abertas de acordo com o interesse das autoridades chinesas. Uma delas ocorreu em fevereiro, quando a delegação do ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi dispensada da quarentena na visita que fez à sede da empresa chinesa Huawei, dentro das preparações para o leilão do 5G.
A suspensão ocorre num momento em que o Brasil vinha aumentando sua fatia nas importações de carne bovina da China. Segundo estudo do banco holandês Rabobank, ela cresceu para 38% no primeiro semestre deste ano, enquanto que em 2018 havia sido de 31%.
Em segundo lugar vem a Argentina, que pulou de 17% para 22% no mesmo período. Segundo o estudo, diante do baixo potencial de aumento da produção doméstica e o crescente consumo de carne bovina na China, a tendência é que nos próximos anos Brasil e Argentina continuem a ter um papel dominante nos volumes importados pelo país asiático.
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Para fontes diplomáticas, não há razão neste caso específico para supor que exista motivação de Pequim para prolongar a suspensão, seja política, já que a tensão nas relações bilaterais com o Brasil teria diminuído nos últimos meses, ou comercial, uma vez que a demanda continua forte no mercado doméstico chinês.
Não quer dizer que corre tudo às mil maravilhas, longe disso. Gente que acompanha de perto o agronegócio diz que os ataques do presidente Jair Bolsonaro à China causaram uma quebra de confiança que tem se refletido em grandes dificuldades para os negociadores brasileiros.
Fonte: O Globo.